quarta-feira, 10 de agosto de 2011

DEUS, FIDEL, JESUS, CHE GUEVARA E UM LULA QUALQUER!




Ernesto Guevara Lynch de la Sena, cultuado como símbolo da luta pela liberdade entre jovens dos cinco continentes é um exemplo típico da construção de uma farsa, em plena época do jato e das comunicações via satélite. Oriundo de uma família de esquerdistas bem aquinhoados e o primeiro dos cinco filhos do casal Ernesto Lynch e Célia de la Sena y Llosa, nasceu em 14 de maio de 1928, em Rosário, na Argentina, sofrendo ataques de asma por toda vida. Em 1947, "Ernestito", matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, talvez motivado por sua própria doença, desenvolvendo nesse início de curso um interesse especial pela hanseníase. Antes de ingressar numa profissão que nunca exerceu de fato, ou precisamente em 1952, na companhia do amigo Alberto Granado viajou pela América do Sul durante oito meses e 10 mil quilômetros, boa parte desse tempo e do trajeto, no "lombo" de uma motocicleta Norton 500, carinhosamente chamada "la poderosa". Terminada essa aventura, ou longa excursão, retorna à Argentina onde completa seus estudos, formando-se em medicina.

Seguindo um receituário totalmente díspar, políticos brasileiros oriundos de regiões pobres, diplomados em Universidades Públicas, integram um extenso rol de oportunistas que trocaram à aspereza de um consultório médico que nunca tiveram a coragem de enfrentar, pelas vantagens de um mandato eletivo, pelo fascínio do múnus e as benesses do poder. Vez por outra, após anos de convívio com a indigência de periferias e favelas, médicos, religiosos e outros profissionais espertalhões também permutam esse apostolado por um diploma de prefeito, uma cadeira de deputado, ou senador da República. Nesse momento, engatam marcha-ré num passado recente, mostrando a verdadeira carantonha, na medida em que exploram a boa fé do povo crédulo, cuspindo na cara de um "trampolim" esperançoso que lhe deu "casa, carro, dinheiro, poder, comida e roupa lavada".

Após a formatura em 1953, Guevara abandonou sua terra. Já militando na política, viajou pela Bolívia e Guatemala, dessa feita, acompanhado pelo novo amigo Ricardo Rojo. No país guatemalteco conheceu sua primeira esposa a peruana Hilda Gadea Acosta e Ñico Lopez, que, futuramente, o apresentaria aos irmãos Raúl e Fidel Castro. Em 1955 aprendeu técnicas de guerrilha no México e posteriormente desembarcou em Cuba, integrando juntamente com Fidel, o pequeno contingente de revolucionários e libertadores. Após dois anos de combates na Sierra Maestra, onde a frente por si liderada teve atuação desastrosa, ignorada por ser um dos favoritos do comandante em chefe, a revolução assumiu o poder em Havana. Todavia para surpresa de combatentes bem intencionados e do povo em geral, um golpe comunista foi deflagrado no interior do movimento, traindo os anseios do segmento pensante de uma rebelião enganosamente popular.

Na construção do novo governo, coube inicialmente a "Che", como era chamado, o comando da fortaleza de La Cabaña, um local destinado à retenção de presos políticos. Num curto período de seis meses o guerrilheiro transformou o recinto num campo de extermínio, fuzilando, na maioria das vezes, através de ritos sumários, nada menos que 200 prisioneiros, onde boa parte era constituída apenas de gente incômoda ao regime. Comumente, na implantação de ditaduras, governos reacionários e intolerantes, o dirigente maior evita o envolvimento como carrasco ou juiz, enganando a massa, na medida em que delega a subordinados, ou predadores desalmados, a execução de expurgos sangrentos, o lado sujo e mal cheiroso do movimento. Na criação do Estado judeu, a chacina de adultos e crianças nas aldeias de Deir Yasin em 1948 e Kafr Kasem em 1956, bem como a matança de palestinos em campos de refugiados, como Tantura, Kibia, Kissalim, Sabra, Chantila e outros, foram perpetradas com total anuência de figurões sionistas. No entanto, como sempre acontece, posteriormente alegou-se inocência e desconhecimento das carnificinas, confiados na lei do mais forte, numa justiça boazinha, distante e totalmente alheia ao sofrimento dos mais fracos. O massacre covarde de 250 pessoas em Deir Yasin seguiu na íntegra, o modelo de extermínio praticado pela Gestapo em Lídice, na Tchecoslováquia, em 1942, com uma diferença apenas. Nessa ação monstruosa, de perversidade abissal, os judeus, ao invés de vítimas foram matadores frios, os responsáveis por uma amostragem de genocídio em potencial, o que prova que todo "agredido é agressor".

Em Cuba Fidel aproveitou-se da violência de Guevara, nos fuzilamentos e perseguição sem tréguas aos adversários do regime. As atrocidades cometidas pelo líder rebelde deixam claro que o mesmo não passava de um assassino cruel e maníaco. A realidade para si era uma questão de "preto no branco", pois acordava diariamente com a perspectiva de matar ou morrer pela causa, conforme observou um dos seus biógrafos, o jornalista americano Jon Lee Anderson. Muitas vezes uma punição era executada antes de qualquer veredicto, através do próprio Guevara, num exercício macabro de "tiro ao alvo, ou a vítima". José Castaño, um oficial de inteligência do exército do ditador deposto Fulgêncio Batista, apesar de não haver contra si nenhuma acusação foi morto por Che, na sala de comando, quando aguardava, no mínimo por sua soltura. Inesperadamente enquanto dava voltas em torno de sua mesa e da cadeira onde o prisioneiro sentava, o Comandante sacou de uma pistola 45, atirando a queima-roupa na cabeça do infeliz. Friamente, no mais completo desprezo às leis e a vida, assassinou um homem, como se matasse uma mosca, ou se esmagasse uma barata, ou se dedetizasse um mosquito transmissor da dengue.

De outra feita, ao ser procurado por uma mãe desesperada que rogava pela vida de um filho de 15 anos, condenado à morte pelo fato de pichar muros com inscrições contra Fidel, fingiu interessar-se pela sorte do desditoso jovem. Ao ser informado de que o menino seria fuzilado em poucos dias, ordenou que a sentença fosse cumprida imediatamente, segundo ele e de forma cínica, cruel e debochada, para abreviar a angústia da espera por parte de uma pobre mãe sofredora e desamparada.

Transcorrida a fase em que se dedicou com garra no fuzilamento dos adversários (?) do regime, foi guindado à área de economia, aliás, um assunto do qual nada entendia. Na liderança do Banco Central, posteriormente no Ministério da Indústria, introduziu a nacionalização da atividade industrial, defendendo ardorosamente o controle estatal sobre as fábricas. Acreditando que as coisas podiam ser feitas, apenas, com o uso da força de vontade, desprezava a opinião dos técnicos, tratando os jovens cubanos com prepotência. A resposta adequada a tanta arrogância e inexperiência veio rápida, na medida em que a produção agrícola caía pela metade e a indústria açucareira, o principal produto de exportação cubano entrava em colapso. Menos de cinco anos depois da instalação do regime, o estado de penúria era uma realidade patente, enquanto a ilha passava a viver de esmolas remetidas pelo governo de Moscou. Divergindo da orientação governamental, no que tange ao desenvolvimento econômico interno e criticando acidamente a postura dos soviéticos, na promoção da revolução armada em países do 3º Mundo, nada mais restava ao guerrilheiro no país caribenho. O comando revolucionário, adotando à velha tática de se desfazer de pessoas incômodas designou-o em 1964, como delegado à Assembléia-Geral das Nações Unidas/ONU, um cargo meramente decorativo, que não influía, tão pouco acrescentava.

No ano seguinte, liderando um contingente de soldados cubanos foi enviado secretamente ao Congo, a fim de prestar apoio ao chefe tribal Laurent Kabila, numa guerra fratricida contra o coronel Mobutu. Enfraquecido pela diarréia, amargando o insucesso nas ações bélicas, propôs um pacto a seus comandados no sentido de lutarem até a morte. Isso, no entanto, foi rechaçado pela tropa que não via motivos para um sacrifício extremo numa guerra sem futuro, tão longe da pátria. Derrotado no campo de batalha foi ainda surpreendido pela divulgação prematura através do governo, em Havana, de uma carta onde abdicava à cidadania cubana, ao mesmo tempo em que se prontificava a levar a guerra revolucionária a outros países pobres. Que rasteira, hein Fidel? Salvo engano, algo parecido com isso ocorreu nesse lado dos trópicos, com o político generoso, cearense e paulista Ciro Gomes, por ocasião duma mudança de domicílio eleitoral e a perspectiva de disputar a Presidência da República. Aqui se não houve rasteira, também, foi erro de cálculo(?)!

Muito embora, oficialmente nada se comente nesse sentido, na visão desse Cronista fica claro que o ditador cubano cansara do pupilo e sua manutenção à distância do governo da ilha, um fato consumado. Sem ter para onde voltar, forçado pelas circunstâncias, Guevara escolheu a Bolívia como palco de nova aventura guerrilheira. No interior desse País lutaria em território inóspito, montanhoso, imerso na selva, e pasme; sem falar "bulhufas" do dialeto dos camponeses nativos. Sob todos os aspectos a campanha era uma missão suicida, um salto no escuro em direção ao nada. No entanto, por motivos óbvios, pelo menos para esse Autor, o governo cubano equipou e financiou integralmente a expedição, designando soldados de seu exército para compor o destacamento guerrilheiro, com o qual manteve contato, até que o desastre tornou-se uma questão de dias. Seria um “suicídio” encomendado?

Sem o apoio do povo, que tratava os revolucionários como salteadores, a expedição foi traída pelo Partido Comunista Boliviano (até tu Brutus, meu filho?), que alegou discordar da estratégia de Guevara. Juan Coronel Quiroga, na época um alto dirigente do PCB era amigo pessoal do Ministro da Justiça do País. Um fato muito estranho! Por tudo isso, no dia 8 de outubro de 1967, numa grota úmida, nos confins da selva amazônica, um combatente sujo e maltrapilho, apelava desesperadamente pela própria vida, num reconhecimento sem disfarce da derrota: "- Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto". A captura do revolucionário foi efetuada pelo exército boliviano e alguns elementos da CIA, exclusivamente designados pelos Estados Unidos da América, com a missão de auxiliar na caçada e identificação do líder rebelde.

Depois de preso Guevara foi conduzido a uma escola na aldeia de La Higuera, a 50 quilômetros de Vallegrande, onde passou a noite. No dia seguinte, por ordem do presidente da Bolívia, general René Barrientos, executado sem julgamento ou qualquer protocolo, uma vez que as autoridades bolivianas tinham pressa em promover a segurança no campo e à população em geral. A morte do guerrilheiro foi uma execução sumária perpetrada no espaço de 24 horas, um lapso de tempo relativamente curto, no entanto, mais longo que os processos onde o mesmo atuava como magistrado e verdugo, que não excediam de dez minutos. Às 13:10h do dia 09 de outubro de 1967, o tenente Mário Terán armado com uma carabina automática M2 fez nove disparos no corpo do prisioneiro. Obedecendo a ordens superiores atirou da barba para baixo, a fim de se justificar sua morte em combate. Antes da execução, Guevara redimiu-se do "tropeço" anterior e falou emocionado para um carrasco, que hesitava em acionar a arma: "Você vai matar um homem". As frases de Che foram relatadas por testemunhas e registradas pelo capitão Gary Prado Salmón, do exército boliviano, um dos responsáveis pela captura. A partir daí, a máquina de propaganda marxista trabalhou com sucesso, promovendo o esquecimento de um pedido de clemência, na medida em que perpetuava no tempo uma frase heróica e de um magnetismo imponderável. O desabafo de um ente derrotado, obrigado ao sacrifício vão, em nome de ideais confusos que talvez não valessem mais que a vida. Esse homem era Che Guevara, o qual, segundo o filósofo francês Jean-Paul Sartre, "o mais completo ser humano de nossa Era".

De acordo com fatos do conhecimento de pesquisadores, estudiosos do assunto e biógrafos, verifica-se que a exceção da revolução castrista, a trajetória do decantado líder rebelde foi uma amarga e trágica sucessão de desastres retumbantes. Independente de marketing e "montagens", o único homem que enfrentou a morte com determinação e coragem foi o filósofo grego Sócrates, forçado a beber cicuta por desacreditar os deuses criados pela religião. Os registros históricos e o "aval" de contemporâneos comprovam sobejamente esse fato ímpar. A morte de Che foi uma grande dádiva na estabilidade do regime cubano nos anos 60, ajudando a pacificar as relações do governo com a União Soviética e fornecendo um ícone maior e mais popular que a própria revolução. A partir daí, a rápida construção do mito foi patrocinada por vários fatores, independente da vontade dos criadores de farsas de plantão, ou de ofício.

Inicialmente, Guevara era bonito, bastante fotogênico e morreu relativamente novo, aos 39 anos, de forma violenta, um ingrediente de peso na concepção de uma lenda. Continuando nesse mesmo diapasão torna-se de bom alvitre lembrar que diversas personificações do sol, como Tammuz, Krishna e o próprio Jesus "morreram" jovens e violentamente, uma condição sine qua non na trajetória de todo avatar que se preze. O fim precoce o salvou de ser associado à agonia do comunismo e a decadência física e política de líderes vermelhos, como Fidel Castro, desmoralizado pela responsabilidade no isolamento e no atraso econômico do povo cubano. Por ocasião de sua morte era uma celebridade internacional e seu retrato clássico imortalizado pelo fotógrafo Alberto Korda, em 1960, ganhara divulgação mundial nas páginas da revista Paris Match, dois meses antes de sua execução. Outro fato importante na gênese do mito foi a ajuda involuntária, proporcionada por seus carcereiros e assassinos.
 
Objetivando a rápida divulgação de provas convincentes de que o famoso revolucionário morrera, os militares bolivianos lavaram-lhe o corpo, apararam e pentearam a barba e o cabelo, trocando ainda seus andrajos imundos por uma roupa limpa e decente. No entanto, o resultado de toda uma operação que visava à obtenção de fotos, onde o guerrilheiro fosse facilmente identificado surtiu um efeito totalmente extemporâneo. O cadáver depois de "maquiado" por seus algozes adquiriu uma espantosa semelhança com as pinturas barrocas do Cristo morto de expressão beatificada. Os moradores da localidade para onde o corpo foi transportado, ao adentrarem a lavanderia do hospital, autenticaram a criação do mito, na medida em que comentavam por "uma só boca", que o mesmo era uma cópia do Jesus cristão. Essa faceta nos "funerais" de Che demonstra com todas as letras como a história se repete.

Na gênese do mestre judaico, os velhos pais da doutrina, ou fundadores da Igreja primitiva, "piratearam" do deus egípcio Serapis, o cabelo grande e revolto, bem como a barba com que adornaram o rosto do mito maior da cristandade. Todavia, a mais forte contribuição nesse cadinho em ebulição constante veio do contexto histórico, uma vez que sua morte ocorreu justamente às vésperas dos grandes protestos em defesa dos direitos civis, da agitação dos movimentos estudantis e da revolução de costumes da contracultura, fortes turbulências que marcaram o ano 1968. Nesse sentido, Guevara era o personagem talhado à altura para ser símbolo de uma juventude de "determinação exacerbada e narcisista de conseguir tudo aqui e agora". Na divulgação de sua morte, o ditador cubano fez um comício gigante tendo como pano de fundo uma enorme reprodução do retrato do mito, que preenchia integralmente a fachada de um prédio público. Na esteira desse apelo de magnitude indescritível, nascia em estado de graça a saga de um pôster, ou da fotografia mais reproduzida de todos os tempos, aquela que enfeita o corpo, a roupa e o quarto de milhões de jovens pelo planeta.

O passo seguinte seria associar a trajetória do guerrilheiro à luta pela liberdade, transformando-o num livre pensador e modelo de justiça social. Nesse sentido os ideólogos do partido creditaram como produção de sua lavra uma frase famosa, criada pela propaganda esquerdista na época: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". Esse apelo afixado ao pôster, imediatamente "correu mundo" transformando o mito em gestação num fantástico defensor dos direitos humanos, imortalizando-o numa geração desiludida e carente de qualquer coisa. A morte violenta do líder rebelde, nos confins da selva boliviana mexera com os brios de uma juventude a espera de um salvador qualquer. Atendendo a apelo tão forte, outorgou-lhe a aura de mártir, transformando-o em herói e de "quebra", num filósofo. No entanto as frases de Che Guevara registradas, bem como sua postura, desbancam com larga antecedência essa pretensão míope, ou caolha. Seus pensamentos ou afirmações são condizentes com uma personalidade em conflito, totalmente incapaz de compreender a vida numa sociedade aberta e sempre disposto a eliminar a tiros os adversários, até aqueles que vestiam a mesma farda que ele; confira.

1)   "Estou na selva cubana, vivo e sedento de sangue" (carta à esposa, Hilda Gadea, janeiro/1957);
2)  "Fuzilamos e seguiremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta até a morte" (discurso na ONU, dezembro/1964);
3) "O ódio intransigente ao inimigo (...) converte (o combatente) em uma efetiva, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados têm de ser assim" (revista cubana Tricontinental, maio/1967).

De uma feita Guevara decidiu-se pela morte de dois guerrilheiros, acusados de informantes das tropas legalistas. Como não havia provas, os rebeldes presentes saíram em defesa dos colegas. Sem lhes dar ouvidos e na condição de "senhor da vida e da morte" de seus comandados, sentenciou de forma solene e distante: "Essa gente, como é colaboradora da ditadura, tem de ser castigada com a morte". Incontinenti, de forma fria e cruel executou os dois com tiros de pistola. Como registros históricos não podem ser apagados, ou ignorados dentro de um contexto responsável e imparcial, a saga do revolucionário Che fica bastante comprometida no que tange ao culto à violência.

Apesar de embalarem verdadeiras "nações" de admiradores por toda Terra e seguidores fiéis, ou fanáticos, as lendas de Cristo e Che, mesmo convergindo em alguns pontos, divergem também em aspectos significativos. Segundo o apelo contido na gênese do mito e inerente a cada um, ambos eram revolucionários, pois se insurgindo contra o status quo pregavam um mundo mais justo para "ovelhas" desgarradas, ou não. O líder rebelde exortava os oprimidos à luta armada, a conseguirem através do fogo de fuzis o seu lugar numa sociedade literalmente desigual. Nesse caso, a contenda desaguaria no poder, e esse, após consolidado agiria sobre o contexto, transformando-o e colocando-o à disposição dos excluídos. Enquanto isso o mestre judaico plagiava velhos filósofos gregos e outros avatares mais antigos, pregando o amor e várias utopias, muito embora em determinada ocasião, tenha exaltado o poder da força de uma espada, pois afinal de contas, "ninguém é santo ou de bronze". Aleluia irmão!

O guerrilheiro "cubano" de forma mais coerente e com os pés apoiados totalmente em solo firme, clamava por mudanças imediatas, pelo bem estar do corpo (comida e vestuário) e na vida (saúde, educação, trabalho e segurança) de cada um, obviamente na Terra, no momento presente. Em contrapartida, o Jesus cristão prometia a salvação da alma (não explicava de quê, de quem, ou para quê) e as belezas do céu. O viver pacífico e sem nada a fazer em volta do trono luxuoso de um deus seu pai, acompanhado de anjos, arcanjos, querubins e serafins, no entanto, por incrível que pareça, depois da morte. Lérias! Paciência "companheiro"! A maioria da humanidade anseia por mudança de vida, sim; no entanto, aqui e agora, pois a existência de ambientes celestes de premiação e castigo é "pura cascata, ou conversa pra boi dormir". "Céu e inferno são estados de espírito, existindo apenas na paz interna, ou no interior atribulado de cada um".

No tocante ao local e data de nascimento, laços familiares, infância, adolescência, contemporâneos, trajetória de vida e morte, Guevara tem registros em todos os meandros da história recente e a simpatia ou ojeriza de quase ou mais de uma dezena de biógrafos. Jesus, o mito maior da cristandade carece, no entanto, de historicidade, uma vez, que a exceção dos relatos dos próprios cristãos, não passa de um grande desconhecido de cronistas e historiadores de sua época, os quais nunca ouviram falar do mesmo. Como uma existência tão marcante e trágica passaria ao largo do conhecimento popular e ausente dos anais da história?

A vida de Cristo se assemelha ao "milagre" ocorrido em Fátima, obviamente ratificado pelo Vaticano. Nessa ocorrência híbrida, o sol baixou apenas na cova da Iria, uma vez que a meteorologia de países vizinhos a Portugal, não detectou um fato de tamanha envergadura. Ainda bem que tudo não passou de histeria e alienação, pois se algo assim ocorresse os planetas do sistema solar alterariam suas órbitas, fatalmente destruindo-se e arrasando a galáxia. A lenda do famoso líder rebelde foi naturalmente divulgada por várias levas de jovens e idealistas, senão utopistas que parecem desconhecer o emprego da força numa luta armada. Que teimam em ignorar a violência e que uma revolução é feita em cima da morte de civis e militares, homens e mulheres, adultos e crianças, culpados e inocentes. Onde e então estaria o endurecer sem perder a ternura?

A difusão da lenda cristã foi feita por pregadores estridentes e fanáticos, que ao longo de séculos procuraram transformar uma filosofia de vida numa criatura humana, acrescida de predicados maravilhosos e extemporâneos. Por último, torna-se interessante lembrar que os dois mitos ressuscitaram em grande estilo. Guevara continuou morto, todavia imortalizado como líder e defensor dos oprimidos. Enquanto isso, o Cristo retornou à vida e subiu aos céus, contrariando a química, biologia e física ou princípios que norteiam a lei da gravitação universal de Isaac Newton.

Na política nossa de todos os dias, existe um grande fosso entre a postura desse guerrilheiro intolerante e reacionário, idealista ultrapassado e utópico, apologista descarado da violência e a trajetória explicitamente fisiológica da maioria dos homens públicos nativos, vejamos. Enquanto aquele, posicionado atrás de uma arma de fogo, expunha a própria vida, lutando pela obtenção do poder a ser usado, pelo menos em tese, como elemento transformador da sociedade, isso está longe de acorrer no cenário brazuka. De maneira oposta a esse pragmatismo cultivado por Guevara, os políticos tupiniquins, na sua totalidade, escudam-se em acordos espúrios, escondem-se por traz de empréstimos "polpudos" e fraudulentos, favores solertes, compra de votos e o patrocínio de falcatruas inimagináveis. Obstinadamente, de forma insana, buscam o poder e as benesses do fasto, no intuito de locupletarem-se e beneficiar os grupos por si representados. Ávidos por vantagens e pecúnia, investem garbosamente sobre as burras do Erário Público, não tendo escrúpulos em subtrair também o "leite das crianças", surrupiar a merenda escolar, superfaturar a compra de ambulâncias e vender o apoio nas votações do Congresso, conforme ficou provado nas investigações do "mensalão".

Um senador da República é autor de uma frase cívica, pronunciada na frustrada tentativa de cassação do colega e Presidente da Casa, há bem pouco tempo, acusado entre outras coisas de ter uma amante financiada com dinheiro de empreiteiras solidárias. "- Tá rolando grana, tá rolando muito argumento". Esse calvário alimentou a mídia por alguns meses, constando da revista Veja em várias edições, principalmente em 19/09/07. Exemplos desse porte instrumentam a violência no País, difundindo entre meliantes, uma afirmação preocupante: "se ele pode, se ele faz, e nada lhe acontece,  por que não eu?"

Nas várias biografias de Guevara, não consta que ele visava o poder para enriquecimento próprio. Que era proprietário de rádios AM e FM, canais de Televisão, ou faculdades particulares, vendendo o saber ou conhecimento a preços extorsivos, na medida em que obstruía a qualificação e meritocracia no ensino público, dificultando ou inviabilizando as necessidades e aspirações dos menos favorecidos. Ao contrário de demagogos analfabetos, mentirosos e corruptos, não se tem noticias de que se aproveitou de cargos para adquirir fazendas e gado, além de apartamentos de luxo em cidades importantes. Não se comenta que algum familiar tenha usufruído de sua importância no regime e vendido por milhões de dólares empresas de fundo de quintal, a companhias telefônicas, ou praticado tráfico de influência em qualquer percentual. Também não há informes de que o mesmo mutilou-se pra conseguir aposentadoria especial, ou que se entrincheirou na intolerância de sindicatos, conjugando o verbo parasitar, em todos os tempos e modos.

Não há relatos de que o mito vociferasse que reescreveria a história do País, que criaria auditorias para analisar a dívida externa, ou comissões para investigar a privatização de estatais, bem como o destino do numerário oriundo da mesma. Há informes sim, no entanto, díspares dessa realidade solerte e que envergonha as pessoas com dignidade e vergonha na cara. Num registro contido em seu diário, consta o assassinato de Eutímio Guerra, um rebelde colaborador do exército legalista. "Acabei com o problema, dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 no lado direito do crânio, com o orifício de saída no lobo temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto (como médico Che era bastante detalhista nas investidas sobre o corpo humano, notadamente de suas vítimas). Seus bens agora me pertenciam". Esse butim de guerra representado pelos bens do morto, talvez se resumisse a um cachimbo de barro, uns óculos Ray-ban, uma caneta Parker, ou tralhas sem importância. Nunca, em momento algum, os 20% de propina ou a taxa de sucesso pago por empreiteiras ou outras maracutaias, capazes de fazer urubu pedir lenço, perversamente comuns no calvário nosso de todos os dias.

Pedro "Nega"; isso é verdade? É claro que não minha luz! Olha aí gente, eu não "falei" que o Pedro era o homem certo, no lugar certo! Quanto cinismo e intolerância, juntos! Nesse diálogo pútrido, um cidadão/eleitor, além de agredido na sua expectativa de mudança é taxado de bobo, arrastando-se trôpego num picadeiro corroído por tamanha miséria. Conforme o leitor pressente, mais Pedro e seu patrão, chefe ou nosso guia (dele) fazem parte de um balaio de sordidez e podridão bem próximo. Num raro momento de inspiração divina, o grande corso e Imperador Francês Napoleão Bonaparte definiu essa associação daninha conforme seu peso ou envergadura: "há patifes tão patifes que se comportam como pessoas honestas". E apôi (diz esse Autor)!

Deus é Fi(d)el, conforme os adesivos em carros de milhões de fiéis devotos, todavia, Jesus não é Che e a exceção do carisma tem pouca coisa em comum com esse líder pragmático e real.




NOTA: Esse ensaio faz parte da trilogia Jesus e o Cristianismo – Volume I – Política, Religião e História – 540 pgs., a venda pelo email – josepereiragondim@hotmail.com







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