terça-feira, 9 de agosto de 2011

PEDOFILIA NA IGREJA




            No transcorrer da última década do século que se foi, mediante a descoberta de mais um caso de abuso sexual contra menores por religiosos, um arcebispo católico, sediado no Nordeste do País, em entrevista concedida a mídia local, declarou que a pedofilia é muito antiga na Igreja Cristã. Inicialmente essa declaração fria, na época em que foi veiculada nos jornais de maior tiragem da Capital do Estado, deixou boquiaberto a este Autor, que registrou sua estupefação nos comentários que fez a respeito do assunto e sobre essa assertiva. Todavia, com o passar do tempo e a transformação dessa perversão em rotina, aliás, como sempre o foi, o Ensaísta reconhece que o sacerdote foi autêntico em situar tamanha mazela no seio da Entidade, afinal de contas, ainda não se pode tapar o sol com uma peneira, principalmente neste caso.

A pedofilia é um distúrbio de uma gravidade imensurável e de uma crueldade indefinível, pois enquanto inúmeras agressões põem um termo à vida, na maioria dos ataques ela poupa a vítima da morte imediata, entretanto, e perversamente, rouba a inocência, a infância e a trajetória psico-somática de uma criança, posteriormente transformando agredido em agressor. Ela é de uma letalidade assombrosa, pois na medida em que estropia a vítima, esconde o cadáver da justiça, convertendo vidas pujantes em espectros ambulantes, matando inapelavelmente os sonhos de pessoas indefesas.

Na Igreja Católica, o celibato é um dos responsáveis por sua ocorrência e incidência, pois um homem normal não pode castrar a libido e conviver prazerosamente com a carga de hormônios que a natureza colocou em seu organismo, pois naturalmente, sexo é vida. De uma forma lógica, o único encontro possível entre o homem e uma divindade, sob qualquer forma, dar-se através da libido, da cópula por prazer ou necessidade (perpetuação da espécie). Dificilmente, um ser humano equilibrado abdica ao sexo e vive normalmente, pois a grande maioria dos celibatários (que me desculpem os fanáticos dessa crença, ou impossibilidade) vive de aparências, até a casa cair!

Obviamente, algumas doenças crônico-degenerativas diminuem as taxas de hormônios do organismo humano, decretando precocemente a inibição do apetite sexual. Como a libido é o clímax da satisfação, não se pode fazer sexo transido de dor, ou prostrado na cama. A velhice também determina um arrefecimento do prazer, todavia não elimina lembranças. Afinal de contas, ninguém é santo ou de bronze. O resto...!

Onde quer que ocorra, a pedofilia é de uma crueldade sem tamanho, e de uma perversidade sem limites, causando à vítima prejuízos incalculáveis, por todo o restante de uma subvida, ou em outras palavras, num viver de supérstite de uma catástrofe atômica, ou coisa parecida. Sendo um desvio comportamental do ser humano, pode ocorrer em qualquer atividade, em todas as categorias profissionais, sem exceção, contudo, quando acontece no âmbito dos representantes de uma crença, na paz intermediada por capelas, monastérios e seminários, traveste-se do mais sórdido invólucro, revestindo lobos com pele de cordeiro.

A partir de certo tempo, principalmente na última metade do século XX e o início do milênio atual, a grande distância que separava um padre de seus párocos, o imenso fosso que isolava um sacerdote de fiéis seguidores prenhes duma fé inabalável, ou um ser divinamente inspirado e o vulgo foi irremediavelmente solapado por essa prática solerte. As famílias ultrajadas por essa miséria há milênios, finalmente reuniram coragem, ou o de quê necessitavam desde muito e denunciaram esse crime hediondo as autoridades eclesiásticas, sem nenhum sucesso; em face disso, às autoridades civis, à justiça comum.

Foi uma trajetória longa no decorrer do processo, pois, inicialmente os paroquianos tinham de romper o cordão umbilical criado em torno da doutrina e denunciar a agressão surda e perversa, de que foram vítimas. Após o 1º passo tinham de enfrentar o corporativismo doentio que protege a Entidade, comprovando junto às autoridades que por trás daquela aparente bondade angelical e por baixo do hábito de santo, residia um homem mau disfarçado em anjo, o que não era fácil.

Objetivando colocar o leitor na intimidade de uma ação lúgubre, torna-se de bom alvitre descrever a hipotética trajetória do crime, principalmente como ele ocorre, na maioria das vezes. A exposição da vítima, no caso da pedofilia e do estupro é algo totalmente díspar de um prejuízo material, de uma perda de bens, ou dinheiro. Quando um cidadão comparece ao órgão competente e denuncia que foi roubado, enganado, que sofreu um prejuízo em função disso ou daquilo, a coisa não é normal, todavia contornável, pois o bem pode ser recuperado e o prejuízo ressarcido. Quando alguém se queixa que foi agredido fisicamente, o problema toma outro rumo ou matiz, no entanto, o queixoso poderia ter revidado e apanhado de meia, isto é, batendo também. Se levou desvantagem, é que era mais fraco ou foi impossibilitado, amedrontado e vítima de alguma cilada. Tudo é possível! Nesses termos, a justiça procura reparar o erro, através da aplicação de algum castigo ao fanfarrão agressor, que pode, às vezes, ser penalizado no bolso, que é a punição mais justa, ou a única que mexe na auto-estima de desordeiros, agressores e valentões, pela vida.

Entretanto, a pedofilia e algo sofrido e constrangedor ao extremo, pois a vítima, num só crime, é agredida em duas oportunidades, senão vejamos. Inicialmente é passiva ou ativamente vitimada pela ação covarde do pedófilo, que lhe machuca o corpo e a alma. Posteriormente, comparece a presença de alguma autoridade civil ou militar, a fim de contar com detalhes, o que ocorreu consigo, às vezes, taxada de chantagista pelo criminoso. Independente do que a vítima ganha monetariamente, afora o valor que recebe a título de indenização, jamais expulsará da consciência o pesadelo de um momento traumático, e gravado a fogo em suas recordações.

Dissecando a ocorrência por outro ângulo, torna-se de bom alvitre levar ao conhecimento do leitor, os meandros pútridos da trajetória do ataque de um religioso pedófilo, e seus possíveis desdobramentos dentro duma via crucis que virou marca registrada ou rotina. A família ultrajada, quando percebe a miséria, entra em choque ou pânico, pois como entender que um representante de deus na terra é capaz de uma ação desse quilate. Esse sofrimento pode durar um período curto, ou anos, quando uma possível queixa, na maioria das vezes, termina voluntariamente arquivada pela vítima e seus familiares, dolorosamente.

Um sacerdote pedófilo, numa pequena cidade do interior do Maranhão, no Nordeste do Brasil, escreveu uma cartilha sobre esse desvio de comportamento, onde garantia que a vítima ideal para sua tara residia na faixa mais pobre da sociedade, fragilizada pela necessidade de pão na mesa e totalmente ignorante à maldade humana. Esse elemento foi preso juntamente com o manual, e provavelmente, deve continuar encarcerado, pois representa uma ameaça à sociedade.

Voltando à narrativa dum crime rotineiro, confira-o em detalhes: ultrajado e humilhado o chefe de uma prole agredida, na maioria das vezes se dirige a algum superior, por acaso existente no local, ou cidade mais próxima, pedindo ajuda, onde recebe a promessa frouxa, de que o caso será analisado. Nessas alturas algum colega do nobre conselheiro ou frio predador, dirige-se à casa da vítima, às vezes, negando o fato e acusando a todos de tramarem a queda duma Entidade santa, sob todos os aspectos.

A partir daí e mediante a demora, o caso entra em banho-maria, certamente caindo no esquecimento coletivo. Quando isso não ocorre, havendo coragem, testemunhas e uma prova consistente poderá transformar-se em queixa legal, seguindo os ritos demorados do dia-a-dia da justiça do País, principalmente em se tratado de um pobre e uma Entidade poderosíssima.

Objetivando resgatar a ocorrência, dos meandros de hipóteses e simulações, fazendo-a aterrissar no mundo real, este Autor fez uso de várias matérias constantes em seu banco de dados, valendo-se também da fantástica reportagem, O passado assombra o papa, contida na seção internacional da revista Veja, edição de 31/03/2010, confira. No início desse século, os casos de pedofilia na Igreja, literalmente por todo o planeta vieram à tona, em forma de inexorável cascata, apesar dos pesares.

No pontificado de João Paulo II, a enxurrada de casos de tal crime nos Estados Unidos envolvendo membros do clero virou manchete nos grandes jornais pelo mundo. Todavia, no intuito de minimizar um fato grave, no mínimo preocupante para qualquer administrador situado dentro de uma realidade lúcida, o papa declarou publicamente que esses problemas seriam resolvidos localmente, pela Igreja americana, e ponto final.

Essa demonstração patente de indiferença, distância e cinismo, para com o destino de inúmeras crianças e famílias ultrajadas, somente mudou de tratamento, em face à redução drástica nas doações dos fiéis, que naquele País chegam à cifra de 7 milhões de dólares, por ano. A redução da féria caiu feito bomba na decisão papal, e mediante o detalhe, o Sumo Pontífice voltou atrás na decisão, afinal, dinheiro é um argumento de peso.

A partir daí, chamou os cardeais à Roma, sendo formada uma comissão para o registro e levantamento das ocorrências, desde junho/2003. O resultado extra-oficial do trabalho foi veiculado na mídia e aponta números agressivos e estarrecedores, vejamos: “De 1950 até essa data, 11 mil crianças na faixa etária de 11 a 14 anos foram molestadas, por exatamente 4.440 padres”. Obviamente não constam do levantamento, inúmeros casos onde o medo e a vergonha impediram o registro do ataque covarde.

O papa atual, desde o início de seu episcopado tem sinalizado a disposição de combater a pedofilia na Igreja Católica, e de certa forma, já fez mais do que o seu antecessor. Atuando nesse sentido, em sua viagem aos Estados Unidos, em 2008, pediu desculpas às vítimas de ataques, cometidos por seus subalternos, naquele País. Prosseguindo ainda nesse diapasão ou cruzada, orientou os integrantes de sua igreja, no sentido de se criar condições, ou clima adequado para ouvirem-se as queixas das vítimas, e o encaminhamento das denúncias ao Vaticano.

No início do mês de março de 2010 remeteu um expediente aos católicos da Irlanda, onde pediu desculpas pelo sofrimento causado a milhares de pessoas, agredidas física e sexualmente por membros da Igreja, e relacionadas num extenso relatório. Em virtude desses fatos escabrosos, o bispo irlandês John Magee, acusado de acobertar alguns desses delitos, renunciou (por conta própria; talvez não será punido, e com toda certeza não foi pressionado pela Igreja nesta sua decisão) ante a gravidade do problema. Na Igreja, assim como na política, uma renúncia é providencial, pois esvazia o noticiário na mídia, satisfaz a sede de justiça de um punhado e livra a fachada da Entidade.

Todavia, serenado os ânimos ou assentada a poeira, o infrator volta sorrateiro ao ambiente do crime, desta feita posando de inocente. Quem acompanhou a violação do painel do Senado Federal, a renúncia e a volta em grande estilo do ex-governador de Brasília, José Roberto Arruda, sabe do que este Autor está falando. Em outros episódios revoltantes, o ministro afastado, como a Sra. Benedita da Silva, que chocou a muitos com um inusitado café com irmãos evangélicos na Argentina, viajando com o dinheiro público, finge que sai, ou migra do emprego principal para uma boquinha amiga, outro dengo longe de comentários maldosos. É sempre assim, política e religião se entrelaçam dessa forma, deslocando-se na esfera temporal praticamente imbricados, pois o corporativismo é roxo, causando inveja pela dedicação e afinco na defesa de vantagens. Essa estória de arrumar a casa e pura lorota!

Ao exemplo do garoto traquina, que se acostumou na vida a desculpar-se no seio da família, no círculo de amigos e professores de suas peraltices, em casa e na escola, a Igreja Católica tem se utilizado freqüentemente desse expediente, pedindo também desculpas, no entanto, pelas monstruosidades, que não foram poucas, cometidas por seus integrantes e representantes de Cristo na terra, no bojo de quase dezessete séculos de existência.

Atualmente, a revolta de um grande segmento de fiéis contritos reside nos indícios de que o próprio papa Bento XVI, quando atendia pelo nome de Joseph Ratzinger e era arcebispo na Alemanha, em mais de uma ocasião foi condescendente com padres pedófilos. O grande corso e Imperador Francês, Napoleão Bonaparte, um grande estrategista na arte da guerra, um perfeito conhecedor da ganância e fraqueza humana e um iluminado a respeito do oportunismo do homem intolerante aboletado no poder formulou entre muitas, duas máximas que merecem das pessoas de bem, uma reflexão profunda, e vale a pena conferir. “Nada funciona num sistema político em que as palavras não combinam com os fatos”, ou mesmo, “Há patifes tão patifes, que se comportam como pessoas honestas”.

Num bom sinal de que os tempos mudaram, uma imprensa livre através de profissionais isentos, tem contribuído com notícias fidedignas relatando o fato como ele ocorre e colocando ao alcance do cidadão comum, um informativo primoroso sobre o mundo em que vivemos, na maioria das vezes. Obviamente o exercício do poder é um cadinho na gestação de elementos reacionários, de oportunistas e deslumbrados pelo fasto, de indivíduos que fingem ignorar o curso natural das coisas e jamais desistem da criação de artifícios para a manutenção do mando, o silêncio dos contrários e a opressão do pensar.

O atual Programa dos Direitos Humanos é uma tentativa nesse sentido, e o próprio Presidente da República (na época) que se auto-afirma um paladino de carteirinha, da liberdade de expressão, vez em quando e ainda achando que a sociedade é trouxa, arrisca algum arroubo de pragmatismo barato, e do tipo: “é triste quando a pessoa tem dois olhos bons e não quer enxergar. Quando a pessoa tem direito de escrever a coisa certa e escreve a coisa errada”. De mentes abertas e identificadas com um hoje mais arejado, este Autor garimpou uma pérola assaz necessária no momento presente: “As ditaduras costumam cassar do jornalismo o direito de escrever certas coisas. Mas só os regimes totalitários se arvoram em decidir o que é certo ou errado. As ditaduras não têm vergonha de se impor pela violência. O totalitarismo, violento se preciso, quer se impor como senhor da virtude”. Convenhamos, é muita petulância!

Retomando o curso do relato ou retornando ao fio da meada, uma mídia isenta trouxe para consumo público, que uma arquidiocese da região da Bavária, na Alemanha, suspendeu o padre Peter Hullerman, por ter ignorado uma proibição, que o impedia de trabalhar com crianças. Essa interdição estava ligada a sua característica de notório molestador e uma biografia escandalosa e deprimente. Em 1979, esse sacerdote embriagou uma criança de 11 anos, obrigando-a a fazer sexo oral. Como acontece entre nós e por todo mundo cristão, lá na Alemanha a coisa foi também tratada a panos quentes, e a Igreja Católica, ao invés de expulsar o pedófilo de suas hostes, transferiu-o de paróquia, onde, depois de certo tempo o doente volta a atacar, pois não há outra vertente nesse desvio de comportamento.

Entretanto, no caso do religioso em apreço, seu remanejamento, no sentido de se abafar o escândalo, o encaminhou à arquidiocese de Munique, na época dirigida pelo papa atual. Recentemente, os grandes jornais na Alemanha e Estados Unidos veicularam em seus noticiários a existência de um documento interno que demonstra que o arcebispo Ratzinger, além de aprovar a transferência do sacerdote foi também cientificado a respeito de seu passado de misérias. Conforme este Autor adiantou em vários Ensaios, a trajetória do padre Hullerman continuou impávida, de paróquia em paróquia, quando em 1998, teve novo caso (oficial) de abuso de criança registrado, uma vez que nesse lapso de 19 anos, apenas ele e a Igreja sabem o que realmente aconteceu.

Continuando nessa autêntica via crucis de denúncias fundadas, cumplicidade, corporativismo e falta de respeito para com a fé alheia, na terceira semana do mês de março/2010, o famoso jornal americano, New York Times, veiculou notícias importantes e comprometedoras sobre a pedofilia na Igreja. Segundo esse informativo, entre os anos de 1996 e 1998, a Congregação para a Doutrina da Fé, um órgão do Vaticano comandado por Ratzinger, e responsável também pela apuração de desvios sexuais dos religiosos foi alertada a respeito do comportamento do padre Laurence Murphy. Nesses documentos alguns bispos americanos, chamavam a atenção do Órgão, solicitando providências para os crimes desse sacerdote, que durante 24 anos abusara 200 meninos surdos, no Estado de Wisconsin.

Um desses bispos remeteu duas cartas ao futuro papa e não obteve resposta. O padre Murphy também endereçou correspondência a Ratzinger, dizendo-se arrependido e pedindo clemência. Obviamente não obteve resposta (por escrito), todavia, melhor que isso, o cardeal Tarcisio Bertone, assistente do futuro papa, na Congregação, mandou suspender o processo interno que a arquidiocese havia iniciado nos Estados Unidos. Resumindo: Murphy morreu padre da silva, em 1998, no gozo total de suas prerrogativas. O advogado Mike Finegan, representante de cinco homens surdos que, na infância foram molestados por Murphy, e também responsável pela entrega da documentação à imprensa, declarou a revista Veja: “Isso prova que, para o Vaticano, defender os próprios interesses é mais importante do que mitigar o sofrimento das vítimas”. Na percepção deste Autor, essa é a realidade!

O envolvimento do papa Bento XVI, na proteção de padres pedófilos dificilmente dará em alguma coisa, que não seja em nada, justamente por uma simples questão de governabilidade, conforme a gente está cansada de presenciar, no cenário político nativo. É óbvio que esse episódio será tratado como questão de honra, entre teólogos, simpatizantes e seguidores da doutrina, que igualmente a uma grande torcida fanatizada, jamais admitirá a derrota de seu time, a desmoralização de seu líder ou craque, mesmo sendo ele delinqüente. No mundo do crime, culpados não são apenas os responsáveis pela ação, mas também aqueles que calam, os que ignoram, os que fingem não ver, e, sobretudo, os lenientes.

Quando alguém por motivos táticos, estratégicos, ou seja, lá o que for, acoberta um culpado e depois de certo tempo ele volta a atacar e causar sofrimento a pessoas indefesas, metade dessa culpa, indubitavelmente, é de quem ignorou sua periculosidade e lhe proporcionou a liberdade, quando o seu lugar (para o bem de todos) era na prisão. Se uma ocorrência desse naipe ocorre nas faixas mais baixas da sociedade, imediatamente, alguém dar nome aos bois, todavia, quando se trata de figurões do mundo político ou religioso, blindados por milhões ou bilhões de tietes, é impossível senão perigoso acusá-los, até em forma de metáfora. Não foi a toa que Gregório VII (1073-1085) vaticinou: a Igreja nunca errou nem jamais errará...”. Sendo a Igreja o papa, admitir o erro seria a mesma coisa que assinar uma sentença de morte, e ninguém é trouxa pra chegar a tanto.

Por ocasião do grande escândalo do mensalão, em 2005, deflagrado quando certo funcionário dos Correios foi filmado dissertando como funcionava a falcatrua, as bases do governo tremeram, pois o partido do Presidente da República, na época tinha trânsito livre em toda essa lama e fedentina. Todavia, a coisa foi tirada de letra, e afora uma expectativa de castigos futuros, todos estão em liberdade, valendo salientar que alguns continuam deputados da silva, pois renunciaram, mas voltaram em grande estilo, através das urnas. Tem sido assim o tempo todo!

Outros juram de pés juntos a injustiça de que foram vítimas, pois o mensalão nunca existiu, é uma questão folclórica comprovada e pra inglês ver, quando não, intriga da oposição ou manobra de forças ocultas. O próprio ex-presidente Lula declarou enfaticamente entre outras coisas, que o expediente de “caixa dois” praticado por seu partido é rotina. “O que o PT fez do ponto de vista eleitoral (caixa dois) é o que é feito no Brasil sistematicamente”. Nesse exato momento, um crime tipificado pela justiça do País deixou de sê-lo e ainda ganhou uma jurisprudência inusitada. “Os maus por si se destroem”, dizia a mãe deste Autor, na sua meninice! Será se isso é realidade ou possibilidade distante!

A época do Roma falou, ta falado, que nunca foi unanimidade entre o segmento pensante da sociedade, forçosamente já não encontra o respaldo de uma grande maioria, hoje em regime de total expectativa. Atualmente o governo alemão pressiona o Vaticano, no sentido da adoção de medidas transparentes, no que tange aos crime cometidos e acobertados pela batina, presentemente e no passado, afinal, uma grande maioria de padres acusados de pedofilia, continua no seio da Igreja, como se nada tivesse ocorrido. Isso, com toda certeza não é um bom exemplo, mormente quando o Cristo afirma nos Evangelhos, que o céu pertence às criancinhas (aos pequeninos)! O que os sacerdotes pedófilos têm a dizer sobre isso? Seria interessante que se manifestassem!

Desde 2001, o Vaticano criou um protocolo para tratar dos casos de abuso sexual, que em oito anos de funcionamento, isto é, até o início de 2010, havia registrado através da Congregação para a Doutrina da Fé, nada menos que três mil denúncias de ataques. Todavia, como o julgamento dos infratores é realizado pela própria Igreja, e o corporativismo deve ser um quesito chave, apenas 10% foram punidos com a expulsão da Entidade, e mais 10% saíram por iniciativa própria, enquanto 80% desse total, ou 2.400 padres, se nada sofreram até agora, possivelmente foram enquadrados como inocentes, aptos a continuarem desempenhando as funções clericais, até um dia, quando inexoravelmente atacarão. Não é preciso ser adivinho, ou dotado de onisciência, pois os pedófilos, tarados e outros portadores de desvios sexuais são vulcões aparentemente extintos; ficam adormecidos durante anos, ou séculos, contudo, certo dia despertam, ou atacam. Não há jeito!

Numa entrevista concedida a revista Veja, a respeito de um aborto necessário, autorizado pela justiça, bem como de excomunhão através da Igreja, o arcebispo de Olinda e Recife Dom José Cardoso Sobrinho foi enfático. Não existe pecado sem perdão para aqueles que se arrependem, inclusive para os que incorrem na excomunhão. A Igreja só aplica essa penalidade para levar a pessoa à conversão ou, se era católica antes, à nova conversão. Se a pessoa se converte, a Igreja tem poderes para absolvê-la”. Sobre o estupro e a pedofilia emitiu o seguinte conceito: “Eu não estou dizendo que o estupro e a pedofilia são coisas boas. Mas o aborto é muito mais grave e, por isso, a Igreja estipulou essa penalidade automática de excomunhão”.

Na visão deste Autor e independente duma fita métrica, ou fórmula matemática para a determinação de percentuais, qualquer crime contra a vida é grave e a pedofilia deveria constar também do Cânone 1.398, em função de sua perversidade e violência. Um pedófilo (em qualquer categoria, ou segmento da sociedade) é aquele monstro que corrói as entranhas de um ser vivo, mas deixa a casca aparentemente íntegra, pois o mal causado não se apaga com o tempo, é um estigma para toda vida. Mensurar o aborto como um crime mais grave, por isso ou aquilo, assim ou assado é uma questão de dialética ou jogo de palavras, e um posicionamento distante e tão frio quanto à própria pedofilia.

Atualmente, por ocasião de algumas manifestações da sociedade organizada, reivindicando segurança e o fim da violência, por exemplo, não raro, alguns religiosos engrossam o coro dos manifestantes, e, na condição de autoridades, quando procurados pela mídia exprimem a posição da Igreja, endossando o pleito da massa. Todavia, torna-se de bom alvitre lembrar que pedofilia é violência, mas como, em sã consciência, ninguém dar murro em ponta de faca, na ocorrência de movimentos ou passeatas específicas sobre esse crime, por certo guardarão distância, pois segundo o dito popular, "o gato ruço, do que usa disso cuida".

Obviamente, a trajetória da religião sempre orbitou em torno da política, e vez por outra, algum integrante mais “progressista” mergulha nessa ciência (uma velha companheira de caminhada), através de um mandato eletivo. Isso já aconteceu no passado, através dos cardeais Richillieux e Mazarino, na França, e muito outros, nos governos de vários países, todavia, atualmente, esse expediente tem se tornado constante. Como na política, os interesses partidários, as artimanhas em prol da governabilidade, as táticas e estratégias são totalmente díspares dos ditames emanados duma divindade celestial e onisciente, o profano se sobrepõe ao divino, inexoravelmente.

Numa das últimas edições da revista Veja, a foto de Luís Couto, um padre e deputado federal eleito pela Paraíba, ao lado de um terrorista italiano, condenado a prisão perpétua por envolvimento em homicídios, é uma afronta ao que prega a Igreja. Retornando ao tema da pedofilia, oficialmente, e segundo o celibato os padres não são pais, então, por que preocupar-se com os filhos dos outros? Se há algum tipo de cuidado, a pedofilia desmente. Entretanto, venerando uma opção de um mito, isto é, o celibato assumido por Jesus, uma filosofia transformada em ser vivente, eles deixaram de desfrutar o amor paternal, filial, daí essa insensibilidade com crianças, daí, os ataques. Qualquer tipo de agressão a vida é crime injustificável e merecedor de punição severa (?).

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