segunda-feira, 12 de setembro de 2011

COLETIVISMO EM PRETO E BRANCO



Dentro do velho e batido conceito, no qual a política é definida como arte de dirigir os povos (ou mesmo “digeri-los”, por que não?), o dia 17/04/1962, marcou no calendário do tempo o 1º aniversário da fracassada invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, engendrada pela Administração do Presidente Kennedy. Nesse período de memória lastimável, e através de um sem número de artifícios e subterfúgios, a política do Tio Sam bateu de frente com a ditadura cubana, onde após uma série de equívocos e desencontros naufragou fragorosamente dentro de um fiasco sem tamanho. No entanto, e ao contrário do resultado de uma guerra, isso era apenas a súmula da primeira batalha, aquela que abriria uma perspectiva de mais outras, tão logo uma oportunidade se apresentasse, ou acontecesse. Pelo motivo acima mencionado a agressão frustrada continuou na agenda do governo ianque e uma prova disso foi o documento assinado no dia 08 de agosto de 1962, pelo chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, general Lyman Lemnitzer, em seu gabinete no Pentágono.

Esse expediente supersecreto era destinado ao Secretário de Defesa, Robert McNamara, um membro do Conselho de Relações Exteriores/CFR, e a parte mais importante do mesmo estava contida no Appendix to Enclosure A, enquanto a linha de assunto dessa seção dizia: Justificativa Para a Intervenção Militar dos EUA em Cuba. O conteúdo das páginas seguintes, integrado por oito laudas era composto exclusivamente por uma proposta detalhada sobre uma ação militar secreta chamada "Operação Mangusto". O propósito desta ação era viabilizar uma justificativa aceitável para a invasão americana a ilha de Cuba. O objetivo das disposições contidas no documento era convencer o governo cubano de que estava na iminência de ser atacado e, desse modo, provocá-lo a algum tipo de ação militar, que então poderia ser apontada como uma agressão intolerável contra os Estados Unidos da América/EUA.

A partir desse momento lúgubre, o coletivismo retirava triunfalmente do baú do tempo, um ingrediente importante e indispensável, além de utilizado em situações críticas, como acontecido nas últimas grandes conflagrações mundiais e abordados por este Autor nos ensaios sobre o afundamento do Lusitania e o ataque a Pearl Harbor. A primeira providência (ou estratégia) nesse autêntico jogo de cartas marcadas, mas bastante familiar e comentado pontualmente no interior deste trabalho era provocar o adversário a fazer o disparo inicial. Se a provocação falhasse, o segundo estágio era encenar ataques falsos contra a base americana em Guantánamo contra aviões comerciais de passageiros, atribuindo a autoria desses sinistros aos militares cubanos. A estratégia também propunha que um piloto de caça americano fingisse ter sido atacado por aviões MIG cubanos, imediatamente transmitindo pelo rádio que fora atingido e estava caindo.

Complementando esse cenário grotesco, mas necessário aos objetivos colimados, ele voaria até uma instalação secreta onde o prefixo de identificação do avião seria trocado, na medida em que o antigo (prefixo) ficaria realmente faltando do inventário da Força Aérea. Coroando um cenário tosco, mas imprescindível nesse tipo de operação, um submarino americano espalharia os destroços de um avião e um pára-quedas nas águas próximas a Cuba, onde seriam eventualmente localizados pelas equipes de busca e resgate. Além das investidas falsas acima mencionadas, alguns agentes secretos lançariam ataques terroristas reais contra civis em Miami e em Washington; com baixas verdadeiras (humanas e materiais). O objetivo do plano era fazer parecer que os EUA eram vítima de ataques não provocados, por um inimigo implacável. O resultado ou somatório desses artifícios prepararia a opinião pública para aceitar uma invasão total de Cuba como retaliação justificável.

Embora seja difícil acreditar nos detalhamentos do plano, como na possibilidade de crer que essa perfídia foi conduzida por altos oficiais militares americanos, resta aos pacifistas e pessoas de bem, despertarem do acesso sonambúlico, ou catatônico de que são vítimas, constatando que em política e religião as verdades são impostas desta forma. A propósito, a Operação Mangusto desde muito perdeu a classificação de documento secreto como resultado da Lei Liberdade de Informação, totalmente inviável em boa parte da América Latina, mormente no âmbito de republiquetas de bananas, ditaduras sindicalistas, cocaleiras, bolivarianas e líderes analfabetos e populistas com trajetórias escusas.

O documento é acessível ao público, de qualquer nacionalidade ou credo podendo ser consultado na íntegra, nos arquivos globalizados da National Archieves. Milagre, deus é pai! Enquanto alguns governos nanicos e corruptos vivem as turras com a imprensa, procurando amordaçar a informação, nos EUA existem leis para incentivá-las e garanti-las, pois democracia é isso também, e não apenas a ausência de inflação e uma série de bolsa disso e daquilo, pra saciar momentaneamente a fome da barriga. Visando aprofundar o assunto, o Autor evidencia mais alguns trechos do documento:

"Este plano... deve ser desenvolvido para enfocar todos os esforços em um objetivo final específico que fornecerá justificativa adequada para a intervenção militar americana. O plano habilitará uma lógica acumulação de incidentes a serem combinados com outros eventos aparentemente não relacionados para camuflar o objetivo final e criar a impressão necessária de precipitação e irresponsabilidade cubanas em uma larga escala, dirigida a outros países bem como aos Estados Unidos... A resultante desejada da execução deste plano seria colocar os EUA na aparente posição de sofrer agravos defensáveis do governo irresponsável e precipitado de Cuba e desenvolver uma imagem internacional de uma ameaça cubana à paz no hemisfério ocidental...

O expediente é rico em detalhes, e também em perversidade, todavia, realizado em nome do coletivismo e do deus da guerra:

1)   Como parece desejável usar provocação legítima como base para a intervenção militar em Cuba, um plano de fachada e engano... poderia ser executado como um esforço inicial para provocar as reações cubanas. Assédio mais ações enganosas para convencer os cubanos de invasão iminente seriam enfatizados...

2)   Uma série de incidentes bem coordenados serão planejados para ocorrer no interior e em torno de Guantánamo para dar a genuína aparência de serem realizados por forças cubanas hostis. Incidentes para estabelecer um ataque crível (não em ordem cronológica): Iniciar rumores (muitos). Usar emissoras de rádio clandestinas. Desembarcar cubanos amigos em uniforme "pelo outro lado da cerca" para encenar um ataque à base. Capturar sabotadores cubanos (amigos) dentro da base. Encenar agitações diante do portão principal da base (cubanos amigos). Explodir munições dentro da base; provocar incêndios. Atear fogo a aviões na base aérea (sabotagem). Fazer disparos de morteiros de fora para dentro da base. As instalações sofrerão algum dano. Capturar equipes de assalto que se aproximam pelo mar ou nas imediações de Guantánamo City. Capturar grupos de milícia que estejam atacando a base. Sabotar navios no porto; provocar grandes incêndios usando naftalina. Afundar navios perto da entrada do porto. Realizar funerais para falsas vítimas...

3)    Um grave incidente poderia ser organizado de diversas formas: Poderíamos explodir um navio dos EUA na Baía de Guantánamo e acusar Cuba. Poderíamos explodir um navio não tripulado em algum ponto nas águas territoriais cubanas... A presença de aviões ou navios cubanos meramente investigando o objetivo do navio poderia ser uma evidência bastante boa que o navio foi tomado sob ataque... Os EUA poderiam dar seguimento como uma operação de resgate aéreo/naval com a cobertura de caças americanos para "evacuar" os membros restantes de uma tripulação não existente. Listas de baixas nos jornais americanos causariam uma onda útil de indignação nacional. Poderíamos desenvolver uma campanha de terror do comunismo cubano na região de Miami, em outras cidades da Flórida e até em Washington. A campanha de terror poderia ser apontada para os refugiados cubanos que buscam refúgio nos Estados Unidos. Poderíamos afundar um barco cheio de cubanos a caminho da Flórida (real ou simulado). Poderíamos patrocinar tentativas de assassinato contra refugiados cubanos nos Estados Unidos até o ponto de causar ferimentos em casos a serem amplamente divulgados na imprensa... O uso de aviões do tipo MIG por pilotos americanos poderia prover provocação adicional. Assédio do espaço civil, ataques contra transporte marítimo e destruição de aviões militares não tripulados por aviões do tipo MIG seriam úteis como ações complementares. Um F-86 pintado apropriadamente convenceria os passageiros do avião comercial que eles viram um MIG cubano, especialmente se o piloto do transporte anunciasse esse fato...

4)   Na ação de número 8, a Operação Mangusto propunha um incidente destinado a convencer o mundo que MIGs cubanos tinham disparado contra um avião comercial civil que voava perto de Cuba, indo dos EUA para algum país na América do Sul. Seria um vôo utilizando um dos serviços aéreos na região de Miami que são operados secretamente pela CIA. Um avião na Base Aérea de Elgin seria pintado e numerado como uma réplica exata do avião comercial. O dublê seria substituído pelo original e carregado com passageiros que seriam agentes cuidadosamente selecionados pelo governo usando nomes falsos. O avião original seria convertido em um avião não tripulado e voaria por controle remoto. Ambos os aviões fariam um encontro no sul da Flórida.

5)   O documento continua: A partir do ponto de encontro o avião transportando passageiros desceria a uma altitude mínima e iria diretamente para um campo auxiliar na Base da Força Aérea de Elgin, onde seriam feitos preparativos para evacuar os passageiros e retornar a aeronave ao seu status original. Enquanto isso, o avião não tripulado continuaria a voar segundo o plano de vôo registrado. Quando estivesse sobrevoando Cuba transmitiria na freqüência internacional de socorro uma mensagem de aflição dizendo que estava sob ataque de caças MIG cubanos. A transmissão seria interrompida pela destruição da aeronave, o que seria feito por um sinal de rádio. Isso permitiria que as estações de rádio ICAO no hemisfério ocidental dissessem aos EUA o que aconteceu com a aeronave, em vez dos Estados Unidos da América tentarem "vender" o incidente.

A Operação Mangusto é um documento longo (8 laudas) trazendo em seu interior, tudo o que foi acima citado e muito mais ainda (no mesmo estilo e com a mesma finalidade), uma vez que a imaginação dos coletivistas e senhores da guerra é extremamente fértil. Muito embora nunca tenha sido implementado, o fato de ter sido teorizado e encaminhado ao Secretário de Defesa é altamente significativo. Obviamente alguns segmentos relevarão os objetivos do plano, taxando-o de jogo de guerra, aonde o militar deve estar atento para qualquer tipo de cenário, destinando uma margem de manobra para cada evento e tendo uma resposta preparada para o que acontecer.

Todavia, a Operação Mangusto não se enquadra nessas explicações, pois não se trata de um plano de defesa e contra-ataque, mas uma ação agressiva, na qual o agressor tenta enganar a opinião pública posando de vítima, em potencial. Esse expediente comum em ditaduras violentas, ou de meia tigela (mas todas elas torturam, matam e praticam o terrorismo com perfeição) justificava em plena guerra fria, que o comunismo cubano era uma ameaça aos EUA e nocivo à America. Ledo engano ou grande farsa, pois esse sistema de domínio foi nocivo ao povo cubano e continua sendo uma ameaça real à liberdade e o futuro dos ilhéus. Dentro da moralidade coletivista isso era mais do que ético, pois tranqüilizava a população ianque, literalmente em maior número que a cubana. AMÉM!

Nota: Esse ensaio faz parte da obra - Política, Religião e História, 542 páginas, o Volume I da trilogia: Jesus e o Cristianismo, a venda pelo email josepereiragondim@hotmail.com

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