sexta-feira, 30 de setembro de 2011

INVOLUÇÃO



Experimente ser você
Por pouco tempo, por alguns instantes
Só, sem vizinho, sem rumo, sem norte
Ser alguém
Só um simples alguém
Anônimo, incógnito entre tantos
Entre muitos que o dia-a-dia, traga e absorve
No vaivém, no fluxo e refluxo
Do passar do tempo, do passar da vida

Procure e se integre nesse alguém distante
Que você traz em si, no entanto nega, esconde
Cuja família é enorme
Preenchendo todos os lugares
Porém apenas ligados por anseios
Por idéias e ideais pendentes
Pela sede de viver livre, de gritar
De protestar quando algo vai errado
Quando a atitude incorreta impediu a alegria
A explosão descontraída
E intrinsecamente dentro da lei
Quando no peito, o seu ser se abrasa

Siga e denote ao mundo sua repulsa
Por essa vida que lhe endivida o espírito
Diante de um desgoverno que vende o País,
Deixando o povo humilhado e submisso
A um sistema financeiro predatório
Disseminando o desemprego, a violência
As injustiças, a miséria e a falta de oportunidades
Elegendo a mentira como a diretriz básica
E o ter a qualquer preço, mesmo nada sendo

Viva nesse alguém e caminhe um pouco a frente
Tenha por nome um “Zé qualquer”
Seguido por uma marca de cigarros
Ou de qualquer bebida, e assim
Conquiste o céu para seu teto
E as estrelas por lume dos seus dias

Esqueça de tudo, desapegue-se de todos
Corra livre ao encontro do vento
Desdenhando o tacão do opressor
A arrogância, o deboche, a insensibilidade e a distância
De ditadores de minorias insipientes
Calcados na velha indiferença do neoliberalismo

Pise firme na calçada dura e amoleça-a
Afundando os pés na relva fresca
Reverencie aqueles que a seu lado
Procuram o nada que não tem preço
Desprezando as rendas e as jóias
A barriga cheia nos espíritos ocos
A palavra fluente de consciências
Adúlteras, corruptas e endividadas
O riso “cinzento”, do estômago doentio e ulcerado
A mão, que a mão lhe aperta
E simultaneamente afrouxa
Pois nada lhe deixa de concreto
Nada de novo desperta em você
Ou modifica a firmeza do seu pensar
Pois nada de valor encerra

Corra mais, procure a distância
É hoje, é hora
Seus braços cansados, talvez já não ardam
Nada transpirem do entusiasmo de antanho
Corra mais e mais um pouco
Voe se possível, se as pernas fraquejarem
E talvez você veja o fim
A derrocada dos sonhos
A liberdade ultrajada, amordaçada, engodada
Encarcerada, vendida, comprada
Sepultada nos “acordes”, da lei do mais forte, mais esperto
Sob o manto de uma democracia conspurcada
Porém jamais esquecida

Esqueça
Esqueça e pare
Volte e se integre ao consumo
E ao invés do “Zé qualquer”
Você seja um “João ninguém”
Aquele que nada ve, que nada fala
Que nada sabe e por isso vive
Como um proletário comum
Nas benesses da indigência temporal
Como homem totalmente dominado
Destituído do pensar:
-          AMNÉSICO


NOTA: Esse poema obteve a 3ª colocação num Certame de Poesias, realizado na cidade de Paranavai/PR, em 1979. Assim como os dois trabalhos seguintes (Operação Natal e Prece Natalina) faz parte da obra, Miasmas do Poder e Outras Fragrâncias - 409 páginas, Volme II da trilogia A FORJA DO CINISMO, a venda através do email josepereiragondim@hotmail.com

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