segunda-feira, 12 de setembro de 2011

PATIFARIA NAZISTA



No interior da antiguidade e por toda história da civilização humana, as causas das guerras e submissão dos vizinhos próximos ou distantes sempre estiveram centradas nos mesmos motivos, ou seja: eliminação de concorrência, apropriação de riquezas e ocupação de áreas estratégicas. As guerras de libertação são assaz emblemáticas, pois os conquistadores somente abandonam a "presa espoliada", mediante um bom resgate em dinheiro ou outro tipo de vantagem. Ao lado de uma tela no Castelo Brenand, em Recife/PE é informado ao turista, o montante em ouro pago aos flamengos, por ocasião da saída holandesa do Estado. A partir daí a propaganda oficial entra em cena e imortaliza o heroísmo dos libertadores nas cores de grandes batalhas, e na base do "sangue, suor e lágrimas". Lérias!

A vingança, bem como alguma querela de cunho religioso eram panos de fundo do elenco acima citado, aliás os objetivos únicos de grandes impérios, desde o aparecimento do homem no planeta. Sob qualquer bandeira ou credo, os soldados eram exortados ao butim, uma vez que ninguém é de ferro ou bronze e as grandes fortunas foram calcadas no saque, aliás, um direito que assiste ao conquistador. Traduzindo essa carência do ser criado a imagem de deus, o escritor francês Honoré de Balzac, num momento de grande inspiração legou à posteridade tal certeza: "por trás de toda fortuna há um crime". O estupro de mulheres e o assassinato de idosos e crianças, aliados à pilhagem fazem parte da genética humana, talvez herdada do deus babilônico Kingu, ou adquirida na sua interação com o meio ambiente.

Com o passar do tempo e das idades cronológicas da evolução da vida, os três supostos motivos da guerra foram pintados nos mais diversos matizes, todavia, jamais se afastando de sua essência ou origem torpe. No tempo presente, e através de uma diplomacia pegajosa, essas ações perversas foram batizadas como disputas de novos mercados. Essa estória de defesa da democracia, dos bons costumes, da paz no mundo é tudo "cascata ou conversa pra boi dormir", pois o que interessa aos donos do poder é a bacia petrolífera, as jazidas de minérios estratégicos e, futuramente, a posse dos manaciais de água potável; pode acreditar!

Como exemplo de tudo o que acima foi abordado, a invasão da Polônia, em 01/09/1939, aliás, a primeira ação armada que deflagrou o início da Segunda Guerra Mundial, indubitavelmente, foi uma decisão pessoal do ditador nazista Adolf Hitler. Ela expressou, de maneira surpreendente, as facetas contraditórias de sua personalidade: temeridade, monomania, oportunismo hábil, bem como uma alternância ciclotímica entre indecisão paralisante e hipervoluntarismo. Todavia, torna-se de bom alvitre deixar claro que antecedendo a esse evento, ou seja, em 1932, os círculos principais da classe capitalista alemã tinham reconhecido (em consideração aos seus interesses conjunturais), que a única saída para a crise econômica era estabelecer a hegemonia sobre a Europa ocidental e central.

A Alemanha chegou tardiamente, à arena das grandes potências para adquirir um império colonial fora da Europa que correspondesse a sua importância no mercado mundial. A primazia das relações e dos conflitos entre as forças sociais na determinação do curso da história é um dos pressupostos fundamentais do materialismo histórico. Comparando as forças produtivas da Europa capitalista e dos Estados Unidos em 1941, a Alemanha, mesmo após subjugar o continente europeu, não teria chances de vencer uma guerra contra o poder econômico da América, a não ser que incorporasse os recursos naturais e industriais da União Soviética, um processo que levaria anos.

O déspota mais poderoso do mundo não pode escapar às implacáveis demandas da acumulação do capital, que resulta da estrutura da propriedade privada e da competição no mundo capitalista. As reservas em moeda tinham quase desaparecido e o pagamento de juros sobre a dívida nacional tornara-se um peso insuportável. Era impossível continuar com a taxa de militarização sem a integração de recursos materiais adicionais aos estoques quase exauridos, que vinham de fora da Alemanha. Daí a necessidade de pilhar as economias adjacentes e procurar escalas continentais de organização industrial, comparáveis àquelas dos Estados Unidos da América ou da União Soviética.

Nessa empreitada, alguns setores da opinião pública internacional careciam de algum tipo de justificativa, pois a população do País poderia ser facilmente manipulada por "bordões" adequados, na medida em que boa dose de um nacionalismo ensandecido seria insuflada na parte susceptível, representada pela grande maioria. A diminuição do território alemão imposto pelo Tratado de Versalhes, no armistício firmado em 1918 era o motivo da contenda, enquanto a devolução da cidade portuária de Danzing, bem como a liberação do "corredor polonês", uma exigência rotulada como justa na manutenção da paz entre os dois países. Todavia, isso era apenas "fachada ou cortina de fumaça", uma vez que a decisão de invadir a Polônia era um fato consumado, talvez desconhecido apenas dos próprios poloneses.

Para conhecimento do leitor, transcrevemos abaixo um fato inusitado dessa suposta querela fronteiriça, com conseqüências funestas para a humanidade, vejamos. "Um pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, ou mais precisamente na segunda quinzena do mês de agosto de 1939, soldados pertencentes ao exército polonês atacaram uma estação de rádio alemã, localizada na fronteira entre os dois países. Complementando a ação armada mataram os militares que operavam a emissora, leram um manifesto contra o governo nazista da Alemanha, destruindo em seguida os transmissores e todas as instalações da unidade". Imediatamente, a imprensa internacional foi notificada da provocação, enquanto as fotos da emissora destruída e os soldados mortos eram veiculadas pelos jornais nazistas, com ameaça de retaliações drásticas. Em 1º de setembro o exército alemão desfechou um ataque fulminante contra a Polônia, colocando seus tanques contra a cavalaria (tradicional ou homens montados em cavalos) polonesa, destroçando sua antiquada força militar e, ocupando o País.

Todavia, no final da guerra esse assunto foi esclarecido através da captura dos arquivos secretos atinentes ao episódio; vejamos a que ponto chega ação da política. Essa operação foi urdida pelo governo hitlerista da Alemanha, visando justificar ao mundo uma agressão literalmente insana. A emissora foi destruída por integrantes das SS, que também assassinaram os supostos militares, na realidade, presos condenados vestidos com a farda da Wehrmacht, e previamente dopados. O manifesto foi lido por alguém da gestapo, a famigerada polícia política nazista, enquanto a operação tinha o nome em código de “artigos enlatados”. O detalhamento dessa fraude está contido no livro de Willian R. Shirer, Ascenção e Queda do 3º Reich.

Insufruindo do beneplácito e do sigilo do poder, ações desse naipe são comuns na condução da política como um todo, embora em detrimento do povo bom, honesto esperançoso e totalmente alheio a tais patifarias. Nesses termos, vidas humanas e bens materiais funcionam apenas como meros detalhes na obtenção de metas, sendo eliminados ou destruídos de acordo com qualquer oscilação da conjuntura presente. Como a Alemanha perdeu a guerra, seus arquivos rapidamente vieram a público, o que não ocorre com os vencedores, também fregueses pérfidos e usuários contumazes desse grande e eclético bazar de falcatruas nossas de todos os dias. AMÉM!


Nota: Esse ensaio faz parte da obra - Política, Religião e História, 542 páginas, o Volume I da trilogia: Jesus e o Cristianismo, a venda pelo email josepereiragondim@hotmail.com

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