Experimente ser você
Por pouco tempo, por alguns instantes
Só, sem vizinho, sem rumo, sem norte
Ser alguém
Só um simples alguém
Anônimo, incógnito entre tantos
Entre muitos que o dia-a-dia, traga e absorve
No vaivém, no fluxo e refluxo
Do passar do tempo, do passar da vida
Procure e se integre nesse alguém distante
Que você traz em si, no entanto nega, esconde
Cuja família é enorme
Preenchendo todos os lugares
Porém apenas ligados por anseios
Por idéias e ideais pendentes
Pela sede de viver livre, de gritar
De protestar quando algo vai errado
Quando a atitude incorreta impediu a alegria
A explosão descontraída
E intrinsecamente dentro da lei
Quando no peito, o seu ser se abrasa
Siga e denote ao mundo sua repulsa
Por essa vida que lhe endivida o espírito
Diante de um desgoverno que vende o País,
Deixando o povo humilhado e submisso
A um sistema financeiro predatório
Disseminando o desemprego, a violência
As injustiças, a miséria e a falta de oportunidades
Elegendo a mentira como a diretriz básica
E o ter a qualquer preço, mesmo nada sendo
Viva nesse alguém e caminhe um pouco a frente
Tenha por nome um “Zé qualquer”
Seguido por uma marca de cigarros
Ou de qualquer bebida, e assim
Conquiste o céu para seu teto
E as estrelas por lume dos seus dias
Esqueça de tudo, desapegue-se de todos
Corra livre ao encontro do vento
Desdenhando o tacão do opressor
A arrogância, o deboche, a insensibilidade e a distância
De ditadores de minorias insipientes
Calcados na velha indiferença do neoliberalismo
Pise firme na calçada dura e amoleça-a
Afundando os pés na relva fresca
Reverencie aqueles que a seu lado
Procuram o nada que não tem preço
Desprezando as rendas e as jóias
A barriga cheia nos espíritos ocos
A palavra fluente de consciências
Adúlteras, corruptas e endividadas
O riso “cinzento”, do estômago doentio e ulcerado
A mão, que a mão lhe aperta
E simultaneamente afrouxa
Pois nada lhe deixa de concreto
Nada de novo desperta em você
Ou modifica a firmeza do seu pensar
Pois nada de valor encerra
Corra mais, procure a distância
É hoje, é hora
Seus braços cansados, talvez já não ardam
Nada transpirem do entusiasmo de antanho
Corra mais e mais um pouco
Voe se possível, se as pernas fraquejarem
E talvez você veja o fim
A derrocada dos sonhos
A liberdade ultrajada, amordaçada, engodada
Encarcerada, vendida, comprada
Sepultada nos “acordes”, da lei do mais forte, mais esperto
Sob o manto de uma democracia conspurcada
Porém jamais esquecida
Esqueça
Esqueça e pare
Volte e se integre ao consumo
E ao invés do “Zé qualquer”
Você seja um “João ninguém”
Aquele que nada ve, que nada fala
Que nada sabe e por isso vive
Como um proletário comum
Nas benesses da indigência temporal
Como homem totalmente dominado
Destituído do pensar:
- AMNÉSICO
NOTA: Esse poema obteve a 3ª colocação num Certame de Poesias, realizado na cidade de Paranavai/PR, em 1979. Assim como os dois trabalhos seguintes (Operação Natal e Prece Natalina) faz parte da obra, Miasmas do Poder e Outras Fragrâncias - 409 páginas, Volme II da trilogia A FORJA DO CINISMO, a venda através do email josepereiragondim@hotmail.com
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