sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

IGREJA & PROSTITUIÇÃO: CINISMO AO CUBO



A exploração do sexo como atividade comercial, e em troca de pecúnia é antiga, talvez coincidindo com a socialização da raça humana, no conceito de civilização e na busca de uma perfeição a imagem de deus. No conceito de pessoas que desconhecem o assunto, ou mantiveram um contato superficial com o problema, inicialmente, levantar-se-á a certeza de que o mesmo é uma afronta à religião (ao cristianismo, em particular) e uma agressão extrema a evolução da humanidade, sob quaisquer parâmetros. Todavia, aclarada as dúvidas dos neófitos e desconhecedores da história da civilização, acalmado os ânimos, a exaltação e silenciado os anátemas dos doutores da Igreja Católica, além de curiosas interpretações dos seus teólogos, ver-se-á que essa Entidade não só fomentou o meretrício, como o planificou e o explorou em proveito próprio. Antes de qualquer coisa, este Autor deixa bem claro que não tenciona arremeter sobre os arroubos de fé, ou abismos insondáveis da ignorância total, de seguidores contritos e devotos a toda prova. Absolutamente não! Contudo, é chegado o tempo de se transmitir informações fidedignas às pessoas interessadas pela verdade, aos poucos estudiosos e pesquisadores que têm soberania de pensamento e que, desde o alto de suas inquietudes, saberão ler o conteúdo deste ensaio sem pestanejar, sem surtos histéricos ou grandes escândalos.

É perfeitamente concebível e explicável, que depois de séculos de mentiras e desgraças, depois de esperanças frustradas e terrores introjetados, depois de anos de conspiração contra a saúde mental das pessoas, a realidade caia sobre os beatos mais alienados como uma bomba. No entanto, é só respirar fundo, parar, reler o texto e raciocinar sem paixão, ou influências nefastas, que tudo voltará ao normal. Nessas alturas, talvez o leitor desperte de um sono letárgico e passe a ver e analisar as coisas, mais demoradamente, ouvindo a voz da razão, que tem clamado em vão, por seu lugar de origem. Afinal, não é possível mentir-se durante tanto tempo, uma vez que a omissão da verdade vai se tornando insustentável. No interior dessa obra, consta uma citação do Presidente Americano Abraham Lincoln, que além de providencial é proverbial, principalmente na abordagem presente. “Pode-se enganar alguns durante todo o tempo, pode-se enganar todos por algum tempo, mas não se pode enganar a todos durante todo o tempo”, uma vez que a omissão da verdade vai se tornando insustentável.

Retornando ao relato e retomando o fio da meada, essa afirmação dura (fomento, planejamento e exploração), todavia inequívoca está contida em registros históricos, de autenticidade comprovada, datados de quase ou mais de um milênio. Entretanto, e por incrível que pareça, esta denúncia de um cinismo e perversidade abissais não partiu do revanchismo de nenhum pesquisador suspeito, inimigo declarado da Igreja, de forma alguma (não)! Contudo, nasceu da pena isenta de João de Bonnefon, um talentoso escritor, católico praticante, cuja ortodoxia nunca foi posta em dúvida, por pessoas físicas ou jurídicas, de sua época e no futuro. Este reconhecido e laureado publicista cristão escreveu em “La Raison”, de agosto de 1908, confiramos:

"A prostituição regulamentada é uma instituição católica. Os papas, soberanos temporais, soberanos espirituais fomentaram praticamente o desenvolvimento legal da prostituição. O primeiro lupanar pontifical foi estabelecido por Bento IX. As senhoras (ou prostitutas; o grifo é deste Autor) deviam todos os dias assistir, muito cedo, a uma missa especial. Os clérigos, prelados e nobres não deviam ser recebidos a não ser que estivessem munidos de um indulto. A casa devia estar fechada na Semana Santa. A tarifa era modificada segundo as festas da Igreja, sendo mais elevadas nos dias santos. A senhora, depois de suas despesas todas pagas, devia dar um terço de seus lucros ao Esmoler Pontifício e outro terço ao Mordomo de Sua Santidade. O último terço era reservado à diretora, para as despesas de seu zelo".

         Essas informações, ou revelações de suma importância foram transmitidas por um insuspeito simpatizante do papado (João de Bonnefon), na primeira década do século XX, não merecendo nenhum desmentido, ou explicações por parte da Igreja. Na publicação do ensaio, “A Igreja e a Prostituição”, o professor C. Bernesi retroagiu o seu trabalho de pesquisa até o início do século X, ou o final do primeiro milênio da Era Comum/EC, contribuindo de maneira soberba no esclarecimento de um assunto, no mínimo polêmico, mas verdadeiro: 

O cardeal Barônio, o grande analista da Igreja falando dos papas do século X, exprime-se assim, relativamente ao ano 912: “Mais horrível que nunca era então o aspecto da Igreja! As cortesãs mais degradadas e as mais poderosas dominavam Roma e a seu talante, distribuíam bispados ou demitiam os bispos: e, o que é mais horrível de dizer e de explicar, colocavam na cadeira de São Pedro, os seus amantes, falsos pontífices que só devem figurar no registro dos papas para efeitos cronológicos”.

Num assento datado do século XIII, referente à prostituição, o bispo de Mendes, Guilherme Durantis registrou a posteridade, que em Roma, as mulheres públicas (prostitutas) residiam próximas as igrejas e na vizinhança do palácio papal e da morada dos bispos. Complementando essa valiosa informação, acrescentou que os cortesãos do papa as visitavam com grande assiduidade. Nesses mesmos termos, o sacerdote jesuíta Xavier Bettinelli, comenta sobre a corte papal em Avinhão: “Era um concurso de belezas célebres que se ofereciam em espetáculo, muitas vezes por dinheiro”. O famoso poeta Petrarca, um contemporâneo deste período, que ficou conhecido na história, como o Cativeiro Babilônico da Igreja, contribuiu com algumas anedotas deprimentes, que exprimem o tamanho da gandaia em tal ambiente:

“Mesmo contando mais de setenta anos, numa certa noite, o papa Clemente VI acometido por forte excitação, manda um subalterno procurar uma bela rapariga, a fim de satisfazer-lhe o desejo carnal (nada com o mundo celeste). A prostituta contatada acorre, sem delongas, a residência indicada, pensando tratar-se de um jovem prelado, e a certeza de uma noite inolvidável e muito dinheiro na bolsa. Todavia, para sua grande surpresa, é introduzida no quarto do papa, e, ao invés de um mancebo depara-se com um homem velho, com a idade de ser seu avô. Olhando-o indignada, grita que foi enganada e não quer nada com o tal ancião. O leitor já imaginou, o quadro horripilante, representado por um idoso nu, de barriga grande, pelancas em abundância, corpo flácido, braços e pernas finas, veias saltadas e bafo de onça? O velho pontífice luta mas em vão! Finalmente retira-se para um gabinete contíguo: reveste-se com os paramentos pontificais, coloca a tiara e nesse aparato apresenta-se à rapariga, dizendo- lhe: Recusarás resistir ao Soberano Pontífice? Ela então cede. Pode contar-se por milhares as aventuras deste gênero”.

Continuando nesse mesmo diapasão, torna-se de bom alvitre levar ao conhecimento do leitor, as crônicas sobre os Concílios promovidos pela Igreja, uma vez que eles fornecem subsídios importantes, sobre o que representava a corte pontifical e o que foram as cortes dos altos dignitários eclesiásticos pertencentes à Entidade. A realização do Concílio de Constância determinou a ida para esta cidade, de nada menos, que 450 cortesãs (prostitutas), para satisfação (carnal) de uma grande leva de prelados, conforme o registro de um contemporâneo, do tal evento. O Papa Inocêncio IV, juntamente com sua corte deslocou-se para Leão, na França, aí realizando um Concílio-Geral, no ano 1251. Sobre as grandes repercussões desse encontro entre religiosos, na discussão de assuntos imanentes a sua Igreja, o monge beneditino e também historiador, Mateus Parigi, anotou uma verdadeira pérola, como testemunho para a história. Por ocasião do encerramento dos trabalhos, e antes de deixar a cidade, o papa encarregou um cardeal, no sentido de agradecer a população, o acolhimento que lhe fora proporcionado, a si e a sua corte. O incumbido por tão gratificante tarefa, depois de ter reunido as personagens da urbe fez-lhes um discurso inflamado, no qual acrescentou entre muitas coisas:

“Meus queridos amigos, entre outras vantagens que a vossa cidade recebeu com a permanência da corte pontifical, é preciso que não se deixe de mencionar o progresso dos bons costumes e da moralidade pública. Quando viemos aqui, havia três ou quatro casas habitadas por mulheres de má vida; agora deixamos apenas uma: estende-se da porta oriental à porta ocidental”. Bastante estranha e profética a fala desse sacerdote, todavia, ele falava de um assunto, sobre o qual tinha autoridade plena!

A Roma pontifical era uma cidade decadente e considerada por muitos, como um imenso prostíbulo. Um cidadão que a visitou, no século XVII, escreveu esse triste, mas autêntico registro pra posteridade: “Roma, vergonhosamente privada de navegação e de tráfico, seria a cidade mais miserável da Itália sem a bicharia do clero, dos judeus e das cortesãs que formam o conjunto da população”. Por ocasião do final do século XVIII, conforme uma estatística confiável havia na Cidade, 6.800 prostitutas, enquanto o número total de moradores, fatalmente não ultrapassava a casa dos 100.000 habitantes. A abertura de casas de tolerância não era uma atividade estranha à Igreja Católica, uma vez que o registro contido na obra de Cornélio Agripa de Netteshein, no seu livro De Incertudine et vanitate scientiarum, afirma, sem margem pra dúvidas, que o Papa Sixto IV (1471-1484) fundou em Roma três lupanares, onde as prostitutas eram obrigadas a pagar-lhe por cada semana, um júlio de ouro que lhe rendia por ano, vinte mil ducados.

O mesmo autor assegurou que o papa dava esses prostíbulos aos padres, como benefício, e que ouviu falar de um prelado romano detentor de dois benefícios, de uma paróquia de 20 ducados, de um priorado de 40 ducados e de três prostitutas num bordel que a cada semana lhe entregavam 20 júlios. O pontífice acima citado não foi uma exceção, uma vez que vários outros papas, também se envolveram com a prostituição, regulamentando-a, e colhendo dela benefícios para a Igreja, ou destinando-os para si. O papa Bento IX, citado pelo escritor católico João de Bonnefon, concedeu o monopólio da prostituição a uma penitente, de quem tinha sido confessor. Segundo o Breve Honestale, Bernesi relata as diretivas de Sua Santidade:

"...deu a essa dama o direito de reunir, sob o mesmo teto, raparigas sãs, mas já afeitas ao vício. A diretora era obrigada a mandar ouvir missa todas as manhãs, às suas pensionistas. A missa era celebrada por um padre idoso, na igreja de Santa Maria, um pouco antes da alvorada. As pensionistas da favorita de Bento IX eram obrigadas, quando saíam, a vestir-se de negro e a por um véu que dissimulavam a sua aparência. Na casa de tolerância podiam vestir-se com esmero, mas os seus vestidos deviam ser ajustados e bem abotoados. Num compartimento do rés-do-chão, a diretora podia oferecer aos clientes diversas pensionistas, ao mesmo tempo, mas sua presença era indispensável a fim de que não faltasse às leis da honestidade. Cada visitante só podia escolher uma mulher de cada vez. Os quartos deviam ser hermeticamente fechados, de maneira que nenhum ruído se ouvisse exteriormente e que as vozes não pudessem chegar até os habitantes das casas vizinhas. O mesmo visitante podia apresentar-se duas vezes por dia, mas para se isolar com a mesma mulher. Os clérigos, os prelados e os monsenhores só podiam ser recebidos quando trouxessem um Indulto. A casa tinha três categorias e a tarifa era proporcional às comodidades do quarto, à idade da mulher e ao grau de dignidade do santo do dia. Nas grandes solenidades, as tarifas deviam ser aumentadas, em proporções extraordinárias. Durante a Semana Santa a casa conservava-se encerrada e a fachada de luto. A lista dos visitantes era rigorosamente conservada. Um dos médicos do papa devia assegurar-se da saúde das mulheres com decência, mas com exatidão. Não podia haver lá mulher que fosse irmã de um cardeal. A igreja tirava rendimento desta casa. O regulamento era acompanhado de uma tarifa que, infelizmente, está omitida (mas, é óbvio) dos autos pontificais. O último parágrafo diz-nos que a mulher, depois de pagar suas despesas, devia dar um terço do seu ganho ao mordomo de Sua Santidade, enquanto que o último terço revertia para a diretora em recompensa de seu zelo".

Continuando nesse diapasão, onde a exploração da prostituição como atividade comercial, não pode ser desvinculada do papado, mesmo pelo teólogo mais ardente, o papa Júlio II, através de uma bula datada de 10 de janeiro de 1510, concedeu às prostitutas um bairro especial em Roma. Prosseguindo na mesma tecla, Leão X publicou três regulamentos, para salvaguardar a decência exterior e a boa ordem da confraria das prostitutas romanas. Finalmente, Clemente VII ocupou-se da questão do testamento das prostitutas. Agindo nesse sentido, obrigou-as a levar metade de seus bens, ao convento de Santa Maria da Penitência. Entretanto, e objetivando safar-se da perversidade desta doação obrigatória, as cortesãs puseram suas economias em usufruto. Completamente vigilante, o papa descobriu o subterfúgio e aplicou o Código Canônico 1398, contra os que consentissem em tal fruição.  

Por ocasião da venda de indulgências, pregadores eloqüentes e verdadeiros manipuladores da razão, como o frade dominicano João Tétzel era bastante específico, senão minucioso quando exortava os fiéis devotos e temerosos do fogo do inferno, a adquirir tamanha joça:

"...Vinde e eu vos darei cartas munidas de selos, pelas quais todos os vossos pecados vos serão perdoados, mesmos os que desejais cometer no futuro... As indulgências salvam não só os vivos, mas também os mortos...”

         Na pesquisa realizada sobre as indulgências vendidas pela Igreja Católica, este Autor desconfiou desse pecado a ser cometido no futuro. Achou que seu raciocínio era parcial, embora condizente com o pensamento de inúmeras pessoas. Quando iniciou o trabalho sobre a prostituição, a mão encaixou na luva, perfeitamente, pois como se diz no vulgo a Igreja faturava, lá e lô, ou dum lado e outro. Ora, meu deus do céu, como a coisa é simples, embora maquiavélica, confiramos:

“Conforme o relato de vários autores, o papado usufruía com o comércio da prostituição e também vendia indulgências, isto é, negociava pecado e perdão. Nesses termos, quando o cristão tencionava ir ao bordel, praticar o sexo pago, comprava também as indulgências; enfrentava a doença com o remédio na mão. Era simples, elementar; santa gandaia nossa de todos os dias!

Segundo os registros de João de Bonnefon, comentados pelo professor C. Bernesi, e a respeito das deliberações do papa Bento IX:

"...A igreja tirava rendimento desta casa. O regulamento era acompanhado de uma tarifa que, infelizmente, está omitida dos autos pontificais...” (Ora, mas é óbvio – o grifo é deste Autor).

         Em 1995, o Autor foi perseguido no trabalho por um Coordenador insano. Convidado a prestar serviços noutro órgão, peticionou a esse Chefe solicitando permissão. No entanto, decorrido longo tempo, ao invés do sim ou não, ficou atônito com um desabafo tolo (de duas páginas) nas laudas do processo. Sem pestanejar, também se utilizou do documento e respondeu-lhe em 4 laudas. O processo terminou na justiça, todavia, o Coordenador intolerante, subtraiu essas peças, pois, seguro...! Nos autos pontificais em apreço deve ter ocorrido o mesmo!  

O marechal de Roma (encarregado da polícia urbana) recebia o aluguel das casas de prazer, e isto durou até 1870! Em 1556, por ocasião de sua entrada em Roma, no comando do exército francês, o duque de Guise enforcou o marechal atuante, sob a alegativa de que os seus subordinados arrastavam soldados (castos, talvez!), para lugares maus e nefastos à saúde. Em meados do século XVI, o papado entrou em polvorosa, ante o risco de perder o monopólio da prostituição, uma vez que mancebos da nobreza romana levavam para suas próprias residências, as raparigas das casas públicas. Então, o papa interveio, estabelecendo que quem fizesse sair uma rapariga de uma casa pública seria punido: “com a amputação da mão direita ou com o exílio” conforme a qualidade do culpado. Nos cabarés atuais, os proprietários do negócio cobram alto pela saída de alguma pupila, antes do encerramento das atividades da casa. Por conta disso, o cliente interessado em levar alguma beldade para outro setor, revolta-se com a exploração do gerente ganancioso, maldizendo a sua postura. Todavia, a partir de agora, fica esclarecido para o leitor, que essa cultura foi introduzida por um papa, por um representante de Cristo no planeta, sim, senhor!

Num espaço de tempo relativamente curto, os lupanares autorizados pelos Breves e Indulgências multiplicaram-se, e no século XVIII, podiam ser contados vinte e dois prostíbulos criados e protegidos por essas autorizações. O mais requintado de todos eles era destinado, exclusivamente, aos nobres estrangeiros e aos membros do corpo diplomático. Este recinto de alto luxo, nada ficava a dever as modernas casas de prostituição, atualmente classificadas entre nós, como lojas de drinks, massagens e tudo o mais, operadas por massagistas que valorizam a profissão e, vez por outra, matam o véio! A filosofia de trabalho utilizada em locais tão seletos, o leitor que me desculpe o entusiasmo, mais obedecia fielmente a máxima: pra cavalo velho, o remédio é capim novo. Justificando essa particularidade estratégica, o plantel de prostitutas atuantes nas casas de lazer era composto de senhoritas oriundas da pequena burguesia, e, sobretudo, da burocracia pontifical. As mais habilidosas e fluentes eram encarregadas de fazer falar o cliente diplomata, revistando os seus pertences ao primeiro vacilo da vítima.

No dia 27 de janeiro de 1779, o secretário da embaixada da França foi despojado de toda a correspondência trocada entre o arcebispo de Paris e o embaixador do rei. Nesse episódio, a Santa Sé além de se apropriar indevidamente da documentação, teve também a audácia de se utilizar de alguns tópicos da correspondência. Quando, fatalmente o escândalo veio à tona, o papa foi forçado a restituir a correspondência, pedindo desculpas, a quem de direito.

Como a história é cíclica, e nada é invenção original, pois tudo se repete com uma inexorável regularidade, vez em quando a crônica policial informa essa ocorrência, principalmente no baixo meretrício, ou no chamado submundo. Vez por outra a prostituta induz o velho aposentado a tomar um banho, fugindo com o provento integral do pobre diabo. Em outras oportunidades, adiciona um sonífero (que pode até causar a morte do infeliz), no copo de cerveja do trouxa. Quando adormece, é depenado de tudo, às vezes ficando apenas de cueca, e ainda recebendo o nome do golpe, ou seja, “boa noite Cinderela”. Num assento contido na obra, O Papa e o Concílio. Vol. II. pág. 35, o primeiro papa João XXIII, que pontificou no ano 1410, cobrava imposto das prostitutas incorporando-as no orçamento.

A descoberta de toda essa lama podre causa uma grande aflição, principalmente nas pessoas de bem, justamente por se pensar que essa falta de respeito era coisa de meliantes sem procedência e sem futuro, e não de pessoas inteligentes, representantes de uma velha Entidade religiosa, inseridas no poder e nas benesses do fasto, todavia, moralmente desfiguradas.

A trajetória da prostituição na cidade de Roma chamava a atenção da sociedade da época, por vários aspectos, principalmente por essa cidade ser a sede do papado, bem como, pelo envolvimento ostensivo da Igreja nessa atividade degradante e criminosa. No entanto, essa situação promíscua era observada em toda a Europa, e também no baixo clero, deixando óbvio que a prostituição era uma indústria lucrativa e muitas pessoas estavam envolvidas no curso “normal” dessa profissão, que indubitavelmente gerava ganhos, para um sem número de cafetões, na medida em que jogava na sarjeta, uma porção de mulheres. No interior das ordens monásticas, a depravação não tinha limites, uma vez que os conventos religiosos eram os grandes lupanares, que balizavam a hipocrisia e representavam de forma autêntica os costumes de uma época. Atrás da segurança e tranqüilidade desses muros, ou nesses recintos, tidos como redutos da moralidade, os príncipes e nobres mantinham enclausuradas, as suas amantes, visitando-as naturalmente.

Entretanto, complementando essa informação inusitada e estranha, até simples fidalgos, escudeiros, eclesiásticos e mercadores iam também a esses locais escolher mulheres, para acompanhá-los por uns dias ou dormir com eles uma única noite. Nos últimos séculos, essa peregrinação aos conventos era feita, principalmente, por pretensos vates, que pretextando declamar loas, iam na realidade combinar com as freiras suas entrevistas. Obviamente existia “repressão legal” a este estado de coisas, e isso era feito de forma ostensiva.

Um registro oficial dessas práticas escandalosas, bem como da legislação criada em torno desses ilícitos foram acrescentados à história do período, através dos assentos de autoria do Dr. Asdrúbal de Agum, em Portugal. No interior do seu trabalho relatando essas ocorrências, esse autor cita quatro leis, criadas no espaço de 68 anos, ou no lapso compreendido entre os anos 1603 a 1671, e destinadas a coibir a devassidão nos conventos, através da aplicação da pena de morte. A última dessas leis foi expedida pelo rei Pedro II, e além de abrangente é muito expressiva, apesar das dificuldades do português utilizado:

“Faço saber etc., que por me ser presente o grau de excesso e demasia com que dalgum tempo a esta parte se continua, assi nesta Corte como no Reino com notório escândalo o trato e amizade ilícitas, com religiosas, violando uns sua clausura, com fim desonesto (de que há poucos anos chegarão a público alguns casos nos juízos eclesiásticos e seculares) e outros continuando nas grades dos conventos com trato e amizade indecentes etc.”.

Continuando nesse mesmo diapasão, torna-se de bom alvitre levar ao conhecimento do leitor, que a entrada em mosteiros para encontros amorosos com freiras, era punida com morte e uma multa de cem cruzados, a ser paga a Entidade. O rapto de freiras, quando realizado por homens do povo era justiçado com a punição acima citada, no entanto, se esse delito fosse praticado por um nobre, o castigo era o degredo para São Tomé e mais tarde para o Brasil. Introduzindo uma pequena pausa no relato, esse Autor deixa bem claro, que a criação de leis, em qualquer época, obedece às regras da conveniência, ou está intrinsecamente ligada à condição social da classe a ser punida. Pois bem, o pobre era condenado à morte, o rico ao degredo, posteriormente, a apelação da sentença através de advogados ladinos e o indulto. Sempre foi assim, e destarte continuará sendo, mesmo em detrimento do conjunto da sociedade e a certeza de que essa distinção fomenta a impunidade. Continuando com a análise da trajetória de punições, literalmente, na base de dois pesos e duas medidas, o grande corso e Imperador Francês, Napoleão Bonaparte, um grande conhecedor da arte da guerra e da fraqueza humana, formulou a citação seguinte, por sinal bastante significativa nesse resgate moral: “não há leis possíveis contra o dinheiro”.

As relações com freiras, mesmo ocorridas fora dos mosteiros eram punidas com açoites e a multa de cinqüenta cruzados para o convento, caso o delito fosse praticado por pessoas pobres, sem expressão na sociedade. Nessa mesma infração, os nobres eram condenados ao degredo na África, por dois anos. Mesmo debaixo de leis rígidas e repressão severa (pelo menos em tese e para os menos aquinhoados), os conventos continuaram como grandes lupanares da época. Sobre isso, o Dr. Tovar de Lemos, reportou-se magistralmente:

“A desmoralização do clero erguia por toda a parte clamores intensos, sendo principalmente nos claustros das ordens religiosas que se encontravam a maior relaxação”.

Outro pesquisador do assunto, o Sr. Coelho da Rocha, é bastante enfático, registrando para conhecimento da posteridade, que:

“...estava esquecida a obrigação dos votos e a disciplina das regras, pois nem ao menos eram respeitadas as leis do decoro”.

         Além de refúgios discretos para as amantes de príncipes e nobres, os conventos também funcionavam como asilos, abrigando filhas de mães solteiras. O astrônomo Galileu Galilei teve filhos e um relacionamento informal com uma mulher veneziana, por doze anos. Negando-se a desposar a companheira seguiu a tradição da época, internado as filhas nessas Entidades. O convento de Lorvão, em Portugal, na época em que era dirigido pela abadessa D. Filipa d’Eça, abrigava em suas dependências, 170 freiras, entre professoras, noviças e conversas, a maior parte nascidas na própria Instituição. Na obra de sua autoria, História do Portugal, o escritor Pinheiro Chagas registra um testemunho valioso, sobre a desmoralização religiosa no século XV:

“Do mosteiro do Recião era abadessa D. Clara Fernandes, filha do Conde de Marialva. Não sabia ler nem escrever e fora o pai que a colocara naquele convento. Dizem os documentos, que dormia carnalmente com quem lhe aprazia e em especial com Álvaro de Alvellos de quem tinha filhos. Outra sua companheira Maria Rodrigues, era pública e notoriamente amante do abade de Melcões de quem tinha também filhos”.

         Encerrando o assunto, torna-se obrigatório levar a público, no sentido de se proporcionar ao relato histórico, uma trajetória imparcial e honesta, uma referência ao conteúdo explosivo da correspondência atribuída a Mariana Alcoforado, um libelo contundente do erotismo conventual no século XVII, até nas províncias remotas. O requintado harém, que o rei João V mantinha no convento de Odivelas, é uma radiografia autêntica, embora grotesca, da devassidão monástica no transcorrer dos séculos. O aviltamento dos costumes foi tamanho, que virou sátira entre a plebe. O escritor Tovar de Lemos registra no trabalho de sua lavra: A prostituição, que existiam casas de entrevistas chamadas Mosteiros, cujas donas tinham título de Abadessa, aceitando recompensa dos fregueses do seu “convento”. Essas alcunhas eram um inegável deboche, a conduta das comunidades religiosas. AMÉM!

8 comentários:

  1. Estou seguindo, mas preciso te dizer: a Igreja é uma coisa, a minha fé em Deus, o CriAdor, é outra; meu líder é Jesus Cristo, por tudo que ele representou para o seu povo.
    Imagina se tivéssemos um Cristo hoje, será que Tiradentes foi ...(?) É complicada a história!
    Tenho que ler com mais atenção todos os textos, e depois ...
    Posso te pedir para me seguir também?
    Se quiseres, é claro, e fica à vontade para dar uma opinião a teu modo. Minhas postagens são diversificadas, nunca postei sobre "igrejas e padres, não representam nada pra mim; já postei sobre Deus. Nossa! Causou polêmica!
    Um forte abraço, quis ser sincera, concordo, contigo em "muitas afirmações, especialmente quanto a moral dos padres...Há muita maledicência!

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    1. Prezada Mery,

      Desculpe a demora, mas, preparei um longo comentário sobre o assunto e tencionava mandá-lo por aqui e não consegui, pois ultrapassa os 4000 caracteres exigidos. Se lhe interessar providencie um email. Um abraço,

      José Pereira Gondim

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  2. Excelente matéria,principalmente para fanticos religiosos que como politicos corruptos são o cancer da sociedade. Creio que pouccos sabem das aberraçoes praticadas pela igreja romana, eu estudei um pouco de teologia e tbm sobre a historia do cristianismo.antigo. As pessoas confundem religião e religiosidade, isso gera confusoes estapafurdias e até guerras em nome do amor e gera ódio .Jung defendia a igreja catolica,pois com certeza é a terapia mais barata. Eu ñ posso dizer q tenho religião,mas nutro uma gratidão imensa a um padre que com sua.arte salvou minha vida.A fé é um excelente linitivo, se for praticada s/ fanatismo,e sem resignação. Já busquei mtas religioes mas não consegui me fixar em nenhuma, então me considero uma catolica ñ praticante, seguindo assim em honra ao meu amado pai que se foi tão cedo. Desculpe os erros de digitação, sou.astigmatica. Sueli Fernandes.

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    1. Prezada Sueli Fernandes,

      Desculpe a demora, mas, preparei um longo comentário sobre o assunto e tencionava mandá-lo por aqui e não consegui, pois ultrapassa os 4000 caracteres exigidos. Se lhe interessar providencie um email. Um abraço,

      José Pereira Gondim

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  3. Fantásticas as informações. Curiosa que sou e apreciadora da verdade, seja ela qual for, sempre busquei, frente às minhas percepções sobre certo e errado, por fatos apresentados na história que me levassem a entender meus questionamentos de maneira clara, pontual. Agradeço-lhe por esse post esclarecedor. Obrigada!

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    1. Prezada Leila Strapazzon,

      Desculpe a demora, mas, preparei um longo comentário sobre o assunto e tencionava mandá-lo por aqui e não consegui, pois ultrapassa os 4000 caracteres exigidos. Se lhe interessar providencie um email. Um abraço,

      José Pereira Gondim

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  4. Professor, estou escrevendo meu trabalho de conclusão de curso, em Direito, escrevo sobre prostituição, meu capítulo histórico está quase pronto, vejo a participação da igreja católica como "cereja do bolo", o Senhor teria os escritos de João de Bonnefon “La Raison”, de agosto de 1908 ou mesmo a pesquisa que cita do Professor C. Bernesi. Poderia me ajudar com algum material que usou para escrever o presente artigo?

    Ficarei agradecido.

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  5. Olá tenho interesse em ler seu comentário envie para meu email designdfn@gmail.com

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