segunda-feira, 12 de setembro de 2011

POLÍTICA DE BASTIDORES OU CADAFALSOS



        No seu tempo de colégio, este Autor ouviu de algum acomodado professor de filosofia, ou história, a afirmação bombástica de que "a política era a arte de dirigir os povos". Todavia, não muito depois, alguém em termos de galhofa trocou a posição das letras na palavra dirigir, transformando-a em digerir, um termo aparentemente estranho dentro do contexto acima citado. Entretanto, com o passar dos anos, o "tempo e senhor da razão" foi mostrando a seus colegas de classe, e ao "mundo todo" que não participou daquela aula; como a frase modificada pela troca de posicionamento das letras de um simples vocábulo se encaixa perfeitamento no cotidiano em voga. Observando atentamente a trajetória dessa ciência inexata, qualquer observador alheio ao tema, ou bastante empolgado sobre o assunto, percebe a similitude existente entre política e religião, mormente por mexerem com o equilíbrio emocional do vulgo, proporcionando-lhe o lenitivo de coisas inexistentes na vida real, alienando sua trajetória numa vida curta e dramaticamente marcada pela espera da morte.

Nesse sentido o Autor enveredou pelo passado e resgatou alguns fatos forjados no cadinho do cinismo e paridos de uma mesma "fonte", e num momento único. Todos eles merecem uma reflexão profunda, pois como os mitos transformados em realidade no âmbito dessas Entidades, demonstram o oportunismo e a perversidade de pessoas práticas, revelando com todas as letras que "o fim justifica os meios".

         No calor da Primeira Guerra Mundial, e logo após a exaustão dos recursos financeiros que ameaçava sustar as ações contra a Alemanha, os aliados, através da Inglaterra e Franca, recorreram à instituição bancária de J.P.Morgan sediada nos Estados Unidos, transformando-a em seu agente de subscrição para os empréstimos de guerra. Viajando aos EUA conseguiram da Casa Morgan, a intermediação na venda de "bônus de guerra", o que proporcionou a arrecadação de mais de $ 1,5 bilhão de dólares para os dois países. O Banco Morgan estava eufórico com o negócio, pois como agente de contrato para os aliados (Inglaterra e França), recebia uma parte da ação quando o dinheiro saía do país como empréstimo, e novamente quando voltava para a compra de materiais e suprimentos de firmas americanas. Isso era o "mapa da mina", ou como se diz aqui no nordeste da bússola: "eles ganhavam lá e lô".

Em 1915, no entanto, a eficácia da campanha deflagrada pela marinha alemã, através dos modernos submarinos da classe U (uma arma surpresa nas operações bélicas), levou pânico aos aliados. O somatório da tonelagem de carga afundada por mês atingira um ponto crítico, comprometendo severamente o esforço de guerra da frente inimiga, mormente ingleses e franceses. O auxílio externo era imprescindivel e o engajamento dos Estados Unidos da América, no teatro de operações um fator decisivo, ou "tábua de salvação" para os briguentos.

Foi ai que a farra dos sedutores lucros do Banco Morgan foram ameaçados, vejamos. Se os aliados perdessem a guerra, quem pagaria o empréstimo de quase $ 2 bilhões de dólares? Nesse momento os credores colocaram as mãos na cabeça e perderam o sono, pois afinal de contas, o dinheiro é a mola que movimenta o mundo. Assim, Morgan e seus investidores corriam um terrível perigo, enfrentavam uma situação realmente muito séria! Segundo a sabedoria milenar, empréstimos de guerra somente são pagos quando o devedor vence, pois os derrotados (na maioria das vezes) contam mortos, arcam prejuízos e convivem com a destruição. Obviamente, e por "baixo dos panos" os mais influentes e causadores da desordem fazem acordos espúrios, alguma composição esdrúxula e conseguem voltar à cena, no mínimo como exilados políticos.

         Serenando os ânimos do seleto grupo, é aqui onde a política entra em cena, como "a arte de digerir os povos"; confira. Nessa época o embaixador americano na Inglaterra, Walter Page enviou um telegrama para o Departamento de Estado, cujo teor é o seguinte:

"A pressão dessa crise que está se aproximando, estou certo, está além da capacidade de intermediação financeira do Morgan para os governos britânico e francês... O único modo de manter nossa atual posição proeminente no comércio e evitar o pânico é declarar guerra à Alemanha..."

Nota-se, que o dinheiro não foi o único motivo a levar os EUA à guerra, uma vez, que havia o desejo da criação da Liga das Nações quando a luta acabasse, e a condição de combatente era o único modo dos americanos exercerem um destacado papel no futuro do planeta. Os únicos que dividem os despojos dos vencidos são os vitoriosos que lutam na guerra, e foi essa realidade que preencheu a imaginação de alguns políticos, entre eles o próprio Presidente Woodrow Wilson.

A entrada dos Estados Unidos no conflito foi cercada de um minucioso planejamento, uma vez que o povo americano era contra a guerra, e a eleição de Wilson ocorrera mediante a certeza de que a mesma era um assunto restrito a Europa; ledo engano! A postura de negociador assumida pelos EUA era viciada, uma vez que a proposta a ser apresentada a Alemanha era inaceitável sob todos os aspectos, pois o objetivo do suposto mediador era exatamente o contrário da paz. Quando o governo germânico rejeitasse o acordo, a mídia seria "empanturrada" com a negativa e os alemães taxados de maus, até a alma. A esse respeito, o embaixador Walter Page escreveu em suas memórias:

"...o mínimo que os aliados poderiam aceitar; que ele assumia ser inaceitável para os alemães; e que o presidente pegaria esse programa e o apresentaria para ambos os lados; quem declinasse seria responsável pela continuação da guerra... Logicamente, a fraqueza moral do esquema é que deveríamos entrar de cabeça na guerra, não com base nos méritos da causa, mas por um truque cuidadosamente planejado".

         A partir daí ianques e ingleses cuidaram na pavimentação dessa entrada triunfal dos EUA, no cenário de guerra, obviamente sob os bons fados da opinião pública americana, que previamente seria trabalhada nesse sentido. Embora não exista um registro oficial assinado sobre o assunto, três estratégias salientes foram colocadas em prática e as evidências históricas sobre as mesmas demonstram sobejamente que elas constituíam uma realidade literalmente perversa. Os alemães seriam "irritados" até não haver escolha senão atacar, e para isso o Lord do Almirantado inglês Winston Churchill, ignorando a Regra dos Cruzeiros ordenou que os navios mercantes, independente das circunstâncias, manobrassem em velocidade máxima contra os submarinos alemães, para tentar se chocar contra eles e afundá-los.

Isso eliminava qualquer distinção entre navios, pois a partir desse momento os barcos mercantes passaram a ser considerados navios de guerra, e a Alemanha abandonou a política de disparar os tiros de advertência. Na esperança de que a marinha alemã torpedeasse acidentalmente navios americanos, Churchill ordenou que as naus britânicas removessem seus nomes dos cascos e hasteasse bandeiras de países neutros, especialmente o lábaro americano. Era sua estratégia fazer todo o possível para colocar os EUA na guerra, e o afundamento de um navio americano seria uma excelente forma de conseguir esse intento.

A segunda parte da estratégia canhestra era "isolar", ou privar as futuras vítimas das informações que lhes permitissem proteger a si mesmas, uma vez, não ser possível um ataque de surpresa se as pessoas fossem antecipadamente advertidas. A fim de viabilizar a estratégia era importante que os passageiros não soubessem que o navio em que viajavam, estava transportando materiais de guerra e corria o risco de ser afundado. Em hipótese alguma eles não teriam a permissão de saber que vários pavimentos, normalmente ocupados por cabines de passageiros, tinham sido esvaziados e carregados com suprimentos para as forças armadas, inclusive munição e explosivos. Eles nunca imaginariam que estavam viajando em um depósito de munição flutuante, e a espera de serem imolados em nome da grandeza e soberania de uma doutrina e da voragem monstruosa do deus da guerra, da canalhice política. Lérias!

A terceira parte dessa inusitada e cruel estratégia era "facilitar", e isso significava tornar fácil para o inimigo atacar e ser bem sucedido. A facilitação, por incrível que pareça era diminuir a potência de deslocamento do navio, alterar a rota usual, trocando-a por uma menos transitada e mais perigosa e, principalmente, negar a nave condenada qualquer tipo de escolta. De posse de um receituário ou cardápio tão convidativo como este, faltava apenas encontrar um voluntário, a cobaia, ou selecionar a vítima, de "livre e expontânea vontade". É muita perversidade! Todavia, isso se tornou realidade quando o maior transatlântico inglês em operação na época, o Lusitania, com 240 metros de comprimento e com capacidade para 2300 passageiros e 900 tripulantes, atracou no porto de Nova York, em abril de 1915. Os fabricantes de sucessos, atualmente de plantão, trabalhando em tempo integral, exultaram com o evento; aleluia!

         A saga do Lusitania foi iniciada em 7 de julho de 1906, quando foi lançado ao mar, na condição de "carro-chefe" da linha de transatlânticos da companhia inglesa Cunard, reduzindo o tempo de viagem Liverpool/Nova York para cinco dias, navegando em uma surpreendente velocidade de 24 nós. Era um barco excepcionalmente luxuoso, dotado de salão de jantar em estilo Luis XV, sala de estar com painéis de mogno e lareira em mármore carrara. Possuía acomodações de primeira, segunda e terceira classes, sendo considerado o mais veloz e sofisticado navio de passageiros de sua época. No dia 17 de abril de 1915, partiu de Liverpool, no dia 24 atracou no porto americano e noviorquino, atingindo a marca de 101 viagens. Com a chegada do transatlântico, a Embaixada Alemã, através de um anúncio a ser publicado em cinqüenta jornais da costa leste, advertia os civis americanos a não viajar no navio, uma vez que o mesmo navegaria em águas perigosas.

Todavia, o Departamento de Estado contatou os cinqüenta jornais e solicitou enfaticamente que não publicassem o anúncio, ameaçando aqueles que ignorassem o pedido. Vários jornais desafiaram o governo e publicaram a matéria, legando à posteridade mais um ingrediente numa trama sinistra, todavia, a maioria dos passageiros não tomou conhecimento de um aviso tão importante. Nesse ínterim, o Lusitania era carregado no píer 54 do porto, recebendo uma estranha carga, que misturava inúmeras caixas de manteiga e queijo, 1638 lingotes de cobre e 51 toneladas de granadas, entre outras mercadorias. No dia 30 de abril, pouco antes do meio-dia, o capitão Turner, recebeu as instruções de viagem, e no dia seguinte, 01 de maio de 1915, o navio partiu com um carregamento variado e altamente explosivo.

        Planejado para ser convertido em navio de guerra, se necessário, o Lusitania tinha quatro caldeiras, podendo navegar rápido, o suficiente para escapar à perseguição de submarinos. Viajando com uma escolta militar à frente, tinha grandes chances de sobrevivência, uma vez que o aumento de velocidade anulava a possibilidade de ataques laterais, ou traseiro. Entretanto, para esta viagem, o comandante recebera a ordem de desligar uma das caldeiras, e o navio desenvolvia apenas 75% de sua velocidade, o que o tornava vulnerável em potencial. O cruzador inglês Juno, incumbido de escoltá-lo em águas perigosas foi chamado de volta pelo Almirantado Britânico, deixando o transatlântico sozinho e entregue ao destino.

Na manhã de 07 de maio de 1915, o coronel Edward Mandell House estava na Grã-Bretanha e anotou em seu diário, uma conversa com sir Edward Gray e com o rei George. Eles discutiram o que seria a reação do povo americano se o Lusitania fosse afundado "acidentalmente", vejamos: "Eu disse a sir Gray que se isto fosse feito, uma chama de indignação varreria a América e nos levaria a entrar na guerra".

Sobre o coronel House torna-se de bom alvitre cientificar o leitor, a respeito de alguns detalhes sobre o mesmo. Inicialmente não era um militar, e esse título honorário fora-lhe concedido pelo governo do Texas, por serviços prestados. Não tinha mandato político, no entanto, na condição de assessor particular do Presidente, tinha a sua disposição duas salas na ala norte da Casa Branca. Por ocasião da última campanha presidencial teve atuação decisiva na escolha de Wilson, fazendo os contatos que culminaram com a eleição do amigo. Na condição de formidável "eminência parda" foi citada por Woodrow Wilson em suas memórias, através do seguinte comentário: "House é minha segunda personalidade; ele é meu ego independente. Seus pensamentos e os meus são iguais".

Quatro horas depois do encontro entre o famoso coronel House, sir Gray e o Rei George, o Lusitania entrou na zona de guerra em que sabidamente os submarinos alemães patrulhavam. Navegando sem escolta recebeu uma mensagem em código do almirante Coke, ordenando que desviasse para Queenstown, o que facilitou as coisas para o submarino alemão U-20, caçando nessa área. Era como se as duas embarcações tivessem marcado um encontro no mar, todavia, o Almirantado Britânico nega a expedição de tal comunicado, apesar da evidência de uma cópia idêntica da estação naval de Valentina. Coroando essa série de desencontros o navio foi interceptado pela nau alemã e atingido por um torpedo de 150 quilos, às 14h09 do dia 07 de maio de 1915, afundando em exatos 18 minutos. No diário de bordo do U-20, o comandante Schwieger descreveu o ocorrido, minuciosamente:

"Ouve-se uma detonação forte e se ergue uma nuvem enorme. A explosão do torpedo deve ter sido seguida por outra. Talvez a caldeira, carvão ou pólvora. A superestrutura, acima do ponto de impacto, e a ponte foram despedaçadas. O fogo irrompe e a fumaça envolve a ponte superior. O navio pára e aderna rapidamente para boreste, afundando simultaneamente na proa. A impressão é de que afundará em poucos minutos. Os botes salva-vidas são arriados e alguns chegam até a água. Há grande pânico. Alguns botes lotados são arriados rapidamente. Caem na água de proa ou popa e afundam".

A segunda explosão relatada foi a que arrancou a maior parte do fundo da proa do navio. Seria o carregamento de granadas ou o conteúdo duvidoso das caixas de manteiga e queijo? Sabe-se apenas que o Lusitania afundou, levando consigo 1901 vítimas, das quais, 128 eram cidadãos americanos, pois os barcos de resgate, inexplicavelmente demoraram mais de duas horas para chegar ao local, apesar da proximidade da costa irlandesa. A exploração dos destroços do transatlântico realizada posteriormente demonstrou que o mesmo foi palco de uma grande explosão, ocorrida de dentro para fora.

Algo no interior da nave explodiu com uma força tremenda, e o grande navio afundou em poucos minutos. Agora, os estrategistas tinham finalmente seu motivo. "Foi um ato covarde de alemães briguentos que afundam navios com civis inocentes a bordo." A chama da indignação fora acesa e rapidamente espalhou-se por toda América, levando-a a guerra em 16 de abril de 1917, sob as benções da maior parte da população. Imediatamente o Congresso autorizou o envio de $1 bilhão de dólares do contribuinte, para a Grã-Bretanha e França, e destinados a financiar o esforço de guerra. A maior parte desse dinheiro, senão todo montante foi imediatamente aplicado à dívida junto a Casa Morgan. Aleluia!

O afundamento do Lusitania foi o evento que unificou a opinião do povo americano, no que tange a aceitação, a necessidade e a moralidade de se entrar na Primeira Guerra Mundial. Antes desse "sinistro" havia grande relutância em participar de uma guerra que nada tinha a ver com os interesses nacionais. A catástofre moveu a consciência da massa para uma disposição mental guerreira contra a Alemanha. Todavia, sobressaindo-se desse clima de histeria geral, o articulista Colin Simpson, do jornal londrino Sunday Times, declarou que o navio inglês, teria sido voluntariamente entregue "de mão beijada", no começo da Primeira Guerra Mundial, pelo próprio Almirantado Britânico aos torpedos do submarino alemão U-20, num episódio que mudou os rumos da história. 

De acordo com o jornalista, o "sacrifício" desse barco era o chamariz de que precisavam os ingleses para atrair a participação dos Estados Unidos, até então um país neutro, como aliado na guerra. A armadilha inglesa, afirmou Colin Simpson, deu certo e, Lorde Mersey, que na época presidiu o nebuloso inquérito sobre o afundamento do Lusitania, não teve qualquer dúvida a respeito: "Foi um negócio sujo do começo ao fim", comentou, com repulsa. Depois da análise rápida de acontecimentos desse naipe, fica bastante difícil às pessoas simples e mortais, como este Autor, digerir sem náuseas a versão corrente da destruição das torres gêmeas do World Trade Center, bem como o afundamento do Baependí, na costa brasileira. Esses fatos têm em si algo em comum, galvanizando a curiosidade do pesquisador, em qualquer época, uma vez bradarem por justiça. AMÉM!


Nota: Esse ensaio faz parte da obra - Política, Religião e História, 542 páginas, o Volume I da trilogia: Jesus e o Cristianismo, a venda pelo email josepereiragondim@hotmail.com

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