sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

IGREJA & PROSTITUIÇÃO: CINISMO AO CUBO



A exploração do sexo como atividade comercial, e em troca de pecúnia é antiga, talvez coincidindo com a socialização da raça humana, no conceito de civilização e na busca de uma perfeição a imagem de deus. No conceito de pessoas que desconhecem o assunto, ou mantiveram um contato superficial com o problema, inicialmente, levantar-se-á a certeza de que o mesmo é uma afronta à religião (ao cristianismo, em particular) e uma agressão extrema a evolução da humanidade, sob quaisquer parâmetros. Todavia, aclarada as dúvidas dos neófitos e desconhecedores da história da civilização, acalmado os ânimos, a exaltação e silenciado os anátemas dos doutores da Igreja Católica, além de curiosas interpretações dos seus teólogos, ver-se-á que essa Entidade não só fomentou o meretrício, como o planificou e o explorou em proveito próprio. Antes de qualquer coisa, este Autor deixa bem claro que não tenciona arremeter sobre os arroubos de fé, ou abismos insondáveis da ignorância total, de seguidores contritos e devotos a toda prova. Absolutamente não! Contudo, é chegado o tempo de se transmitir informações fidedignas às pessoas interessadas pela verdade, aos poucos estudiosos e pesquisadores que têm soberania de pensamento e que, desde o alto de suas inquietudes, saberão ler o conteúdo deste ensaio sem pestanejar, sem surtos histéricos ou grandes escândalos.

É perfeitamente concebível e explicável, que depois de séculos de mentiras e desgraças, depois de esperanças frustradas e terrores introjetados, depois de anos de conspiração contra a saúde mental das pessoas, a realidade caia sobre os beatos mais alienados como uma bomba. No entanto, é só respirar fundo, parar, reler o texto e raciocinar sem paixão, ou influências nefastas, que tudo voltará ao normal. Nessas alturas, talvez o leitor desperte de um sono letárgico e passe a ver e analisar as coisas, mais demoradamente, ouvindo a voz da razão, que tem clamado em vão, por seu lugar de origem. Afinal, não é possível mentir-se durante tanto tempo, uma vez que a omissão da verdade vai se tornando insustentável. No interior dessa obra, consta uma citação do Presidente Americano Abraham Lincoln, que além de providencial é proverbial, principalmente na abordagem presente. “Pode-se enganar alguns durante todo o tempo, pode-se enganar todos por algum tempo, mas não se pode enganar a todos durante todo o tempo”, uma vez que a omissão da verdade vai se tornando insustentável.

Retornando ao relato e retomando o fio da meada, essa afirmação dura (fomento, planejamento e exploração), todavia inequívoca está contida em registros históricos, de autenticidade comprovada, datados de quase ou mais de um milênio. Entretanto, e por incrível que pareça, esta denúncia de um cinismo e perversidade abissais não partiu do revanchismo de nenhum pesquisador suspeito, inimigo declarado da Igreja, de forma alguma (não)! Contudo, nasceu da pena isenta de João de Bonnefon, um talentoso escritor, católico praticante, cuja ortodoxia nunca foi posta em dúvida, por pessoas físicas ou jurídicas, de sua época e no futuro. Este reconhecido e laureado publicista cristão escreveu em “La Raison”, de agosto de 1908, confiramos:

"A prostituição regulamentada é uma instituição católica. Os papas, soberanos temporais, soberanos espirituais fomentaram praticamente o desenvolvimento legal da prostituição. O primeiro lupanar pontifical foi estabelecido por Bento IX. As senhoras (ou prostitutas; o grifo é deste Autor) deviam todos os dias assistir, muito cedo, a uma missa especial. Os clérigos, prelados e nobres não deviam ser recebidos a não ser que estivessem munidos de um indulto. A casa devia estar fechada na Semana Santa. A tarifa era modificada segundo as festas da Igreja, sendo mais elevadas nos dias santos. A senhora, depois de suas despesas todas pagas, devia dar um terço de seus lucros ao Esmoler Pontifício e outro terço ao Mordomo de Sua Santidade. O último terço era reservado à diretora, para as despesas de seu zelo".

         Essas informações, ou revelações de suma importância foram transmitidas por um insuspeito simpatizante do papado (João de Bonnefon), na primeira década do século XX, não merecendo nenhum desmentido, ou explicações por parte da Igreja. Na publicação do ensaio, “A Igreja e a Prostituição”, o professor C. Bernesi retroagiu o seu trabalho de pesquisa até o início do século X, ou o final do primeiro milênio da Era Comum/EC, contribuindo de maneira soberba no esclarecimento de um assunto, no mínimo polêmico, mas verdadeiro: 

O cardeal Barônio, o grande analista da Igreja falando dos papas do século X, exprime-se assim, relativamente ao ano 912: “Mais horrível que nunca era então o aspecto da Igreja! As cortesãs mais degradadas e as mais poderosas dominavam Roma e a seu talante, distribuíam bispados ou demitiam os bispos: e, o que é mais horrível de dizer e de explicar, colocavam na cadeira de São Pedro, os seus amantes, falsos pontífices que só devem figurar no registro dos papas para efeitos cronológicos”.

Num assento datado do século XIII, referente à prostituição, o bispo de Mendes, Guilherme Durantis registrou a posteridade, que em Roma, as mulheres públicas (prostitutas) residiam próximas as igrejas e na vizinhança do palácio papal e da morada dos bispos. Complementando essa valiosa informação, acrescentou que os cortesãos do papa as visitavam com grande assiduidade. Nesses mesmos termos, o sacerdote jesuíta Xavier Bettinelli, comenta sobre a corte papal em Avinhão: “Era um concurso de belezas célebres que se ofereciam em espetáculo, muitas vezes por dinheiro”. O famoso poeta Petrarca, um contemporâneo deste período, que ficou conhecido na história, como o Cativeiro Babilônico da Igreja, contribuiu com algumas anedotas deprimentes, que exprimem o tamanho da gandaia em tal ambiente:

“Mesmo contando mais de setenta anos, numa certa noite, o papa Clemente VI acometido por forte excitação, manda um subalterno procurar uma bela rapariga, a fim de satisfazer-lhe o desejo carnal (nada com o mundo celeste). A prostituta contatada acorre, sem delongas, a residência indicada, pensando tratar-se de um jovem prelado, e a certeza de uma noite inolvidável e muito dinheiro na bolsa. Todavia, para sua grande surpresa, é introduzida no quarto do papa, e, ao invés de um mancebo depara-se com um homem velho, com a idade de ser seu avô. Olhando-o indignada, grita que foi enganada e não quer nada com o tal ancião. O leitor já imaginou, o quadro horripilante, representado por um idoso nu, de barriga grande, pelancas em abundância, corpo flácido, braços e pernas finas, veias saltadas e bafo de onça? O velho pontífice luta mas em vão! Finalmente retira-se para um gabinete contíguo: reveste-se com os paramentos pontificais, coloca a tiara e nesse aparato apresenta-se à rapariga, dizendo- lhe: Recusarás resistir ao Soberano Pontífice? Ela então cede. Pode contar-se por milhares as aventuras deste gênero”.

Continuando nesse mesmo diapasão, torna-se de bom alvitre levar ao conhecimento do leitor, as crônicas sobre os Concílios promovidos pela Igreja, uma vez que eles fornecem subsídios importantes, sobre o que representava a corte pontifical e o que foram as cortes dos altos dignitários eclesiásticos pertencentes à Entidade. A realização do Concílio de Constância determinou a ida para esta cidade, de nada menos, que 450 cortesãs (prostitutas), para satisfação (carnal) de uma grande leva de prelados, conforme o registro de um contemporâneo, do tal evento. O Papa Inocêncio IV, juntamente com sua corte deslocou-se para Leão, na França, aí realizando um Concílio-Geral, no ano 1251. Sobre as grandes repercussões desse encontro entre religiosos, na discussão de assuntos imanentes a sua Igreja, o monge beneditino e também historiador, Mateus Parigi, anotou uma verdadeira pérola, como testemunho para a história. Por ocasião do encerramento dos trabalhos, e antes de deixar a cidade, o papa encarregou um cardeal, no sentido de agradecer a população, o acolhimento que lhe fora proporcionado, a si e a sua corte. O incumbido por tão gratificante tarefa, depois de ter reunido as personagens da urbe fez-lhes um discurso inflamado, no qual acrescentou entre muitas coisas:

“Meus queridos amigos, entre outras vantagens que a vossa cidade recebeu com a permanência da corte pontifical, é preciso que não se deixe de mencionar o progresso dos bons costumes e da moralidade pública. Quando viemos aqui, havia três ou quatro casas habitadas por mulheres de má vida; agora deixamos apenas uma: estende-se da porta oriental à porta ocidental”. Bastante estranha e profética a fala desse sacerdote, todavia, ele falava de um assunto, sobre o qual tinha autoridade plena!

A Roma pontifical era uma cidade decadente e considerada por muitos, como um imenso prostíbulo. Um cidadão que a visitou, no século XVII, escreveu esse triste, mas autêntico registro pra posteridade: “Roma, vergonhosamente privada de navegação e de tráfico, seria a cidade mais miserável da Itália sem a bicharia do clero, dos judeus e das cortesãs que formam o conjunto da população”. Por ocasião do final do século XVIII, conforme uma estatística confiável havia na Cidade, 6.800 prostitutas, enquanto o número total de moradores, fatalmente não ultrapassava a casa dos 100.000 habitantes. A abertura de casas de tolerância não era uma atividade estranha à Igreja Católica, uma vez que o registro contido na obra de Cornélio Agripa de Netteshein, no seu livro De Incertudine et vanitate scientiarum, afirma, sem margem pra dúvidas, que o Papa Sixto IV (1471-1484) fundou em Roma três lupanares, onde as prostitutas eram obrigadas a pagar-lhe por cada semana, um júlio de ouro que lhe rendia por ano, vinte mil ducados.

O mesmo autor assegurou que o papa dava esses prostíbulos aos padres, como benefício, e que ouviu falar de um prelado romano detentor de dois benefícios, de uma paróquia de 20 ducados, de um priorado de 40 ducados e de três prostitutas num bordel que a cada semana lhe entregavam 20 júlios. O pontífice acima citado não foi uma exceção, uma vez que vários outros papas, também se envolveram com a prostituição, regulamentando-a, e colhendo dela benefícios para a Igreja, ou destinando-os para si. O papa Bento IX, citado pelo escritor católico João de Bonnefon, concedeu o monopólio da prostituição a uma penitente, de quem tinha sido confessor. Segundo o Breve Honestale, Bernesi relata as diretivas de Sua Santidade:

"...deu a essa dama o direito de reunir, sob o mesmo teto, raparigas sãs, mas já afeitas ao vício. A diretora era obrigada a mandar ouvir missa todas as manhãs, às suas pensionistas. A missa era celebrada por um padre idoso, na igreja de Santa Maria, um pouco antes da alvorada. As pensionistas da favorita de Bento IX eram obrigadas, quando saíam, a vestir-se de negro e a por um véu que dissimulavam a sua aparência. Na casa de tolerância podiam vestir-se com esmero, mas os seus vestidos deviam ser ajustados e bem abotoados. Num compartimento do rés-do-chão, a diretora podia oferecer aos clientes diversas pensionistas, ao mesmo tempo, mas sua presença era indispensável a fim de que não faltasse às leis da honestidade. Cada visitante só podia escolher uma mulher de cada vez. Os quartos deviam ser hermeticamente fechados, de maneira que nenhum ruído se ouvisse exteriormente e que as vozes não pudessem chegar até os habitantes das casas vizinhas. O mesmo visitante podia apresentar-se duas vezes por dia, mas para se isolar com a mesma mulher. Os clérigos, os prelados e os monsenhores só podiam ser recebidos quando trouxessem um Indulto. A casa tinha três categorias e a tarifa era proporcional às comodidades do quarto, à idade da mulher e ao grau de dignidade do santo do dia. Nas grandes solenidades, as tarifas deviam ser aumentadas, em proporções extraordinárias. Durante a Semana Santa a casa conservava-se encerrada e a fachada de luto. A lista dos visitantes era rigorosamente conservada. Um dos médicos do papa devia assegurar-se da saúde das mulheres com decência, mas com exatidão. Não podia haver lá mulher que fosse irmã de um cardeal. A igreja tirava rendimento desta casa. O regulamento era acompanhado de uma tarifa que, infelizmente, está omitida (mas, é óbvio) dos autos pontificais. O último parágrafo diz-nos que a mulher, depois de pagar suas despesas, devia dar um terço do seu ganho ao mordomo de Sua Santidade, enquanto que o último terço revertia para a diretora em recompensa de seu zelo".

Continuando nesse diapasão, onde a exploração da prostituição como atividade comercial, não pode ser desvinculada do papado, mesmo pelo teólogo mais ardente, o papa Júlio II, através de uma bula datada de 10 de janeiro de 1510, concedeu às prostitutas um bairro especial em Roma. Prosseguindo na mesma tecla, Leão X publicou três regulamentos, para salvaguardar a decência exterior e a boa ordem da confraria das prostitutas romanas. Finalmente, Clemente VII ocupou-se da questão do testamento das prostitutas. Agindo nesse sentido, obrigou-as a levar metade de seus bens, ao convento de Santa Maria da Penitência. Entretanto, e objetivando safar-se da perversidade desta doação obrigatória, as cortesãs puseram suas economias em usufruto. Completamente vigilante, o papa descobriu o subterfúgio e aplicou o Código Canônico 1398, contra os que consentissem em tal fruição.  

Por ocasião da venda de indulgências, pregadores eloqüentes e verdadeiros manipuladores da razão, como o frade dominicano João Tétzel era bastante específico, senão minucioso quando exortava os fiéis devotos e temerosos do fogo do inferno, a adquirir tamanha joça:

"...Vinde e eu vos darei cartas munidas de selos, pelas quais todos os vossos pecados vos serão perdoados, mesmos os que desejais cometer no futuro... As indulgências salvam não só os vivos, mas também os mortos...”

         Na pesquisa realizada sobre as indulgências vendidas pela Igreja Católica, este Autor desconfiou desse pecado a ser cometido no futuro. Achou que seu raciocínio era parcial, embora condizente com o pensamento de inúmeras pessoas. Quando iniciou o trabalho sobre a prostituição, a mão encaixou na luva, perfeitamente, pois como se diz no vulgo a Igreja faturava, lá e lô, ou dum lado e outro. Ora, meu deus do céu, como a coisa é simples, embora maquiavélica, confiramos:

“Conforme o relato de vários autores, o papado usufruía com o comércio da prostituição e também vendia indulgências, isto é, negociava pecado e perdão. Nesses termos, quando o cristão tencionava ir ao bordel, praticar o sexo pago, comprava também as indulgências; enfrentava a doença com o remédio na mão. Era simples, elementar; santa gandaia nossa de todos os dias!

Segundo os registros de João de Bonnefon, comentados pelo professor C. Bernesi, e a respeito das deliberações do papa Bento IX:

"...A igreja tirava rendimento desta casa. O regulamento era acompanhado de uma tarifa que, infelizmente, está omitida dos autos pontificais...” (Ora, mas é óbvio – o grifo é deste Autor).

         Em 1995, o Autor foi perseguido no trabalho por um Coordenador insano. Convidado a prestar serviços noutro órgão, peticionou a esse Chefe solicitando permissão. No entanto, decorrido longo tempo, ao invés do sim ou não, ficou atônito com um desabafo tolo (de duas páginas) nas laudas do processo. Sem pestanejar, também se utilizou do documento e respondeu-lhe em 4 laudas. O processo terminou na justiça, todavia, o Coordenador intolerante, subtraiu essas peças, pois, seguro...! Nos autos pontificais em apreço deve ter ocorrido o mesmo!  

O marechal de Roma (encarregado da polícia urbana) recebia o aluguel das casas de prazer, e isto durou até 1870! Em 1556, por ocasião de sua entrada em Roma, no comando do exército francês, o duque de Guise enforcou o marechal atuante, sob a alegativa de que os seus subordinados arrastavam soldados (castos, talvez!), para lugares maus e nefastos à saúde. Em meados do século XVI, o papado entrou em polvorosa, ante o risco de perder o monopólio da prostituição, uma vez que mancebos da nobreza romana levavam para suas próprias residências, as raparigas das casas públicas. Então, o papa interveio, estabelecendo que quem fizesse sair uma rapariga de uma casa pública seria punido: “com a amputação da mão direita ou com o exílio” conforme a qualidade do culpado. Nos cabarés atuais, os proprietários do negócio cobram alto pela saída de alguma pupila, antes do encerramento das atividades da casa. Por conta disso, o cliente interessado em levar alguma beldade para outro setor, revolta-se com a exploração do gerente ganancioso, maldizendo a sua postura. Todavia, a partir de agora, fica esclarecido para o leitor, que essa cultura foi introduzida por um papa, por um representante de Cristo no planeta, sim, senhor!

Num espaço de tempo relativamente curto, os lupanares autorizados pelos Breves e Indulgências multiplicaram-se, e no século XVIII, podiam ser contados vinte e dois prostíbulos criados e protegidos por essas autorizações. O mais requintado de todos eles era destinado, exclusivamente, aos nobres estrangeiros e aos membros do corpo diplomático. Este recinto de alto luxo, nada ficava a dever as modernas casas de prostituição, atualmente classificadas entre nós, como lojas de drinks, massagens e tudo o mais, operadas por massagistas que valorizam a profissão e, vez por outra, matam o véio! A filosofia de trabalho utilizada em locais tão seletos, o leitor que me desculpe o entusiasmo, mais obedecia fielmente a máxima: pra cavalo velho, o remédio é capim novo. Justificando essa particularidade estratégica, o plantel de prostitutas atuantes nas casas de lazer era composto de senhoritas oriundas da pequena burguesia, e, sobretudo, da burocracia pontifical. As mais habilidosas e fluentes eram encarregadas de fazer falar o cliente diplomata, revistando os seus pertences ao primeiro vacilo da vítima.

No dia 27 de janeiro de 1779, o secretário da embaixada da França foi despojado de toda a correspondência trocada entre o arcebispo de Paris e o embaixador do rei. Nesse episódio, a Santa Sé além de se apropriar indevidamente da documentação, teve também a audácia de se utilizar de alguns tópicos da correspondência. Quando, fatalmente o escândalo veio à tona, o papa foi forçado a restituir a correspondência, pedindo desculpas, a quem de direito.

Como a história é cíclica, e nada é invenção original, pois tudo se repete com uma inexorável regularidade, vez em quando a crônica policial informa essa ocorrência, principalmente no baixo meretrício, ou no chamado submundo. Vez por outra a prostituta induz o velho aposentado a tomar um banho, fugindo com o provento integral do pobre diabo. Em outras oportunidades, adiciona um sonífero (que pode até causar a morte do infeliz), no copo de cerveja do trouxa. Quando adormece, é depenado de tudo, às vezes ficando apenas de cueca, e ainda recebendo o nome do golpe, ou seja, “boa noite Cinderela”. Num assento contido na obra, O Papa e o Concílio. Vol. II. pág. 35, o primeiro papa João XXIII, que pontificou no ano 1410, cobrava imposto das prostitutas incorporando-as no orçamento.

A descoberta de toda essa lama podre causa uma grande aflição, principalmente nas pessoas de bem, justamente por se pensar que essa falta de respeito era coisa de meliantes sem procedência e sem futuro, e não de pessoas inteligentes, representantes de uma velha Entidade religiosa, inseridas no poder e nas benesses do fasto, todavia, moralmente desfiguradas.

A trajetória da prostituição na cidade de Roma chamava a atenção da sociedade da época, por vários aspectos, principalmente por essa cidade ser a sede do papado, bem como, pelo envolvimento ostensivo da Igreja nessa atividade degradante e criminosa. No entanto, essa situação promíscua era observada em toda a Europa, e também no baixo clero, deixando óbvio que a prostituição era uma indústria lucrativa e muitas pessoas estavam envolvidas no curso “normal” dessa profissão, que indubitavelmente gerava ganhos, para um sem número de cafetões, na medida em que jogava na sarjeta, uma porção de mulheres. No interior das ordens monásticas, a depravação não tinha limites, uma vez que os conventos religiosos eram os grandes lupanares, que balizavam a hipocrisia e representavam de forma autêntica os costumes de uma época. Atrás da segurança e tranqüilidade desses muros, ou nesses recintos, tidos como redutos da moralidade, os príncipes e nobres mantinham enclausuradas, as suas amantes, visitando-as naturalmente.

Entretanto, complementando essa informação inusitada e estranha, até simples fidalgos, escudeiros, eclesiásticos e mercadores iam também a esses locais escolher mulheres, para acompanhá-los por uns dias ou dormir com eles uma única noite. Nos últimos séculos, essa peregrinação aos conventos era feita, principalmente, por pretensos vates, que pretextando declamar loas, iam na realidade combinar com as freiras suas entrevistas. Obviamente existia “repressão legal” a este estado de coisas, e isso era feito de forma ostensiva.

Um registro oficial dessas práticas escandalosas, bem como da legislação criada em torno desses ilícitos foram acrescentados à história do período, através dos assentos de autoria do Dr. Asdrúbal de Agum, em Portugal. No interior do seu trabalho relatando essas ocorrências, esse autor cita quatro leis, criadas no espaço de 68 anos, ou no lapso compreendido entre os anos 1603 a 1671, e destinadas a coibir a devassidão nos conventos, através da aplicação da pena de morte. A última dessas leis foi expedida pelo rei Pedro II, e além de abrangente é muito expressiva, apesar das dificuldades do português utilizado:

“Faço saber etc., que por me ser presente o grau de excesso e demasia com que dalgum tempo a esta parte se continua, assi nesta Corte como no Reino com notório escândalo o trato e amizade ilícitas, com religiosas, violando uns sua clausura, com fim desonesto (de que há poucos anos chegarão a público alguns casos nos juízos eclesiásticos e seculares) e outros continuando nas grades dos conventos com trato e amizade indecentes etc.”.

Continuando nesse mesmo diapasão, torna-se de bom alvitre levar ao conhecimento do leitor, que a entrada em mosteiros para encontros amorosos com freiras, era punida com morte e uma multa de cem cruzados, a ser paga a Entidade. O rapto de freiras, quando realizado por homens do povo era justiçado com a punição acima citada, no entanto, se esse delito fosse praticado por um nobre, o castigo era o degredo para São Tomé e mais tarde para o Brasil. Introduzindo uma pequena pausa no relato, esse Autor deixa bem claro, que a criação de leis, em qualquer época, obedece às regras da conveniência, ou está intrinsecamente ligada à condição social da classe a ser punida. Pois bem, o pobre era condenado à morte, o rico ao degredo, posteriormente, a apelação da sentença através de advogados ladinos e o indulto. Sempre foi assim, e destarte continuará sendo, mesmo em detrimento do conjunto da sociedade e a certeza de que essa distinção fomenta a impunidade. Continuando com a análise da trajetória de punições, literalmente, na base de dois pesos e duas medidas, o grande corso e Imperador Francês, Napoleão Bonaparte, um grande conhecedor da arte da guerra e da fraqueza humana, formulou a citação seguinte, por sinal bastante significativa nesse resgate moral: “não há leis possíveis contra o dinheiro”.

As relações com freiras, mesmo ocorridas fora dos mosteiros eram punidas com açoites e a multa de cinqüenta cruzados para o convento, caso o delito fosse praticado por pessoas pobres, sem expressão na sociedade. Nessa mesma infração, os nobres eram condenados ao degredo na África, por dois anos. Mesmo debaixo de leis rígidas e repressão severa (pelo menos em tese e para os menos aquinhoados), os conventos continuaram como grandes lupanares da época. Sobre isso, o Dr. Tovar de Lemos, reportou-se magistralmente:

“A desmoralização do clero erguia por toda a parte clamores intensos, sendo principalmente nos claustros das ordens religiosas que se encontravam a maior relaxação”.

Outro pesquisador do assunto, o Sr. Coelho da Rocha, é bastante enfático, registrando para conhecimento da posteridade, que:

“...estava esquecida a obrigação dos votos e a disciplina das regras, pois nem ao menos eram respeitadas as leis do decoro”.

         Além de refúgios discretos para as amantes de príncipes e nobres, os conventos também funcionavam como asilos, abrigando filhas de mães solteiras. O astrônomo Galileu Galilei teve filhos e um relacionamento informal com uma mulher veneziana, por doze anos. Negando-se a desposar a companheira seguiu a tradição da época, internado as filhas nessas Entidades. O convento de Lorvão, em Portugal, na época em que era dirigido pela abadessa D. Filipa d’Eça, abrigava em suas dependências, 170 freiras, entre professoras, noviças e conversas, a maior parte nascidas na própria Instituição. Na obra de sua autoria, História do Portugal, o escritor Pinheiro Chagas registra um testemunho valioso, sobre a desmoralização religiosa no século XV:

“Do mosteiro do Recião era abadessa D. Clara Fernandes, filha do Conde de Marialva. Não sabia ler nem escrever e fora o pai que a colocara naquele convento. Dizem os documentos, que dormia carnalmente com quem lhe aprazia e em especial com Álvaro de Alvellos de quem tinha filhos. Outra sua companheira Maria Rodrigues, era pública e notoriamente amante do abade de Melcões de quem tinha também filhos”.

         Encerrando o assunto, torna-se obrigatório levar a público, no sentido de se proporcionar ao relato histórico, uma trajetória imparcial e honesta, uma referência ao conteúdo explosivo da correspondência atribuída a Mariana Alcoforado, um libelo contundente do erotismo conventual no século XVII, até nas províncias remotas. O requintado harém, que o rei João V mantinha no convento de Odivelas, é uma radiografia autêntica, embora grotesca, da devassidão monástica no transcorrer dos séculos. O aviltamento dos costumes foi tamanho, que virou sátira entre a plebe. O escritor Tovar de Lemos registra no trabalho de sua lavra: A prostituição, que existiam casas de entrevistas chamadas Mosteiros, cujas donas tinham título de Abadessa, aceitando recompensa dos fregueses do seu “convento”. Essas alcunhas eram um inegável deboche, a conduta das comunidades religiosas. AMÉM!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

EPÍLOGO: JESUS E O CRISTIANISMO


No encerramento da trilogia, este Autor objetiva deixar claro para o pesquisador domingueiro ou qualquer observador distanciado do assunto, que o tema não foi esgotado, muito pelo contrário; bastante coisa ainda será escrita sobre ele, obviamente por si e inúmeros outros estudiosos, uma vez que o descrédito da fraude é um desafio para o homem comprometido com o futuro. No entanto, ao invés de tecer algum tipo de comentário sobre o conteúdo da obra, em seu último volume torna-se de bom alvitre questionar juntamente com o leitor interessado, a realidade de alguns fatos do cotidiano, o tratamento sen-sacionalista dado aos mesmos, bem como a procedência duvidosa e oportunista de outros. Convenhamos: o que é real é antecipado em poucas palavras, justificado pelas evidências, constatado in loco ou testemunhado pelos registros históricos, sem a mínima margem para dúvidas.

Contrariando a tudo isso, o que é criado por vias obtusas e mentes enfermas (farsas/fraudes) caminha sob senões gritantes (apesar da redoma, dogmas e o policiamento dum sem número), desmentidos de última hora e a incerteza, pois a fragilidade e o estofo ou en-chimento de cada um deles é vexatório, senão risível. Nesses termos, se não fosse o fanatismo, o medo do inferno, a salvação da alma (salvar de quê, de quem e para quê?) e a alienação da massa, desde muito já teriam caído no descrédito, dado a inconsistência e dificuldade de ser encarado como coisa séria, através da lógica. Pois bem: transitando dentro desse espaço imenso, este Autor selecionou três fatos bem significativos, e que tem tudo a ver com a essência do presente trabalho, mormente quando o terror amedrontou uma sociedade nocauteada, na medida em que se preocupou apenas com dia de hoje, com a riqueza, o poder e as facilidades advindas das benesses do fasto. 

Daí não ser honesto a apologia a pobreza, e uma grande hipocrisia a pregação da existência das belezas do céu e das agruras do inferno, uma vez que isso tudo a gente vive no planeta Terra, nessa passagem rápida, mas, que é única, por séculos sem fim, amém! Na oportunidade, o leitor é convidado a conferir em três instantâneos simples, a realidade da vida:

"Em meados de 2008, este Autor ouviu falar que na Argentina, uma nação também governada por um líder populista (de saias) e bem avaliado nas pesquisas, a carga tributária é muito menor do que a nossa, e mesmo não contando com uma utopia eleiçoeira chamada Pré-Sal (surgida quando o clima do planeta reclama por fontes de energia limpa), o preço da gasolina é a metade do valor extorsivo, cobrado entre nós. Ouviu também dizer que lá, o povo gosta de ler, que nos cafés que são muitos por todo País, nas praças e parques em grande número e bastante arborizados e bem cuidados, jovens tomam sol “devorando” livros de todos os matizes. Por ocasião do meio-dia, esse batalhão é aumentado em centenas de pessoas, em face do final do almoço de estudantes secundaristas e universitários, servidores públicos e trabalhadores do comércio. Pois bem: aproveitando os custos de passagens e diárias em bons hotéis, que custam talvez um terço da realidade nativa, daí o brasileiro procurar o lazer no exterior, este Autor visitou Buenos Aires em duas oportunidades, e pode constatar in loco a veracidade, e, muito mais, do que lhe fora adiantado. Em primeiro lugar, a capital da Argentina parece ter sido encomendada a um único engenheiro e erguida totalmente numa mesma época. A altura dos prédios é padrão, o estilo arquitetônico é um só, onde a grandeza e suntuosidade dos mesmos transferem o espírito do turista pra grandes capitais da Europa, como Londres, Paris, Copenhague, Moscou ou Madri, deixando no ar uma forte dose de nostalgia. Lojas do Mc Donald, ou Kings Burger funcionam em prédios maravilhosos, com paredes trabalhadas, escadarias do mais puro mármore, vitrais antigos e bem conservados e teto semelhante ao de templos medievais, obviamente revitalizados por essas multinacionais onipotentes, onipresentes. Por falar nesses poderes arrasadores do deus cristão, o cantor mais importante e badalado do País, continua sendo Carlos Gardel, morto aos 45 anos, em 1935, num acidente aéreo, em Medelín, na Colômbia. Naquelas lojas de discos, que não misturam o seu produto com mais nada, o grande astro portenho continua cantando mais e muito melhor, apesar dos 76 anos de sua morte. Isso no Brasil é impossível, pois o nosso consumismo, ou canibalismo é simplesmente autofágico. A casa do cantor, no bairro Abasto é um museu bem freqüentado por turistas estrangeiros e platinos, com uma estátua no meio da rua, que de quebra, e em sua homenagem leva também seu nome. As livrarias de Buenos Aires são livrarias na acepção da palavra, pois só vendem livros. O total desses Estabelecimentos na cidade suplanta com folga o número de livrarias nativas, pois no Brasil quem vende material didático se auto-alcunha de livraria. Nesses termos, dentro de uma gama infinda de lápis, borracha, papel crepom, fitas, bonecas, sorvetes, cigarros e inúmeros suvenires, num cantinho obscuro, ou quase escondido, meia dúzia de livros, quase ou pouco nada influi na natureza do comércio. Na Argentina as livrarias são grandes e bem freqüentadas, existindo salas de leituras, sempre lotadas durante os sete dias da semana. Passeando nas limpas e grandes avenidas da Cidade, num domingo à tarde, sem nenhum exagero este Autor foi surpreendido com essa realidade, constatando que mesmo nesse dia e horário há fregueses, leitores e comércio. A El Ateneo é uma rede de livrarias, cuja matriz fica situada num antigo teatro, conservado nos seus mínimos detalhes. O salão de leitura desse autêntico paraíso fica no palco, margeado por colunas greco-romanas, tendo ao fundo uma cortina vermelha maravilhosa. As coxias, a ribalta e os camarotes continuam como dantes, com seu assoalho de madeira polida, lembrando nostalgicamente o final do século XIX, ou início do século XX, em grande estilo. Os teatros abundam pela Cidade, lembrando-se que na Av.Corrientes, local onde este Autor ficou hospedado, existem oito, funcionando à tarde e a noite. Num musical que enaltecia a Evita Perón (morta também, no início da década de 50), o Signatário pagou 140 pesos pra ficar na sétima fila, em plena quinta-feira. Em suas andanças pelo centro da Urbe chamou-lhe a atenção, um restaurante e mais dois estabelecimentos comerciais fechados e ostentando uma placa, na qual o proprietário informava que se encontrava de férias e o negócio somente voltaria a funcionar no final de 30 dias. Como a cultura dos capitalistas brazukas é de chocar em cima de uns míseros cobres, de deixar tudo para o outro dia, que sempre começa com uma morte (a morte do sol que se pôs no dia anterior), qual o empresário, ou comerciante brasileiro que em sã consciência teria a coragem de tudo abandonar e curtir 30 dias numa praia, ou mesmo desligar-se dos negócios por este período? Simplesmente inadmissível! Vez por outra e dentro da arquitetura tradicional da cidade destaca-se um grande banco, instalado num prédio moderno, no entanto, e na maioria das vezes, a construção antiga e em decadência deixou pra posteridade alguma parede conservada na fachada, ou uma sala interna intacta, como a atestar um apogeu que se foi, mas a Cidade respeita. Os cafés são incontáveis e a maioria altamente requintados e freqüentados, na maior parte das vezes por casais de velhos bem vestidos portando livros e jornais. Entre um gole de café, ou de vinho, não raro um turista observador se depara com uma jovem anciãde sapato altíssimo, echarpe e lendo um livro, ou jornal. Para um país onde a formação da mulher, quando muito lhe direciona a seção de telenovelas e horóscopos mantida por nossos jornais, este Autor ficou deveras maravilhado com essa dedicação, senão devoção a leitura. Por ocasião de sua participação na bienal do Recife/PE, o governo do Estado incentivou a presença dos professores conferindo-lhes um bônus de CEM REAIS (R$ 100,00) para aquisição de livros, a todo aquele que comparecesse ao evento. Lá dentro da bienal as livrarias expunham também com os livros, o material didático. Incrível! Os professores compareceram em massa e o bônus foi utilizado, todavia, na aquisição de material escolar para os filhos desses, educados na precariedade de nosso ensino, na perversidade das escolas públicas. Por falar nisso, o objetivo dos estabelecimentos brasileiros de ensino, mormente os particulares, pois os do governo nada somam é garantir aos pais dos alunos a chance de colocá-los nas Universidades. Somente! Algum talento para o esporte ou para as artes é sepultado através de um réquiem festivo e comungado por toda sociedade de consumo. É justamente por isso que a Argentina já foi agraciada, em 5 oportunidades com o Prêmio Nobel (duas vezes em medicina, uma em química e também duas vezes na categoria Nobel da Paz). O Brasil, muito pelo contrário, nunca teve nenhuma de suas universidades incluídas no índice das 100 melhores do mundo, listadas pela Times Higher Education. Na oportunidade torna-se de bom alvitre levar a público, que numa visita realizada a sala de aula do curso de medicina, na Universidade Federal da Paraíba/UFPB, em 1990, onde o filho deste Autor estava matriculado, o mesmo constatou que nenhum integrante da turma provinha da rede pública de ensino, e isso, até hoje, continua imutável. É justamente por isso que somos apenas, penta-campeões em futebol". Só!

Outro aspecto que chama a atenção do segmento pensante de uma sociedade explorada diuturnamente ao extremo é o endeusamento de pessoas ou situações, quando a realidade transita por um caminho, totalmente díspar daquele que é pintado pelo aparelhamento do sistema, através de um partido político de plantão, e no poder; confiramos:
        
"Por ocasião da morte recente do ex-vice-presidente brasileiro, José Alencar, o ex-presidente Lula que se encontrava em visita no exterior, não perdeu a oportunidade e chorou em público, obviamente frente às câmaras da mídia televisiva. Seqüenciando o périplo, inúmeros políticos enalteceram suas virtudes, inclusive a empolgante batalha contra um virulento sarcoma, um raro tipo de câncer localizado na região abdominal. Na realidade foram 5 anos de luta, 13 cirurgias, mais de uma dezena de internações hospitalares, atendimento pelos melhores especialistas e a disponibilização de recursos médicos extraordinários, aqui e lá fora. Obviamente, se fosse um cidadão pobre atendido pelo Sistema Único de Saúde/SUS, com toda certeza jamais teria atingido essa performance. Na oportunidade torna-se de bom alvitre lembrar, que ao contrário dos 79 anos de idade do defunto ilustre, uma sobrinha deste Autor, faleceu na flor da idade, ou no decurso de apenas 23 anos, também vitimada por um câncer no fígado, e após anos de espera, desilusão e desamparo, nas longas filas de transplantes do SUS. No ápice de sua via crucis, longe dos holofotes da mídia, dos especialistas e dos bajuladores de ofício chegou a figurar em 14º lugar da tal lista, entretanto, uma peregrinação dolorosa pela precária rede de saúde pública do País foi interrompida pela morte, pelo anonimato, pelo esquecimento. Por uma questão de lógica, o 15º colocado tomou seu lugar, todavia, se a morosidade ainda for a tônica no processo, com toda certeza, mais uma esperança foi frustrada e transformada em óbito, dentro das entranhas de um modelo apodrecido. Em nações como: Dinamarca, Noruega e Áustria, a carga tributária é maior do que no Brasil, entretanto, nesses países existe um retorno a altura, em termos de saúde, educação, lazer e segurança. Atualmente, no País, até os portadores de bons planos de saúde não são atendidos como deviam, enquanto na indigência, uma consulta ou a realização de um exame pode ser marcada no tempo futuro, ou a prazos a perder de vista, quando se sabe que as doenças, “normalmente” não esperam, pois tudo no corpo humano é regido pela dinâmica da vida. Daí, a facilidade desfrutada pelos poderosos incomodar os menos aquinhoados, principalmente quando as despesas são bancadas, com o dinheiro suado de um contribuinte espoliado; um eterno pagador de impostos e imposturas. No dia 07/04/2011, os médicos conveniados paralisaram todo e qualquer atendimento aos portadores de planos de saúde (particulares e caros), indistintamente, apoiados pelo sindicato e conselhos da categoria, em toda extensão do território nacional. Essa medida truculenta e antipática foi veiculada na mídia, com antecedência, e como o governo, conforme ficou provado não necessita dessas tralhas deploráveis (quando os integrantes do fasto adoecem), a massa que paga do próprio bolso, para ter aquilo que o Estado lhe nega ficou totalmente órfã por longas 24 horas. Dado a leniência do poder público, com toda certeza, novas paralisações serão emplacadas no decorrer do ano, com amplo sucesso e total apoio de quem não devia tolerar tal tipo de agressão ao povo esperançoso e enganado. Na revista Veja, edição 2211, de 06/04/2011, além duma frase impactante pronunciada pelo nobre morto, alguns reveses deploráveis de sua biografia são lembrados. Como não se trata de nada inédito, mas, fatos há muito esquecidos e arquivados, dentro da trajetória de um povo de memória curta, torna-se necessário lembrar, que assim como ele enfrentou com firmeza a dureza do sofrimento, da morte, pelejou com igual desenvoltura pelas facilidades da vida terrena; confiramos. Logo após o desencanto de boa parte do eleitorado do País, com a agressividade e cinismo do mensalão petista, o segmente pensante da sociedade decepcionou-se com a veiculação através da mídia isenta, de que em 2005, quando ele já era Vice-Presidente do Brasil, a Coteminas, sua empresa emprestou dinheiro do governo, a taxas favorecidas, o que não é justo, responsável e ético. Nessa época, ou por ocasião do escândalo da Ministra Benedita e seu café matinal na Argentina, com irmãos evangélicos e financiado com dinheiro público, além de minimizar o fato ofereceu-se pra pagar o débito, como se isso fosse mera operação de compra e venda, e não, uma questão moral. O apogeu da trajetória como homem poderoso, contudo, ficou por conta da recusa em reconhecer a filha nascida do relacionamento com uma enfermeira que ele insinuou ter conhecido quando era prostituta, na década de 50. Eu não tenho medo da morte, tenho medo da desonra. Nada em particular contra o homem e político, mas alguma coisa destoa no contexto acima".

Coroando uma série de esclarecimentos pertinentes aos leitores de boa vontade torna-se imperioso lembrar algumas piruetas ocorridas no âmbito da religião, através de declarações bobas, bem como a presença de padres católicos e pastores protestantes na coluna policial.

"Por ocasião de um encontro lá, o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings declarou (sem medo de ser feliz!), que a sociedade atual é pedófila, e que em outras categorias ou profissões (médicos, professores e empresários) há mais pedófilos do que no clero. Na visão deste Autor, esse religioso deve possuir uma estatística confiável, ou ser dotado de uma boa dose de faro divino, para afirmar com tanta certeza. Aleluia! Reforçando a declaração do colega, dom Angélico Bernardino, bispo de Blumenau trouxe a baila, o conceito de que tudo é relativo, pois há diferenças entre o ataque do pedófilo a uma criança, e essa mesma agressão a um adolescente. Arre diabos! É óbvio, que ele filosofa tão alheio assim, pois essa suposta vítima, com toda certeza não seria um filho seu, e a Igreja deve ser preservada, apesar disso tudo. Nessas alturas o homem comum e honesto tem de lembrar a máxima presunçosa de Gregório VII (1073-1085), na qual ele afirma que: “a Igreja romana nunca errou nem jamais errará, como a Escritura testifica”. Como esses homens constituem a Igreja (por eles fundada) fica assaz difícil entender-se, o que é certo ou errado! Na oportunidade este Autor ressalta a embriaguês de poder desses senhores, a falta de sintonia para com o mundo e a certeza de que a alienação, o fanatismo e o medo do inferno condenariam a humanidade à escuridão eterna. Ledo engano! Graças ao deus da tolerância, da ética e do bom senso. Continuando nesse mesmo diapasão torna-se necessário levar ao conhecimento do leitor que a Religião Católica Apostólica Ro-mana perdeu a primazia de doutrina oficial do País, em 1891, e a partir dessa data, as igrejas evangélicas clandestinas entraram na legalidade, todavia, sem nenhuma conotação de expansionismo imediatista, ou digno de nota. Entretanto, com o passar do tempo, o comércio da palavra (de um deus) foi crescendo, e somente o segmento neopentecostal, segundo informes confiáveis atingirá o número de 40 milhões de seguidores, na apuração do censo de 2010. Pois bem: com a chegada do rádio, em 1945, o tronco principal do movimento foi dividido em outras siglas, enquanto a mensagem passou a ser difundida também, através de programas radiofônicos pontuais. A partir de 1970, as lideranças pentecostais brasileiras foram influenciadas pelo tele-evangelis-mo americano de figuras como Jimmy Swaggart passando a investir também, nos programas televisivos. O apogeu desse movimento eclodiu em 1977, com o advento do ex-bancário Edir Macedo e a criação da Igreja Universal do Reino de Deus/IURD. Como a atividade religiosa no Brasil não é taxada, apesar das arrecadações astronômicas (não paga nenhum tipo de imposto), e como a matéria prima dessas Instituições (o perdão de deus e a salvação da alma... ...salvar de quê, de quem e para quê?) é gratuita, o negócio passou a ser visto com outros olhos por pessoas espertas, o mapa da mina foi franqueado a alguns sortudos. Nesse contexto, essas Igrejas passaram a multiplicar-se vertiginosamente, às vezes em decorrência de desentendimento entre dirigentes da célula original, ou dentro da máxima: “quanto mais cabras, mais cabritos”, ou mesmo: “se ele pode, por que não eu? Afinal, ficar com o poder ou a bolada toda é melhor que dividir com outros; essa a pura realidade. Nesses termos, e salvo um melhor juízo, a Igreja Internacional da Graça de Deus, pertencente ao missionário R.R.Soares, bem como, a Igreja Mundial do Perdão de Deus, uma propriedade do apóstolo Valdemiro Santiago de Oliveira nasceram dessas supostas rusgas de comadres. A razão social desses templos, às vezes montados em simples garagens, galpões, fábricas e grandes lojas desativadas segue uma linha chamativa, sendo bastante comum, a escolha de alguma denominação bem fácil de ser gravada na mente dos irmãos, aleluia! A partir daí, Igreja da Graça, da Benção, do Perdão, Universal, Internacional e um sem número de outras "marcas ou grife" são impostas à massa, sempre precedidas do substantivo deus, o qual funciona como uma espécie de franquia, como Mc Donald´s, Habib´s, Boticário ou Pharmapele. A verdade é essa e não adianta espernear! E assim, como num passe de magia, a instituição cresce, abrindo filiais em outros bairros, cidades, Estados, quando não países. A grande preocupação dos dirigentes desse negócio lucrativo é garantir a existência e o futuro desse império através da legalidade ou da eleição de pastores ou outros representantes da Igreja para as Câmaras Municipais, Câmaras Legislativas Estaduais, para o Congresso Nacional, e às vezes, em cargos no executivo, como prefeitos, governadores, ou na própria Presidência da República. Nas eleições gerais de 2002, um candidato evangélico conseguiu 18% dos votos do eleitorado nativo. Em 2006 foi impedido de concorrer, através de denúncias ou constatação de algumas falcatruas; convenhamos: seguro morreu de velho. Atualmente as duas maiores Igrejas evangélicas do País têm juntas, somente no Congresso Nacional, mais de 50 deputados federais, além de um senador eleito num dos maiores colégios eleitorais brasileiros. Como esse fluxo só tende a crescer, num futuro bem próximo os políticos populistas e de ofício, ou aderem à crença, ou perdem a boquinha. É sério! Assim como a compra de jornais, emissoras de rádios e repetidoras de TV é a condição sine qua nom para o crescimento do negócio, no final da legislação de 2010, mais de 100 emissoras de rádio foram rateadas entre proprietários de igrejas cristãs, na sua maioria ocupando o cargo de deputado federal ou senador e obviamente, cabos eleitorais de quem lhes facilitou de forma eminentemente republicana, essa autêntica galinha de ovos de ouro. O assunto inicialmente veiculado pela revista Veja, edição 2199, de 12/01/2011, consta também de um ensaio assaz oportuno: A Trajetória da Morte, inserido na página 259 do presente volume". 

Por último torna-se de bom alvitre falar-se um pouco das arrecadações portentosas e diárias, da cobrança insana do dízimo em envelopes diferenciados, da ostentação, da busca insana do poder e das benesses do fasto, em cima da massa sofrida, preocupada apenas com o saciar momentâneo da fome da barriga. Somente isso, apenas isso!

"Conforme veiculação na mídia, o bispo Edir Macedo, proprietário da Igreja Universal do Reino de Deus e mais 9 outros dirigentes da Entidade foram acusados de improbidade com o dízimo dos fiéis e o desvio de valores para paraísos fiscais, em proveito próprio. Obviamente a grita é grande, e enquanto os processos se arrastam de forma pachorrenta, numa justiça feita sob medida para os poderosos, todos são inocentes até prova em contrário. Amém! Enquanto isso, o também bispo Estevam Hernandes, dono da Igreja Renascer em Cristo foi preso em Miami/EUA (lá a pisadinha e outra), ao tentar entrar nesse país com 50 mil dólares escondidos numa Bíblia. Nota-se que seu respeito para com um livro de inspiração divina é tão grande, quanto uma nota de 3 reais, falsa. Esses assuntos constam do ensaio: Traquinagens de “pequena monta”, na página 79, do presente volume. Recentemente, a revista Isto É, edição nº 2151, de 02/02/2011, entre outras preciosidades divulgou a boa sorte do apóstolo Valdemiro Santiago de Oliveira, fundador e dono da Igreja Mundial do Perdão de Deus, confiramos. O religioso que já foi roceiro, pedreiro, viciado em drogas (ele se limita a dizer que consumia “álcool e substâncias sintéticas em forma de comprimidos), e é quase analfabeto, atualmente mora num condomínio de luxo, em Barueri/SP. Sem nenhum complexo ostenta na garagem 3 carros importados blindados, das marcas Land Rover, Toyota e Peugeot. É proprietário de um sítio em Santa Isabel, a 50 quilômetros de São Paulo, onde nas horas vagas desfruta de um pesqueiro, da piscina e do campo de futebol, onde disputa campeonatos entre times formados por membros de seu ministério. Como não poderia deixar de ser dispõe também de motoristas e seguranças particulares, que estão sempre à disposição. Sua igreja é ainda proprietária de helicópteros, um jato particular, no momento inaugurando um templo por semana, além de arcar mensalmente com uma despesa em torno de R$ 40 milhões. A sede da Entidade está localizada numa antiga fábrica, um galpão de 18 mil metros quadrados, no Brás, em São Paulo, comprada por R$ 60 milhões, em 60 parcelas de R$ 1 milhão. Na divulgação dos cultos pelo Brasil e o exterior, a igreja de Valdemiro paga R$ 6 milhões mensais ao grupo Bandeirantes, por 22 horas de programação diária, na Rede 21. Paga também R$ 101 mil por mês a Multichoice, uma empresa sul africana que distribui o sinal por vários países da África, além de R$ 59 mil mensais, por uma hora de programação diária na TV Soweto. A gestão desse império fica por conta do apóstolo, alguns especialistas no convencimento da massa recrutados na IURD e três deputados (dois federais e um estadual) eleitos no sudeste, em 2010; pois o respaldo político é crucial na trajetória da Empresa. Entretanto, a fortuna que movimenta tal monstrengo é extorquida do homem pobre e trouxa".

         Diante dessa fúria por dinheiro fica no ar a certeza de que esse patrimônio, arrancado a fórceps de esfomeados, jamais será dividido com a pobreza, conforme pregava o Cristo, o mito maior desse comércio indisfarçável e agressivo. Esse conselho não levado a sério pode ser verificado em Mt. 19:16-30 - “...Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o mancebo, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, pois possuía muitas propriedades...”. Nos ensaios: Um santo Evangelho segundo Branchu - volume II, pag. 462 e Homeopatia do Terror, na pag. 150 do presente volume há maiores subsídios sobre o assunto em apreço.

Como o leitor já deve ter notado, mas, nenhum segmento da doutrina cristã, em sua trajetória de 2 mil anos, dar a menor importância a esse ensinamento, pois o lema é arrecadar ao máximo, é exaurir a fonte, enquanto uma possível divisão do tesouro amealhado fica exclusivamente para depois da morte do seguidor incauto e alienado, possivelmente nas benesses do céu. Lérias! A partir daí, as fortunas vão surgindo de forma célere e os impérios desabrochando freneticamente, enquanto o pobre doador fanatizado, que propiciou o carro de luxo e a residência nobre, para o padre ou pastor, talvez não tenha um bicicleta velha, ou um teto decente onde possa dormir sem medo da enchente do córrego, do deslizamento da encosta e da violência de malfeitores de ofício. Ignorando a expressão: ô, oreiúdo (orelhudo), utilizada por Valdemiro, nas reprimendas aplicadas aos obreiros, cinegrafistas e músicos que o acompanham, por ocasião dos cultos e a ocorrência de milagres entre pessoas carentes, mas, o cramunhão (demônio) que ele sacode o barraco, em nome de um Deus poderoso, literalmente não existe (ambos). O diabo que atormenta a humanidade no seu dia-a-dia é o homem mau, oportunista, enganador, militante na política, na religião, um explorador da fé do povo incauto. Essa é a realidade do contexto vivido por boa parte da civilização humana, sem eufemismos, cosméticos e a maquiagem empregados por marketeiros de ofício, na divulgação de ocorrências agressivas a sanidade e ao bolso do cidadão comum, um eterno pagador de impostos e imposturas

Obviamente os autores ou escritores profissionais se utilizam de recursos lingüísticos para amenizar os fatos, trocando o termo mentira por inverdade, vadio por solerte, patifaria por tratantada, a fim de manter a paz com a crítica e os tentáculos pegajosos do sistema. Contrariando o status quo, este Autor descreve as coisas com elas acontecem ou foram gestadas, afinal, segundo o grande corso e Imperador Francês Napoleão Bonaparte: "todos são sensíveis e percentuais e, há patifes tão patifes que se comportam como pessoas honestas".


Nota: Esse EPÍLOGO faz parte do 3º volume - ANATOMIA DE UMA FARSA - 596 páginas, da trilogia JESUS E O CRISTIANISMO, a venda pelo email: josepereiragondim@hotmail.com