A mecha ardente desce rápida sobre a palha seca,
a lenha verde e besuntada se esconde na fumaça escura.
O carrasco sopra, a madeira estala, a chama surge, brilha,
a platéia ruge satisfeita, multiplicando o abissal
e abafando o choro convulsivo de três seres desgraçados.
Estamos na Praça de Bordage, no Canal da Mancha,
no tempo de Maria Tudor, no calor da “Santa” Inquisição
e no momento em que Perrotine Massay e duas filhas
uma delas em vias de parir “acertarão” contas com a Igreja
amarradas a um poste, num pequeno estrado,
encimando uma “fogueira redentora”
O fogo aumenta e seu rubor já envolve as condenadas,
quando o ventre da mulher grávida violentamente se comprime
e um menino vivo irrompe da sua “virilha”
A mãe o faz rolar pra fora do braseiro, num esforço extremo,
na busca da vida, numa demonstração de coram,
pra perversos e covardes ali presentes.
A criança recolhida por um dos verdugos da farsa execrável
é atirada ao fogo, por ordem do magistrado Helier Gosselin,
um bom cristão, temeroso quem sabe de afeiçoar-se ao neném
e no próximo fim de semana deleitar a massa, assando
também na fogueira por infringir a lei dos loucos e desalmados,
por um simples de gesto de caridade para com um recém-nascido
Nenhum comentário:
Postar um comentário