segunda-feira, 12 de setembro de 2011

TRAQUINAGEM CASEIRA



"Na noite de 30 de abril, durante um show de música popular para 20 mil jovens, uma bomba explode dentro de um automóvel que manobrava no estacionamento do Riocentro, na Barra da Tijuca. Morto no seu interior o Sargento Guilherme Pereira do Rosário; gravemente ferido abandona o veículo o Capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos do Destacamento de Operações e Informações do 1º Exército sediado no Rio de Janeiro. Minutos depois outra bomba, mais poderosa, é lançada e explode próximo à casa de força do Riocentro. Como não atinge o seu alvo, não provoca a escuridão geral que certamente ocasionaria o pânico no recinto fechado do show, com consequências fáceis de imaginar". Esse texto faz parte da obra do Major do Exército Dickson Melges Grael - Aventura, Corrupção e Terrorismo - à sombra da impunidade, pgs. 81 e 82.

Portanto, e complementado a informação acima, o Puma cinza-metálico, portava a placa falsa de nº OT-0279 e o "artefato" seria instalado nas dependências do edifício pelos dois militares em apreço. Todavia, por falha no manuseio, explodiu antes do tempo desejado, ou seja, por volta das 21 horas, dentro do próprio veículo, no colo do sargento Rosário que teve morte imediata em face à destruição dos intestinos e da genitália, e ferindo gravemente o capitão Machado. Uma segunda bomba que cortaria o fornecimento de energia, causaria a interrupção brusca do show, geraria pânico entre 20 mil pessoas e o pisoteamento dos mais velhos e jovens, com a ocorrência de vítimas fatais, explodiu no pátio da miniestação, sem nenhum problema.

Imediatamente, o governo culpou os radicais de esquerda pelo atentado, uma hipótese que não tinha a mínima sustentação na época. Atualmente já se comprovou, inclusive por meio de confissão que o atentado no Riocentro foi uma tentativa de setores mais radicais do próprio governo, interessados numa nova onda de repressão e temerosos de serem desmoralizados por envolvimento na tortura. Com esse objetivo, várias medidas estranhas tomadas no dia do show, e relativas a segurança do Evento, indicam que o atentado envolvia a participação estratégica de muitas pessoas, militares e civis, e que vinha sendo planejado detalhadamente a cerca de um mês.

Para apurar as explosões do Riocentro foi aberto um Inquérito Policial Militar sob a presidência do Cel. Luís Antônio Ribeiro Prado. Nesse ínterim, por ocasião do enterro do sargento Guilherme Rosário, sepultado com honras de herói, o Cel. Job Lorena de Sant´Ana, posteriormente designado presidente do Inquérito Policial Militar instalado, em face do afastamento do coronel Prado, leu um discurso onde afirmava que o morto fora vítima de um ato terrorista. No Jornal Nacional da Rede Globo, do dia 01/05/1981, o assunto foi noticiado, inclusive mostrado ao público mais duas granadas que estavam no interior do veículo semi-destruído. No entanto, pressionada pelos militares a emissora voltou atrás e, através de um flash na programação, anunciou que os dois objetos anteriormente garantidos como bombas eram, na realidade, extintores de incêndio do veículo.

Na época, entrevistado no "Fantástico", da TV Globo, o coronel Luís Antônio Ribeiro Prado, visivelmente emocionado, disse ao jornalista que inicialmente julgou que se tratava de um atentado terrorista contra os militares de Inteligência que faziam "campana" próximo ao show dos trabalhadores. Porém, à medida que os laudos foram elucidando o ocorrido, não teve mais dúvidas de que a explosão no veículo ocorreu devido à falha de manuseio da bomba que se encontrava no colo do sargento Rosário, ocupante do veículo ao lado do capitão Machado. Pressionado pelas autoridades, o Cel. Prado manteve sua convicção sobre o assunto, sendo afastado do inquérito, internado durante uma semana no Hospital Central do Exército por "motivos" de saúde, e posteriormente não foi promovido a general.

Em novembro de 1996, o ex-Presidente da República, na época da ditadura e das explosões no Riocentro, Gal. João Batista de Figueiredo, admitiu que houve participação de militares no sinistro. O atentado do Riocentro foi reaberto no início de 1999, e após três meses de investigação, o general Sérgio Conforto, encarregado do novo inquérito, apontou a responsabilidade de quatro militares no Evento: o coronel Wilson Machado, o general da reserva Nílton Cruz, o sargento Guilherme do Rosário, enterrado com honras de herói e o coronel Freddie Perdigão, também já falecido. No ano 2000 o inquérito foi definitivamente arquivado, através do STF. Mesmo com o "tiro saíndo pela culatra", este poderia ter sido o maior atentado urbano da história do Brasil, com consequências funestas para as famílias de bem, nesse eterno oceano de impunidade. AMÉM!



Nota: Esse ensaio faz parte da obra - Política, Religião e História, 542 páginas, o Volume I da trilogia: Jesus e o Cristianismo, a venda pelo email josepereiragondim@hotmail.com

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