quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PEDOFILIA & CELIBATO




   O início do primeiro século do milênio foi marcado por grandes desastres e convulsões, algumas contra a natureza ou a rotineira agressão ao meio ambiente, e outros, exclusivamente, direcionados a raça humana, representados pela corrupção na política e a pedofilia na Igreja. Obviamente, essas mazelas não estão restritas a esses segmentos de peso na civilização terrestre, podendo ocorrer, também, em qualquer categoria do tecido social, entretanto, a escalada observada no deslocamento atual desses dois crimes, além de chocar as pessoas honestas, instalou o pânico no segmento pensante de uma sociedade em expectativa constante. Objetivando o fornecimento de mais subsídios sobre os assuntos citados acima, para consumo imediato de qualquer pesquisador domingueiro, ou observador distanciado dos fatos, este Autor achou por bem aprofundar um pouco as denúncias de pedofilia no clero, utilizando-se de um incomensurável acidente natural, como pano de fundo; confira.

O amanhecer do dia 14 de abril de 2010 poderia ser uma data comum em qualquer parte do mundo, totalmente distanciada do trabalho de marqueteiros de eleições compradas, do corporativismo político e da intolerância religiosa, todavia, trouxe consigo um acontecimento díspar, inscrevendo-o de imediato entre as grandes catástrofes naturais do planeta. Nesse dia fatídico, que contribuiu sobremaneira no agravamento do efeito estufa e modificações climáticas por toda Terra, o pequeno vulcão Eyjafjallajokull, localizado sob uma geleira na Islândia, adormecido desde dezembro de 1821, ou há quase 189 anos, sem nenhuma cerimônia despertou de chofre, tumultuando a vida de boa parte da população do velho continente. De repente, uma pequena ilha do norte da Europa, totalmente desconhecida nos países emergentes ou de terceiro mundo, uma vez não participar da "Copa do Mundo de Futebol", passou a ser notícia nos jornais tupiniquins, e em boa parte da mídia africana, asiática e no restante da América Latina. Todavia, essa erupção inesperada, apesar de mexer com a tranqüilidade das pessoas no perímetro e causar danos incalculáveis as grandes companhias aéreas mundiais, não foi suficiente para estancar as denúncias ou relegar pra segundo plano, o cataclismo causado pela descoberta de mais episódios de pedofilia, no âmbito da Igreja Católica Apostólica Romana. E nem poderia, vejamos!

No primeiro caso, trata-se de uma reação normal da natureza, seguramente agendada através das forças que regem o comportamento do planeta, parcialmente desconhecidas do ser humano, e causando danos materiais às comunidades, na maioria das vezes. O segundo fato, contudo, trata-se de uma doença incurável, da preferência sexual criminosa, causadora de seqüelas permanentes na vítima, inutilizando-a ou deixando-a mentalmente tetraplégica, por toda a vida. Na oportunidade, torna-se de bom alvitre para qualquer um, imaginar o choque causado a uma criança, pelo ataque de um pedófilo escondido numa batina, e do qual ela se aproximou no sentido de pedir ajuda, naquela confiança extrema, cultuada por seus pais e transmitida ao longo das gerações.

Nos grandes escândalos ocorridos no âmbito do poder, mormente em 2005, com o advento do mensalão petista, inúmeros políticos que se diziam éticos, e, obviamente envolvidos na falcatrua, até porque não existem santos e todos são sensíveis a percentuais, banalizaram o crime, outorgando uma jurisprudência pra corrupção. A expressão ou excrescência mais utilizada no período, por vestais manhosas, mas atoladas até as orelhas numa roubalheira indefinível, ainda era o bordão hipócrita e cínico utilizado no palanque: todo homem é inocente, até prova em contrário. Tudo lorota ou conversa pra boi dormir, pois as provas eram desqualificadas, as testemunhas amedrontadas (como um simples caseiro em Brasília), enquanto os poderosos eram blindados através de redomas ou cortinas de fumaça. Depois de tantas trapaças ou maracutaias (no linguajar de alguns experts no assunto) a perder de vista, a corrupção foi banalizada, e por incrível que pareça, o crime, no País, compensa.

Numa louvação aos bons costumes, a ética e a moral, totalmente ignoradas, este Autor relembra a postura de homens probos, numa época onde existiam problemas (sem nenhuma dúvida), mas as pessoas honestas, vez por outra, faziam-se ouvir de forma honrada e eloqüente. Por isso mesmo mergulhando nos arquivos do passado, resgatou-se do baú do tempo as invectivas de Cícero ao vil Catilina, registradas nos anais do Senado Romano, através de um linguajar nobre e escorreito. "Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura?". Nada mudou, é uma lástima! Os inúmeros “Catilinas” nativos são também insanos, e não têm o menor senso do ridículo. Afinal de contas, pra quê? Se o importante é a pecúnia na conta do “laranja” ou na segurança de Jersey, das Bahamas, de outro paraíso fiscal, ou do diabo a sete!
 
Por isso mesmo, logo após a descoberta de nova falcatrua e mediante o assédio da mídia, respondem com a solenidade de oráculos “made in China”, e adquiridos na Avenida Paulista, ou na Rua Vinte e Cinco de Março, locais nada estranhos para o ex-Secretário Nacional de Justiça lembrado por um suposto envolvimento com contrabandistas estrangeiros (Uma muambazinha não dói, revista Veja, 12/05/2010). Pois bem; assentada a poeira do primeiro impacto e cientes de que o sujo não pode falar do mal lavado profetizam de forma eloqüente: teremos de cortar na própria carne, ou vamos arrumar a moradia, ou mesmo, a loa; iremos fazer o dever de casa”. Tudo empulhação! A partir daí, o corporativismo entre em campo, com água e lenha e deita e rola, como no caso do emprego secreto no Senado Federal, onde o “culpado”, apesar dos pesares foi “promovido”; perdão, suspenso por 90 dias.

Por ocasião dos trabalhos da 48º Assembléia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/CNBB, e num autêntico exemplo de corporativismo a toda prova, o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, justificou o comportamento repulsivo de seus colegas de batina, profetizando dramaticamente que a sociedade atual é pedófila. Na tentativa insana de também arrumar a casa e fazer o dever da escola, dentro de uma empolgação sectária e retrógrada afirmou que entre os professores, médicos e empresários existem mais pedófilos do que no clero, como se essa miséria fosse uma questão de estatística, ou ranking de premiação. Meu deus do céu! Parece que esse sacerdote ainda se encontra na escuridão da Idade Média, em plena Inquisição religiosa. Mensurar a pedofilia, dom Dadeus, medir com uma régua a sua incidência nessa, ou naquela categoria, é uma postura tão fria e perversa quanto à própria doença em si. Quando Vossa Reverendíssima refletir melhor, vai concluir que perdeu uma grande oportunidade de ficar calado. Pedofilia, dom Dadeus é crime bárbaro onde quer que ocorra, mas hediondo quando chancelado por uma batina! Por último e na ocasião do cortar na carne, esse lídimo representante de Cristo na Terra foi autêntico, pois defendeu enfaticamente a hierarquia eclesiástica que não denuncia os pedófilos à Justiça.

Nesse momento, ele deve ter lembrado o padre Peter Hullermann, e a acolhida que foi dado ao mesmo na arquidiocese de Munique, na Alemanha, através de seu titular, o atual papa Bento XVI. Nota-se, que não é só na política que existe o dengo, o afago, ou a certeza de que uma mão lava outra, e ponto! Continuando no mesmo diapasão e “emendando o soneto”, uma vez que dom Dadeus evoca a tese do “bom selvagem”, do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), na qual a sociedade é culpada pelas ações criminosas de seus integrantes (por corrompê-los), outro emérito representante da Igreja, dom Angélico Bernardino, bispo de Blumenau, lembrou novamente desse pensador, trazendo a baila, o conceito de que tudo é relativo. Pois bem, nas suas declarações cavilosas, esse representante de Cristo na Terra, lembrou haver diferenças entre o ataque do pedófilo a uma criança, e essa mesma agressão a um adolescente. Uau! Na oportunidade este Autor se rende a voz da razão, pois como refutar a experiência de dois mil anos de pedofilia. Seria insensatez! Uma agressão a lógica! As declarações desses religiosos constam da matéria, “O pecado de dom Dadeus”, veiculada na revista Veja, edição de 12/05/2010.

Há bem pouco tempo, nesse mesmo semanário, foi a vez do arcebispo de Olinda e Recife dom José Cardoso Sobrinho referindo-se a estupro e pedofilia emitir o seguinte conceito: "Eu não estou dizendo que o estupro e a pedofilia são coisas boas. Mas o aborto é muito mais grave e, por isso, a Igreja estipulou essa penalidade automática de excomunhão. Na visão desse Autor e independente de balanças ou fórmulas matemáticas e algébricas, qualquer crime contra a vida é grave e a pedofilia no clero, indefensável, execrável. Um pedófilo (em qualquer categoria, ou segmento da sociedade) mesmo não tirando a vida física da vítima, converte a mesma num farrapo humano, roubando-lhe para sempre a infância, a identidade, a alegria e transformando-a num futuro agressor, em potencial. Mensurar o aborto como um crime mais grave, por isso ou aquilo, assim ou assado é simplesmente uma questão de dialética, jogo de palavras ou "enchimento de linguiça".

Como religião e política são tralhas também paridas numa mesma forja de cinismo, não seria pedir muito da primeira, a isenção sobre algum desvio de conduta na Entidade, pois como representantes de Cristo da terra, não podem falhar, aliás, o papa Gregório VII (1073-1085) levou a sério essa pretensão tola (...a Igreja romana nunca errou nem jamais errará, como a Escritura testifica). No caso, a Igreja são eles, os padres, os bispos ou todo o clero. Pois bem, como homossexualismo e pedofilia sempre existiram na Entidade, a exemplo do vulcão islandês Eyjafjallajokull, durante milênios “dormitaram” sob espessa geleira de perversidade, na medida em que as infrações mais salientes, depois de muita embromação eram “punidas” através da transferência do agressor, para outra paróquia, aonde, depois da “quarentena”, o lobo voltava a atacar as ovelhas desprotegidas.

A biografia do padre alemão Peter Hullerman é um exemplo estarrecedor dessa trajetória de misérias (revista Veja, edição de 31/03/2010, O passado assombra o papa). As notícias sobre abuso de crianças através de sacerdotes, a exemplo do cinturão de fogo, representado por uma cadeia de vulcões nas ilhas do Pacífico, e outros mais na Cordilheira dos Andes, atualmente estão vindo à tona por todo planeta. Obviamente, isso não se trata de uma “erupção” coletiva da degeneração mórbida causada pelo celibato numa classe. Não! Seria injusto pensar dessa forma!

O que ocorre nos dias de hoje, é bem simples e fácil de ser explicado: as vítimas cansaram de esperar pela justiça divina e apelaram às leis dos homens, e o resultado é essa enxurrada de denúncias que não tem fim, afinal, são milênios de crueldade, de falta de temor ao próprio deus da Igreja e de respeito a pequeninos inocentes. A pedofilia é um desvio de comportamento e uma doença incurável. A mazela tem muito a ver com o celibato e a castração abrupta da libido (o mundo de hormônios que se entrechocam no organismo, durante uma vida saudável), na medida em que o sacerdote era induzido através da Entidade, a acreditar que isso (o celibato) era um sinal de devoção que aproximava o clero de deus. Lérias! Justamente por isso, deve-se colocar um freio em deduções apressadas, amadurecendo algumas reflexões bastante sintomáticas sobre um assunto asqueroso e cruel, mas instigante ao extremo. Objetivando avaliá-lo detalhadamente, e sem sofismas; confira:

a)    Nem todo pedófilo é celibatário ou homossexual;
b)   Nem todo solteiro ou gay molesta crianças;
c) Na maioria dos casos, os abusadores de meninos não têm preferência por adultos do sexo masculino;

Na opinião deste Autor, o comportamento do padre pedófilo tem muito em comum com o celibato, e a imposição oportunista, mas tola, de que essa opção é o caminho que vai colocá-lo em contato com a divindade; vejamos. Neste caso ele necessita do sexo, como uma imposição hormonal, no entanto, a sua mente impede que ele procure mulheres, a fim de saciar o desejo pela libido. Na sua mente enferma, a satisfação sexual deve ser proporcionada por uma criança, pois ao contrário da mulher, que por fuxico divulgaria sua aventura com o “padre” (quebrando-lhe o voto de castidade e a oportunidade de chegar a deus), a criança por medo, forçosamente guarda-lhe o segredo.

Essa observação simples e lógica poderia ser aprofundada por psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, para o bem dos próprios doentes, uma trégua às vítimas e a paz da humanidade. Muitas vezes, o homem casado e bem relacionado socialmente, procura travestis ou prostitutas, comportando-se de forma passiva, uma vez ser homossexual enrustido ou encapado. Como esses “profissionais do sexo” não pertencem a sua faixa social, como não convivem nos locais por si freqüentados, esse segredo ou sua opção sexual, aparentemente e segundo o próprio está bem protegida, por muitos invernos e algumas borrascas. No binômio formado pelo padre pedófilo e uma criança, um mundo de motivos canalizados pelo medo, atormenta o pequenino, na medida em que deixa o agressor incólume e na tocaia para um novo ataque, àquela vítima ou a outra. Continuando nesse mesmo diapasão, torna-se de bom alvitre informar ao leitor que a maioria dos padres que abusam crianças, até o momento está protegida por um corporativismo roxo e insano, cultuado pela Igreja, quiçá, em maior escala que o respeito que alegam ter a Jesus, o grande mito da cristandade e carro chefe da doutrina. Essa a verdade!




NOTA: Esse ensaio, bem como o anterior (Pedofilia na Igreja) fazem parte da trilogia Jesus e o Cristianismo – Volume II – A Construção do Mito – 560 pgs., a venda pelo email – josepereiragondim@hotmail.com

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