sábado, 3 de setembro de 2011

UM EX-PEÃO QUE DEU CERTO... (ALÉM DA CONTA!)



       
 
         A possibilidade real da eleição de uma pessoa semi-analfabeta à Presidência da República nativa, um ex-metalúrgico, naquele momento dirigindo um sindicato da categoria foi uma quimera que tomou vulto no início dos anos noventa, logo após a conquista do poder através do Solidariedade, na Polônia. Nessa época, e no último quarto do século XX ou final do milênio, o país eslavo foi sacudido por greves monumentais, originadas nos estaleiros Lênin em Gdansky, e ocasionadas pela falta de liberdade, precariedade nas condições de vida da população, no tempo presente e sob qualquer projeção futura.

Atuando na testa e nos vários desdobramentos desse processo de transformação estava o eletricista Lech Walesa, um simples trabalhador da indústria náutica, oriundo de família humilde, portador de grossos bigodes, um cachimbo apagado e esquecido no canto da boca, e identificado com os anseios do proletariado, senão de toda sociedade explorada. Denotando coragem, senso de organização, e sinalizando com a possibilidade de mudanças necessárias, esse líder singular uniu o operariado e a grande maioria da população em torno do sindicato, desafiando o poderio da União Soviética, na medida em que exigia, os requisitos necessários para um povo livre.

Na luta contra o comunismo, uma ideologia utópica e fracassada no leste europeu, em Cuba ou qualquer local ficou preso durante 11 meses, todavia, seu esforço foi reconhecido dentro e fora da Polônia, o que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz, outorgado em 1983. Nessa época, vitimado pelo regime de força que era imposto aos integrantes da Cortina de Ferro foi proibido de viajar à Noruega, a fim de receber a comenda e uma dotação em dinheiro a que fizera jus.

Com a proscrição do Solidariedade, viabilizou a fundação de um Comitê, posteriormente transformado em partido político, e venceu as eleições proporcionais de 1989; o fato que permitiu a formação dum governo de coalizão não comunista, liderado por Tadeusz Mazowiecki. Após a queda do Muro de Berlim, em novembro desse ano, o comunismo ruiu, e Walesa foi eleito presidente em dezembro de 1990, em substituição ao governo títere do general Jaruzelsky.

O desembarque de um ex-trabalhador na Presidência da República brasileira foi um mito gestado na teatrologia de uma agremiação política recém criada, o Partido dos Trabalhadores/PT, atrelado a fragilidade de um eleitorado ignorante e o cansaço de boa parte do segmento consciente de uma sociedade mutante. Objetivando o esclarecimento de qualquer tipo de dúvida sobre o assunto, torna-se de bom alvitre levar ao conhecimento do (e)leitor as informações seguintes.

"O ex-metalúrgico e ex-torneiro-mecânico, Luís Inácio da Silva trabalhou na fábrica até os 27 anos, quando se afastou para o mundo dos sindicatos, sendo eleito primeiro secretário, em 1972, e presidente, em 1975. Depois de um longo período de militância na Entidade granjeou a aposentadoria como dirigente sindical aos 51 anos. Esse assunto é comentado por Élio Gaspari, Jornal do Comércio de Domingo 22/06/03. Na sua coluna o jornalista informa que o atual Presidente da República aposentou-se, após onze anos como dirigente sindical. Na oportunidade acrescenta que o seu provento teve o valor de R$ 3.976,00 (TRÊS MIL, NOVECENTOS E SETENTA E SEIS REAIS), a partir de 01.06.03. Como na época, o funcionalismo público do País (os militares foram deixados de fora) havia sido penalizado com uma taxação absurda de 11%, o colunista acrescentou a informação, o fato de que o ‘salário’ do presidente Lula não fora afetado pela atual Reforma da Previdência, destinada, exclusivamente, a reduzir o pão na mesa de nosotros!" Pimenta nos olhos do vizinho é refresco!

Essa taxação não pode e nem deve ser esquecida facilmente pelo funcionalismo sofredor e honesto, justamente por alguns ingredientes cínicos que antecederam e balizaram a sua aprovação. Pois bem: durante uma boa parte de seu mandato de oito anos, o presidente Fernando Henrique Cardoso/FHC insistiu em afirmar que a Previdência quebraria, caso o funcionário inativo não voltasse a contribuir para com essa Instituição. Isso, contudo, alterava uma norma vigente desde muito, quebrando ainda o princípio do direito adquirido. Por isso tudo, o Partido dos Trabalhadores/PT do ex-metalúrgico, ex-líder sindical, ex-deputado federal e atual ex-presidente Lula estava atento, e debalde foram os esforços do presidente FHC na aprovação da taxação dos inativos.

Nessa batalha empolgante, e quase diária, o PT obstruía as discussões, negava quorum às votações, enquanto tribunos inflamados pertencentes à agremiação ratificavam que essa meta do governo era uma medida perversa, na medida em que diminuía o pão na mesa de velhos e doentes, carentes de respeito pelo que deram ao Brasil. A eloqüência na defesa do inativo foi grande, rendendo para o partido os louros da "coerência", na medida em que a Entidade crescia, através do voto do funcionalismo, que automaticamente, elegia mandatários incansáveis, verdadeiros paladinos na defesa dos mais fracos, daqueles cujo futuro é a morte. Somente isso!

Entretanto, em 2002 o partido chegou ao poder e no início de 2003, ressuscitou e aprovou o projeto de FHC, taxou um pobre inativo revelando que em política, tudo é possível! Nesse episódio grotesco, mas sofrido para o imenso contingente de órfãos do Poder Público, cabe muito bem a manchete de capa do jornal Extra, do Rio de Janeiro, pertencente às Organizações Globo e chegado às bancas na sexta-feira, dia 24/09/2010: "Bonito, hein, Lula...".

Retornando ao curso da narrativa e retomando o fio da meada torna-se de bom alvitre levar ao conhecimento de um leitor ávido, alguns desdobramentos que permearam a chegada de um ex-trabalhador ao poder. Pois bem: a intranqüilidade e o total desencanto ocasionado pelo período de chumbo da ditadura militar foram seqüenciados por duas administrações calamitosas, onde a corrupção foi tão palpável que um mandato presidencial de quatro anos foi elastecido para cinco e um Presidente da República sofreu impeachment, obviamente por práticas nada condizentes com a moral no exercício do cargo.

Consultando os anais do mais alto cargo da Nação, verifica-se que o Brasil teve vinte e nove presidentes, em um período correspondente a cento e treze anos. A partir desse dado e revolvendo a biografia dos mesmos, constata-se que quinze desses senhores eram bacharéis ou profissionais egressos das faculdades de direito. Nove outros foram militares, dos quais, nada menos que cinco atuaram no período da ditadura, por isso, guindados ao cargo de forma totalmente díspar dos demais, ou seja, não foram escolhidos democraticamente pelo sufrágio dos eleitores, mas por indicação do grupo que usurpara o poder.

Seqüenciando tão seleta galeria, referente ao cargo maior da nação torna-se imperativo acrescê-la de mais cinco administradores, ou seja: um médico, um poeta (autor do célebre, mas desconhecido poema Marimbondos de Fogo), um administrador, um engenheiro e ultimamente um sociólogo. Nota-se, portanto, que até o início da ditadura oficial mais recente, os advogados foram os mais inseridos no contexto, ou os mais disponíveis pelo visto, para o exercício do mando, até a descoberta do filão, por outras categorias. Afinal de contas o sol nasce para todos e ninguém é santo ou de bronze, ante as facilidades do poder.

Continuando nesse mesmo diapasão, obviamente, o sindicalismo nunca foi entendido pelo trabalhador nativo, que sempre o viu, na base do oito ou oitenta, neste caso, como uma oportunidade justa e legal, em tese, para se ausentar do trabalho duro na fábrica e evitar retaliações patronais, ao curto e médio prazo. A eleição para uma diretoria de sindicato era uma verdadeira mina ou mãe, pois além do regalo da inamovibilidade por dois anos (caso não conseguisse a reeleição na longa seqüência iniciada) e de se espantar o fantasma da demissão por um longo período, o ex-trabalhador poderia entrincheirar-se nas dependências do Órgão, solicitar a disposição permanente para prestar "trabalho" na Entidade, e aí desfrutar de vida mansa. A realidade é essa, pode acreditar!

Esse conceito pode chocar a alguns, principalmente os integrantes dessa indiscutível fábrica de lideranças desastrosas, mas é a pura realidade, bastando apenas ao pesquisador domingueiro ou observador alheio ao assunto, parar e espreitar o vistoso universo sindical a sua volta. O negócio funciona dessa forma, e aqui entre nós, no país do jeitinho, o produto saiu melhor que a encomenda, contemplando a um grupo seleto de companheiras e companheiros; afinal de contas, ninguém é de ferro e todos são filhos de um deus justo, e mais que isso, deliberadamente sensíveis ao bem-bom.

A época em que o Buda Siddhartha Gautama comia por dia, um único grão de arroz ou gergelim ficou para trás e atualmente se encontra a anos-luz do tempo presente. Ademais, o céu é fartura, dinheiro no bolso e tempo para gastá-lo. Conforme o entendimento dos mais práticos suas apregoadas venturas vive-se aqui mesmo e não adianta espernear!

Por tudo isso e na medida em que os sindicatos decolavam, arregimentando novos quadros e surfando sobre a esperança de uma grande massa, alguns bordões foram acrescidos aos objetivos caseiros, que, inicialmente orbitavam sobre aumento de salários e redução da jornada de trabalho, duas metas batidas e perseguidas desde que o cão era menino. A transformação do sindicato em partido político agregou as duas impossibilidades acima citadas, um novo conjunto de utopias ou palavras de ordem, obviamente confeccionadas sob encomenda.

Nesses termos, o pagamento da dívida externa, uma reforma agrária fora do tempo e espaço, a estatização de bancos e várias empresas que só crescem na iniciativa privada, e mais outras tranqueiras do mesmo naipe eram as bandeiras do período. Durante anos a fio, não raro era encontrar nos locais mais freqüentados de João Pessoa/PB (Ponto de Cem Réis, Praça 1817 e Lagoa), um ou vários representantes do partido (barbudos e mal vestidos: a marca oficial da seita ou grife), nessa época desempregados juramentados e de ofício, mas doutorados na arte de realizar plebiscitos.

Numa pequena mesa encimada por uma sacola plástica ou urna de papelão improvisada, esse magote de desocupados, diuturnamente atazanavam o cidadão pacato, com uma lengalenga direcionada a moratória, privatização e outras tranqueiras totalmente estranhas ao dia-a-dia do trabalhador cansado, em busca ainda da escola ou na volta para casa, em coletivos lotados e fora do horário. Todavia, a necessidade de marcar XIS naquele papel mimeografado e sujo de tinta, cujo destino mais provável era a lata de lixo mais próxima era de suma importância para um bando de reformadores messiânicos e agourentos. No outro dia ou na próxima semana o cardápio mudava, pois o estoque do bazar, além de inesgotável era eclético. Lérias! Em algumas oportunidades e além da assinatura exigiam o nº do RG ou CIC, pois segundo eles a coisa era para valer e o resultado seria fulminante e urgente.

Hoje, a maioria engravatada e entrincheirada numa chefia de ministério, secretaria especial, agência emblemática ou qualquer outro cabide de emprego público, devem rir aos borbotões desses plebiscitos de mentirinha, mas o trampolim que abriu o horizonte pra uma patota sortuda. De acordo com uma matéria veiculada pela revista Veja, edição 2181- ano 43 nº 36, de 08/09/2010 (O Partido do Polvo), somente no organograma da Fundação Nacional de Saúde/FUNASA, que tem a missão crucial de gerenciar recursos destinados a ações de saneamento básico, há 1500 petistas incrustados, lotando salas e corredores. O que será que todos eles querem lá?
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Em termos de trajetória política, o torneiro Lula era diferente do eletricista polonês Lech Walesa, por ser uma criação local, bastante próxima de um forte segmento da mídia e totalmente fácil de manipular, no que tange a modificações no script da trama ou falas do personagem, mormente aquelas de última hora. Por exemplo, quando do lançamento do Plano Real ele foi radicalmente contra, principalmente por estar liderando a sondagem de intenção de votos, há meses. Como essa modificação na economia era certa, despencou nas pesquisas, experimentando uma derrota acachapante, todavia, retirou-se estrategicamente de cena, evitando fazer algum outro juízo de valor sobre essa indiscutível vitória em cima dum processo inflacionário galopante. Na opinião deste Autor, o petismo cresceu em situações caóticas e onde houvesse clima propício para um denuncismo irrefreável. Pois bem: "Quem não era filiado ao PT, que detinha o monopólio da ética era inimigo do povo, quem não votava na seita era cúplice de bandidos disfarçados de pais da pátria. Se o Brasil fosse um país sério, vociferavam furibundos, todos estariam na cadeia".

O Plano Real inicialmente criticado com veemência foi uma ducha fria nas pretensões de poder do partido, pelo menos a curto prazo, entretanto, um momento de reflexão e a certeza de que: as coisas boas existiam também nos adversários ou do outro lado, no campo inimigo. Essa é a regra, quando se pretende administrar para o povo, expulsando de vez a intolerância assumida de que o certo está contido na ideologia de um só partido político, muitas vezes na contramão do progresso, em um contexto onde não mais cabem, teorias e filosofias ultrapassadas, bolorentas e caducas, eivadas de um autoritarismo indisfarçado. No escândalo do mensalão, o presidente Lula, bem como o seu partido jamais admitiram a existência desse comprovado esquema corrupto, obviamente, como necessidade imperiosa de sobrevivência política.

Nesse caso torna-se necessário antecipar para um leitor deveras estupefato e assaz atento, três declarações bastante emblemáticas; a primeira de autoria do Presidente da República, a segunda, de lavra de José Genoíno, ex-deputado federal e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores/PT, e a última, de autoria de Gilberto Carvalho, o atual Chefe de Gabinete da Presidência; respectivamente. "O que o PT fez do ponto de vista eleitoral (caixa 2) é o que é feito no Brasil sistematicamente". E essa outra: "Fui um dirigente político, que dirigiu o partido numa situação nova, que era governar o Brasil com o presidente Lula. E o PT não cometeu crime". E mais essa: "O PT nasceu questionando as instituições tradicionais, mas foi adquirindo vícios. Até o vício da corrupção, que infelizmente entrou em nosso partido. Então, de certa forma, houve um assemelhamento, nesse sentido, com os outros partidos".

Na busca do poder e das benesses do fasto, e além de incentivar os plebiscitos diários, conforme citado acima, o PT sabia como poucos planejar manifestações de massa, direcionadas a qualquer tipo de reivindicação. Além da paralisação grevista endossada pela Central Única dos Trabalhadores/CUT (o seu braço sindical), e que era a sua especialidade ou carro-chefe, o partido organizava passeatas criando aquele clima, onde o povo era convencido que os seus problemas teriam de ser levados a rua, e só assim resolvidos. Obviamente, os resultados eram pífios, entretanto, com a chegada do PT ao exercício do mando essas manifestações desapareceram totalmente e o povo mergulhou na letargia, amargando tudo em silêncio.

Um exemplo dessa afirmação pode ser verificado nas greves (por salários, só) das Universidades Federais, anualmente, por todo o País. Numa dessas paralisações, que demorou mais de três meses, e onde o senador Cristovam Buarque definiu muito bem (uma Entidade do governo, que cerra suas portas por mais de cem dias, praticamente assina um atestado de que não tem nenhuma utilidade pública), este Autor não teve o conhecimento de nenhuma manifestação de pais, alunos ou da sociedade exigindo à volta do professor à sala de aula, a fim de fazer jus ao salário que ele não deixou de receber.

Nesses períodos, como tem sido comum, o aluno atrasa o semestre, perde oportunidades no mercado de emprego, mas os petistas entrincheirados no Órgão continuam impávidos, e principalmente, com a remuneração no bolso, no final do mês.


Muito antes do desencanto com as freqüentes passeatas, com a perversidade das greves pontuais e inúmeros outros tipos de manifestações nas ruas, que permearam a chegada do petismo ao poder, o eleitor nativo totalmente descrente da classe política, anulou o seu voto, em algumas oportunidades, de forma provocativa e original. Nesses termos e num protesto bizarro contra o imutável status quo votou maciçamente no rinoceronte Cacareco, em São Paulo, no macaco Simão, no Rio de Janeiro e no bode Cheiroso, em Pernambuco. O número de sufrágios nesses três animais foi grande, o que tornou o fato um acontecimento extraordinário, e do conhecimento de boa parte do povo brasileiro.

Isso ao que tudo indica, ainda não foi entendido por aqueles a quem esse recado foi endereçado, merecendo dos cientistas políticos uma conotação jocosa, o que não é fato. A eleição do cacique Mário Juruna, para representar o Estado do Rio de Janeiro, em Brasília, bem como da atriz-pornô húngara Ilona Staler, para o Parlamento Italiano, é mais um sintoma de rebeldia de um eleitorado, talvez menor de 60 anos, mas totalmente descrente da política como ciência, mas apenas como um emprego vantajoso e a oportunidade de engabelar os trouxas. A mais recente aberração nesse campo foi a eleição do palhaço Tiririca, a Deputado Federal, pelo Estado de São Paulo, com quase um milhão e quinhentos mil sufrágios.

Obviamente, este artista cômico não pode ser acusado da compra de votos; absolutamente não! Entretanto, independente dos bordões utilizados por ele, e nos quais o "eleitor era carinhosamente taxado de abestado", ou "com Tiririca, pior do que está não fica", o povo aderiu ao deboche e divertiu-se tanto quanto ele; o resultado está ai para inglês ver. Quanto a sua declaração de não saber o que fazia um deputado federal, ora, meu deus do céu, seria interessante deixar a hipocrisia de lado e evocar a desenvoltura de um senador paraibano, atualmente. A esse respeito, a revista Veja, na seção Panorama-Radar, de 24/03/10, traz uma chave, para o entendimento do problema; por parte de Tiririca e a quem interessar possa.

"O senador Efraim Morais ostenta hoje o título de o maior empregador do Senado: tem 76 funcionários. No seu gabinete, em Brasília, que não tem as dimensões de um campo de futebol (o grifo é deste Autor) ele emprega 58 servidores, que somados a outros 18 no escritório político que mantém em João Pessoa/PB perfazem esse recorde macabro. Na oportunidade torna-se de bom alvitre deixar claro, que apenas 9 dos seus funcionários pertencem ao quadro efetivo do Senado". Aleluia irmão!

Será se pagando de seu bolso ele seria tão magnânimo, para com o desemprego no País? É extremamente salutar que o deputado Tiririca continue ignorante a determinados procedimentos, pois, caso contrário, a vaca vai para o brejo, e de quebra leva o pasto!

A eleição do ex-metalúrgico Lula, ao cargo de Presidente da República não foi, especificamente, um caso idêntico a nenhum desses acima citado, em particular; mas foi o somatório de todos eles no bojo de um cansaço existencial que já se manifestara anteriormente, através da eleição de animais bípedes ou quadrúpedes, uma maneira de protestar, ou quando o eleitor, deliberadamente, opta por anular o voto. A oportunidade do enfrentamento de políticos tradicionais, profissionais e arrogantes era a nova perspectiva de um eleitorado em várias faixas, independente de ideologia, até porque essa estória de direita e esquerda é lorota ou conversa pra boi dormir. O que existe efetivamente (entre nós, na pobre realidade tupiniquim) é uma disputa entre os que estão mamando e os que querem chegar lá, um quadro hereditário lamentável (mandatos políticos rateados entre pais ou mães, filhos e filhas, netos e netas, quando não sobrinhos), atualmente influenciado pelo avanço de seitas evangélicas e todo o tipo de alienação e fanatismo religioso. Se ele pode, por que não eu?

Pois bem: o reverso da medalha estava fincado num conjunto de dúvidas, mas apresentado ou eleitor como certeza, e nunca como interrogação, ou mesmo descrença, senão vejamos. Se as pessoas com diploma de nível superior e procedentes de berço de ouro, até agora não deram certo, por que um ex-trabalhador, pobre e semi-analfabeto não pode vingar? Isso era comum na época, e tal como a paixão futebolística e as defesas atabalhoadas sobre a existência de deus e seu filho Jesus ganharam as massas, encarnaram torcidas e arquibancadas do estádio da vida representado pelo eleitor brasileiro, em qualquer faixa. O desafio estava lançado e o passado histórico adulterado, em nome de alguns e no proveito de um punhado. Ora, deixando o radicalismo de lado (o que foi ignorado no período), o País tem uma trajetória de crescimento positiva, independente do tipo de governo, desde a independência, em 1822.

Negar que o Brasil avançou logo após a proclamação da República, no Estado Novo da gestão Vargas, na Ditadura Militar ou nas reformas e privatizações do governo FHC não é prática honesta. Ignorar que todas as outras administrações, em maior ou menor escala contribuíram para que um país 3º mundista, eminentemente extrativista e exportador de matérias primas migrasse dessa fase para uma nação emergente, industrializada e detentora da 8ª economia do planeta é uma cegueira perversa, que merece cuidados, com urgência. Ignorar por birra que o processo democrático e o fortalecimento das Instituições ganharam corpo e solidificaram-se, sem margem para retrocesso, ao longo desses governos todos, é um desconhecimento crasso, senão um proceder desonesto para com o curso normal da história. Mas a sorte estava lançada e o brasileiro fez a sua opção, em cima dum bordão surrado ou lavagem cerebral para os mais incautos, no qual era chegado à hora do velho ceder lugar ao novo, não importava as condições advindas de tal mudança. A massa pagava para ver, sem medo de ser feliz!

Nas eleições presidenciais de 2002, com o surgimento do "lulinha paz e amor", um personagem criado pelo marketing de campanha, boa parte do eleitorado nativo aderiu à onda e um ex-metalúrgico, ex-sindicalista e atualmente político profissional foi eleito a presidência do País. Entretanto, o encanto esvaiu-se com a concorrida festa de posse, uma vez que o superastro eleito rapidamente demonstrou que não era nenhum iluminado. Muito pelo contrário, era dramaticamente igual a todos os demais, que militam na política desde muito. Depois de empossado, em poucos dias de mandato não conseguiu esconder, a excessiva subserviência para com os grandes bancos, a simpatia para com o capital especulativo internacional e a inusitada consideração para com uma elite rançosa e execrada até então, com dedicação e afinco. A instalação imediata de uma auditoria sobre as privatizações e a dívida externa, a redução de ministérios e secretarias para o enxugamento da máquina pública eram promessas de palanque, que podiam ser quebradas ou descumpridas em prol da "boa vizinhança".

Na oportunidade torna-se de bom alvitre levar ao conhecimento do leitor a dedicação na criação de ministérios, no atendimento à demanda. Pois bem: mesmo o País não tendo uma vocação pesqueira, como acontece com o Japão, a Noruega e os Estados Unidos foi, no entanto, brindado com um eficiente Ministério da Pesca, talvez destinado a um partido político aliado ou candidato derrotado. O brasileiro e professor da Universidade de Harvard/EUA, Roberto Mangabeira Unger criticou acerbamente o governo, em artigos virulentos e veiculados na mídia. Resultado: num curto período de tempo e após uma demonstração de patriotismo salutar reviu suas posições, e por obra e graça do divino espírito santo foi escolhido para certo ministério lá, criado, salvo engano, para esse emérito questionador.

Obviamente os inúmeros biógrafos de plantão, não concordam com essa realidade, mas, sem o mínimo exagero, imediatamente foi demonstrando com todas as letras que em matéria de diálogo, ninguém suplantava o ex-torneiro mecânico, um neófito deslumbrado pelo luxo. Seqüenciando o périplo e evocando a governabilidade, como em gestões anteriores, desenterra e aprova reformas consideradas nocivas à sociedade, até recentemente quando era oposição. Esquecer o que fora dito ou prometido numa trajetória longa foi o remédio encontrado e necessário a manutenção do mando, com o novo pai da pobreza e incansável paladino da justiça. O grande líder, ou o deus de um segmento infindo que aspirava mudanças tinha os pés de barro e muito chulé, mas um longo repertório de causos, para deleite de uma platéia jeca e alienada.

         Depois de oito anos de governo, e na impossibilidade de uma reeleição para um terceiro mandato (ai, como ele ansiava), o atual presidente do País ungiu uma pessoa do seu staff administrativo (obviamente inexperiente ao extremo; pois é: com ele não deu certo?) para substituí-lo, sem medo de ser feliz! Nesses termos, arregaçou as mangas e trepou-se nos palanques dos comícios, procurando por todos os meios transformar uma eleição em plebiscito, entre administrações ou preferências partidárias. Deliberadamente alheio ao processo de alternância do poder solapado por uma aprovação extemporânea de reeleição no executivo, indisfarçadamente aposta em um mandato tampão, pavimentando a sua volta para daqui a quatro anos. Mas, quem foi que disse que isso daria certo?

Convenhamos, uma longa permanência no poder, ao invés de saudável é nociva, pois se desloca na contramão da democracia, na medida em que transforma o governo numa associação de amigos, num Estado aparelhado por partidos políticos. Só isso! Na matéria: Ahhh... Vá criar coelho!, publicada na revista Veja, edição 2183 - ano 43 - nº 38, de 22/09/2010, o ditador cubano Fidel Castro deixa bem claro, para qualquer pessoa com a cabeça em cima dos ombros, como o poder nas mãos por vários anos é ruim, e como a certeza do continuísmo cria um abismo entre realidade e ficção; confira:

Perguntado por jornalistas espanhóis, se não era uma prova da falência moral do regime o fato de as universitárias de Cuba serem obrigadas a se prostituir para sobreviver, um ditador desvairado ou já completamente insano debochou: "Não. É uma prova de sucesso da revolução o fato de que em Cuba, até as prostitutas são universitárias". Atualmente, estertorando no âmago de uma senilidade nada edificante, desabafou: "O regime cubano não funciona mais nem para nós". Obviamente corrigiu-se depois, explicando que se referia ao modelo de tomada do poder pelas armas. Olha o mal de Alzheimer aí, gente!

Destarte, voltando ao modelo caseiro e a nossa realidade governamental de todos os dias (diga-se de passagem, altamente simpática aos velhos ditadores cubanos e consolidada através de declarações favoráveis e visitas oficiais freqüentes), por ocasião da reta final das eleições nativas de 2010, o presidente Lula bateu pesado na oposição. Parecia até que a sua candidata estava em desvantagem, quando, na realidade liderava as pesquisas de sondagem de opinião de votos, com vitória antecipada para o primeiro turno. Nem tudo é perfeito! A certeza da vitória era tão grande que a candidata do governo Dilma Rousseff, já se apossara da faixa presidencial, sem antes consultar o eleitor brasileiro, confira: "Todos nós vamos ficar emocionados quando o presidente Lula estiver descendo a rampa (...). Nesse dia, a única coisa que vai me consolar é que pela primeira vez uma mulher estará subindo a rampa". Na opinião deste Autor, não foi dessa vez, mas, infelizmente, ainda há tempo!

Pois bem: conforme o enunciado acima, mesmo com a certeza de uma vitória acachapante contabilizada e garantida pelos Institutos (Ibope e outros), o governo não estava de bem com a imprensa e a oposição, e não fazia o menor esforço em dissimular essa birra gratuita. Quando os escândalos enlameando a Casa Civil da Presidência da República chegaram ao conhecimento da sociedade, através de jornais e revistas responsáveis e pertencentes à imprensa livre (em setembro/2010), onde a ministra Erenice Guerra e vários familiares são acusados de inolvidáveis traquinagens com o dinheiro público, através de negociatas de milhões de reais, o presidente Lula fez discursos atacando os jornalistas.

Em Minas Gerais, disse que os veículos de informação "inventam coisas" contra ele. No dia seguinte declarou que iria "derrotar jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político". Na terça, voltou à carga: "Liberdade de imprensa não significa que você pode inventar coisas o dia inteiro". A repercussão dos ataques, bem como o escândalo registrado nas dependências do Palácio do Planalto, próximo ao gabinete do Presidente da República integram uma reportagem investigativa meticulosa veiculada pela revista Veja, nas edições dos dias 08-15 e 22/09/2010, o Partido do Polvo, o Polvo no Poder e a Alegria do Polvo, respectivamente. A revista em apreço, na seção Panorama, durante todo o mês de setembro/2010 está referta de declarações, que justificam plenamente a temperatura desse embate reacionário, intolerante e insano, confira:

1)   "Eles ficam torcendo desde o começo para o Lula fracassar. Esse peão não pode dar certo, porque senão nós estamos desgraçados". Do presidente Lula, que foi peão até os 27 anos, quando se entrincheirou no sindicato e virou: faraó? Político?;
2)   "É lamentável que o líder maior da nação tenha esse tipo de postura em relação à imprensa. A imprensa deve ser livre para fazer o seu papel de denunciar". Do presidente da OAB, Ophir Cavalcante (na prática, todavia, a postura é outra!);
3)   "Convém lembrar que Lula jamais criticou o trabalho jornalístico quando as informações tinham implicações negativas para seus opositores". Nota da Associação Nacional de Jornais sobre os ataques do presidente à imprensa;
4)   "Estamos à beira do perigo de um governo autoritário, que vai passar por cima, como já está passando, da Constituição e das leis". Do jurista e ex-petista Hélio Bicudo;
5)   "O PT, quando foi criado, se opunha ao corporativismo herdado do fascismo e de Getúlio Vargas. No poder, vemos que ele ampliou esse corporativismo". Do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao O Estado de São Paulo;
6)   "Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam para solapar o regime democrático". Do Manifesto em defesa da Democracia, assinado por juristas, intelectuais e artistas;
7)   "Precisamos extirpar o DEM da política brasileira". Do presidente Lula, em Santa Catarina, exibindo sua postura reacionária e usual intolerância democrática;
8)   "Golpista é dizer que precisa destruir um partido que existe legalmente. O presidente não tem o direito de dizer isso". Do cantor baiano Caetano Veloso (o Chico Buarque não pensa assim!);
9)   "Aconselho o presidente Lula a não faltar com a verdade, a não inaugurar obras inacabadas e a não ingerir bebida alcoólica (pinga, brejeira, cambumba na visão deste Autor) antes dos comícios". De Jorge Bornhausen - presidente de honra do DEM;
10)               "Lula se apodera da campanha... Lula é, na verdade, o protagonista da campanha eleitoral e faz de cada ato uma clamorosa despedida". Do jornal espanhol El País.

Infelizmente, Lech Walesa, o ex-eletricista eleito presidente da Polônia não foi o redentor ou messias esperado para solucionar as grandes deficiências de um país ultraconservador e eminentemente agrário. Tentando reeleger-se no ano 2000, sofreu uma derrota retumbante, obtendo 1% dos votos do eleitorado polonês. Verdadeiro fiasco para quem era unanimidade! Entretanto, durante o governo e hoje no ostracismo político ele continua fiel a si, as suas idéias, ao seu País e um homem de poucas posses.

No que tange ao Brasil, as coisas são diametralmente opostas, pois tudo o que foi plantado no início da década de noventa, obviamente foi colhido nos últimos anos, o que despertou nos atuais detentores do mando a justificativa fraudulenta, de serem os responsáveis por tal bonança. Ledo engano! A manutenção dos indicadores macro-econômicos (câmbio, juros e salários) herdados do governo passado garantiu a estabilidade econômica, conferindo ao presidente Lula, um cabedal de 80% de aprovação do governo, que euforicamente se propõe a ensinar ao "Obrama", como chamou o Presidente dos Estados Unidos. No término desse ensaio sobre a realidade sócio-política do País, torna-se de bom tamanho a observação do poeta russo Gavril Dejarvine: "Um asno será sempre um asno, mesmo se o cobrires de ouro". AMÉM!




NOTA: Esse ensaio faz parte da obra “ANATOMIA DE UMA FARSA” (com 592 páginas), o Volume III da trilogia “JESUS E O CRISTIANISMO”, a venda pelo email: josepereiragondim@hotmail.com

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